Isolamento internacional de Israel se aprofunda em meio a genocídio
Com a brutalidade do genocídio em Gaza, que já dura cerca de seis meses, caíram as máscaras do Estado racista de Israel e seus aliados. E a cara revelada é tenebrosa. Isso tem levado a crises sem precedentes entre o decadente imperialismo dos Estados Unidos e seu enclave militar (Israel), que enfrenta crescente isolamento internacional.
Protestos gigantescos e incessantes tomam o mundo. No coração do imperialismo – os EUA – eles têm provocado abalos importantes, muito embora não ao ponto de os Estados Unidos cessarem a ajuda bilionária, em armas, para Israel seguir com o genocídio, ou a retórica a favor de seu enclave militar.
Isto tudo por razões óbvias: quanto mais ameaçado seu projeto colonial, mais brutal ele se torna, para tentar sobreviver. E se for derrotado, os interesses do imperialismo na região rica em petróleo estarão ameaçados.
Resolução do Conselho de Segurança da ONU
Mas a crise é tanta que obrigou os EUA a se absterem no Conselho de Segurança das Nações Unidas e permitirem que uma resolução de cessar-fogo em Gaza passasse, no dia 25 de março último. Todos os outros 14 países votaram a favor.
Depois disto, Netanyahu cancelou uma visita aos EUA, evidenciando a crise aberta entre o monstro e seu criador. Não pelas vidas palestinas, mas pelos cálculos políticos de um e de outro. Netanyahu sabe que, se parar o genocídio, cairá imediatamente e possivelmente será preso.
Crimes contra a humanidade
Logicamente, a resolução de cessar-fogo não impediu que Israel seguisse com as atrocidades. Mas, é mais um elemento de pressão e denúncia, ao lado do desrespeito sionista às medidas determinadas pela Corte Internacional de Justiça, ao considerar plausível a ação movida pela África do Sul, pelo crime de genocídio, contra Israel.
Ação está que teve o apoio de 70 países, dentre os quais o Brasil. E sem passos efetivos para parar o genocídio, estes que são signatários da Convenção de Repressão e Prevenção do Genocídio, também são pressionados, uma vez que podem ser responsabilizados pelo crime contra a humanidade. Já estão sendo, nas ruas.
Lula, rompa com Israel!
No Brasil, a exigência de ruptura de relações com o Estado sionista se eleva. A demanda do movimento de solidariedade é que Lula dê esse passo fundamental, sendo coerente com seu reconhecimento de que milhões de palestinos em Gaza estão submetidos a um genocídio.
Lamentavelmente, contudo, o Brasil está bem distante disso. Além de manter a posição vergonhosa de quinto maior importador de tecnologia militar israelense, a Força Aérea Brasileira anunciou novo contrato, sem licitação, com a “Israel Aerospace Industries” (indústria aeroespacial israelense) para manutenção e fornecimento de peças aos veículos aéreos não tripulados adquiridos pelo Brasil, da mesma empresa, em 2009, durante o segundo governo Lula.
Esses drones, que carregam até 490 kg, estão implicados em todos os massacres a Gaza e no genocídio atual.
Fúria
Na Jordânia, Embaixada foi cercada
Também os regimes árabes enfrentam a pressão crescente das ruas. A estabilidade na região está ameaçada. Em Amman, capital da Jordânia, já são mais de oito dias de protestos gigantescos em um cerco à Embaixada de Israel, para exigir da monarquia o fim do “acordo de paz” com o Estado sionista, firmado em 1994. Uma das manifestações reuniu milhares de mulheres.
O regime, no entanto, não tomou outras medidas efetivas contra o Estado sionista. E, ainda, tem respondido com repressão aos protestos. A história mostra que isso tem potencial para explosão social. Ainda mais nesse país árabe, em que 70% da população é de origem palestina.
Repressão pode detonar explosão social
Segundo a ONG de direitos humanos “Human Rights Watch”, ali, desde o começo de outubro de 2023, centenas de pessoas já foram presas por se manifestarem contra o genocídio. As prisões se dão a partir de uma lei repressiva contra “crimes cibernéticos”, aprovada em agosto do ano passado.
Muitas das detenções ocorreram após manifestantes postarem imagens de sua participação nos protestos nas redes sociais. Isso, contudo, não tem intimidado a revolta contra a carnificina em Gaza. Agora, o protesto se volta contra o próprio regime, exigindo o fechamento da Embaixada e o fim da normalização com Israel.
Na tentativa de conter a crise, o regime jordaniano endureceu o discurso em relação a Israel e chegou a retirar seu embaixador de Tel Aviv. Mas, na verdade, como aponta reportagem do portal “Business Standard”, a Jordânia chegou a votar contra o corte de relações com Israel em um encontro da Liga Árabe, no mês de novembro, ao lado de Egito, Arábia Saudita, Marrocos, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Bahrein. A eles se juntaram, ainda, a Mauritânia e Djibuti.
