Indígenas interceptam balsas no rio Tapajós e cobram fim da Ferrogrão
Roberto Aguiar, direto de Belém (PA) | Cobertura Especial Cúpula dos Povos/COP 30
Enquanto os presidentes de diversos países faziam discursos vazios na Cúpula do Clima em Belém (PA), evento que antecede a COP 30, mais de 300 indígenas e movimentos sociais realizaram na manhã de hoje (7) o 8º Grito Ancestral no rio Tapajós, no Baixo Tapajós (PA).
Como parte do evento, foi realizada uma ação direta em barcaças que transportam cargas em protesto contra o avanço das hidrovias do Arco Norte e do projeto da Ferrogrão (EF-170). O protesto foi realizado dentro do Território Tupinambá, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns.
Três comboios de barcaças foram cercados por cinco horas. Quatro embarcações de apoio e seis lanchas ocuparam a área de navegação. Indígenas subiram nas estruturas com faixas com os dizeres: “Ferrogrão Não”, “Comida sem veneno” e “O agro passa, a destruição fica”.
A manifestação passou um forte recado de denúncia dos povos do Cerrado e Amazônia sobre os impactos da rota de exportação de grãos sobre o rio, a pesca, o território e a vida comunitária.
Marília Sena, liderança Tupinambá, pontuou que “o Grito Ancestral é um recado aos líderes do mundo. Não queremos que nossos biomas sejam vistos só como mercado, como corredor de soja, porto ou ferrovia. Queremos que vejam os povos que estão aqui há séculos, cuidando da floresta e do rio. Preservar o Tapajós é condição para qualquer compromisso climático sério”.
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Governo Lula avança a catástrofe ambiental
Lula faz discurso bonito nos fóruns da ONU e em entrevistas à imprensa, mas a prática do seu governo vai no sentido oposto de suas falas. O petista avança com projetos que favorecem os latifundiários, petrolíferas e as mineradoras. Projetos que irão avançar a catástrofe ambiental.
Enquanto o Brasil chega aos fóruns globais vestindo o manto ambiental, a prática continua sendo de políticas atreladas a um modelo extrativista que ignora a ciência e aprofunda a dependência do país.
Veja alguns desses projetos:
– Ferrogrão: apresentada como solução logística, é uma ferrovia que ligará Sinop (MT) a
Miritituba (PA). Na visão de especialistas será um vetor de devastação. O traço ferroviário deve pressionar terras indígenas, unidades de conservação e ampliar o desmatamento em regiões críticas, além de causar erosão e poluição generalizada.
– BR-319: no coração da Amazônia, o governo insiste no asfaltamento da BR-319, rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). A história já mostrou que estradas na
região funcionam como artérias de desmatamento, abrindo caminho para grileiros, madeireiros e pecuaristas. E os efeitos já são mensuráveis: após a defesa pública da obra por Lula, o desmatamento no entorno da estrada aumentou 85,2% entre setembro e dezembro de 2024, na comparação com igual período de 2023.
– Hidrovias: no dia 29 de setembro deste ano, o governo publicou decreto concedendo à iniciativa privada as hidrovias dos rios Madeira, Tocantins e Tapajós, três dos mais importantes cursos d’água da Amazônia. A medida tende a acelerar o assoreamento, a
poluição hídrica e o impacto sobre comunidades ribeirinhas, transformando rios em corredores de commodity.
– Petróleo: Lula tornou-se um dos maiores entusiastas da exploração de petróleo na Margem Equatorial, fronteira marítima que se estende pela costa amazônica. Os números dessa aposta são perigosos: caso todo o petróleo da região seja extraído e queimado, serão lançadas na atmosfera entre 4 e 13 bilhões de toneladas de CO2 – volume equivalente às emissões somadas de Estados Unidos e China em 2020. O risco, porém, não se resume às mudanças climáticas. Um eventual vazamento ameaçaria a chamada Amazônia Azul, região de manguezais mais extensa do planeta, vital para pescadores e comunidades tradicionais. Um detalhe: os manguezais têm capacidade de absorver o dobro de carbono que uma floresta tropical. A exploração do petróleo na região só vai servir às grandes petroleiras internacionais e aos acionistas estrangeiros da Petrobras, que embolsam a renda petrolífera do país.
Todos esses temas estão presentes em nosso encarte especial sobre o meio ambiente e a COP 30. Leia e baixe sua versão em PDF aqui.
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