Egito
Protestos contra uma ditadura que colabora com Israel
O Egito foi o primeiro país da região a normalizar as relações com Israel, em 1979, como desdobramento dos Acordos de Camp David (EUA), através dos quais o Estado sionista devolveu o Sinai ao país árabe. Israel também havia ocupado o Sinai militarmente, em 1967, juntamente com os territórios palestinos de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, e as Colinas de Golã, na Síria.
A população egípcia tem denunciado essa cumplicidade e desafiado o medo da repressão nesse país, onde, na onda das revoluções que marcaram a região, a partir do final de 2010, se chegou a derrubar o ditador Hosni Mubarak, mas outro tirano, o general al-Sissi, ainda mais brutal, retomou o poder.
Num ato em frente ao Sindicato dos Jornalistas do Cairo, em 29 de março, a denúncia dos inimigos da causa palestina foi feita abertamente por meio de jogral: “Nossos líderes, covardes! Sionistas são nossos inimigos! Eles batem e estupram nossas mulheres! Nossos líderes, em sua corrupção! Eles estupram as mulheres da Palestina! Oh, líderes da desgraça! Onde estão sua honra e nobreza? Onde estão sua honra e dignidade? (…). Oh líderes da desgraça, não queremos seu dinheiro. Amanhã o povo egípcio vai esmagar vocês! (…) Amanhã o povo árabe vai esmagar vocês!”
A revolta contra a “arma da fome” israelense
Também tem havido protestos na fronteira com Gaza e ações voluntárias para tentar fornecer alguma ajuda humanitária aos palestinos enclausurados na estreita faixa. Muitos egípcios estão revoltados com o cerco imposto, enquanto os palestinos são trucidados e passam fome.
Ajuda humanitária apodrece na fronteira, enquanto a insegurança alimentar aguda ameaça toda a população de Gaza: 2,4 milhões pessoas. Todos os dias, cenas de crianças esqueléticas, lutando pela vida, nos chocam nos noticiários. A “arma da fome” israelense já matou cerca de 30 palestinos, dentre os quais aproximadamente 25 crianças.
Sob o título “O Egito traiu os palestinos em um momento de maior necessidade”, um artigo publicado, em 31 de março, no “Truthout” um portal independente de notícias, nos EUA, destacou: “Mais do que outras nações árabes, o Egito tem uma responsabilidade histórica, política e humanitária, para com os palestinos em Gaza. Afinal, é o único país árabe que partilha fronteiras com Gaza, enquanto a sua população sofre com guerra, fome e genocídio”.
“Não é de surpreender, porém, que a relação do Egito com Gaza não seja simples. O Egito demonstrou solidariedade retórica com os palestinos, mas agiu simultaneamente em cumplicidade com os EUA, Israel e outros autocratas árabes nas suas campanhas contra os palestinos. Os líderes egípcios fazem declarações constantes sobre a fome e a crise humanitária em Gaza, embora não tomem medidas radicais para praticar esta solidariedade.”, concluiu o artigo.
Apesar da retórica de que a fronteira em Rafah está permanentemente aberta, o controle israelense para entrada ou saída, seja de mercadorias ou pessoas, é rígido. E, durante o genocídio, o Egito reforçou a cerca que separa Gaza. Quem tenta atravessar a fronteira precisa pagar propinas que variam de cinco até 12 mil dólares.
Reportagens ainda dão conta de que há até uma empresa responsável por receber o pagamento, a “Hala Consulting and Tourism”, de propriedade de Ibrahim al-Arjani, um miliciano pró-regime egípcio e próximo do clã al-Sissi, com vínculos com os militares.
Mais protestos
Fúria contra o sionismo
Em outros países do Oriente Médio e Norte da África, os protestos também estão crescendo, como no Iraque, Bahrein, Líbano, Marrocos e Tunísia, onde, há alguns meses, houve tentativa de invadir a Embaixada da França. Já no Iêmen, que tem bloqueado a passagem de navios no Mar Vermelho desde o início do genocídio, os protestos que tomam as ruas não cessam.
Até mesmo nos Emirados Árabes Unidos, onde a população não ousa ir para às ruas e cujo regime não tem qualquer constrangimento em manter a normalização com Israel a partir dos chamados Acordos de Abraão, em 2020, têm havido vozes dissonantes e internamente as tensões têm crescido.
O plano de normalização das relações da Arábia Saudita com Israel, que estava sob a mesa até 7 de outubro de 2023, também enfrenta dificuldades para ser concretizado nesse cenário.
Para que todos sejam livres
Lutar contra o genocídio é lutar pela humanidade
Estados cúmplices em todo o mundo também têm sido chacoalhados por protestos gigantescos e incansáveis, bem como denúncias que não cessam, a partir da resistência palestina.
Essa resistência heroica e histórica do povo palestino, sob todos os meios, é inspiração para os oprimidos e explorados. Não esmorece, não se dobra, não permite que se normalize, esqueça ou ignore o genocídio, como parte da nova fase da contínua Nakba – a catástrofe palestina, cuja pedra fundamental é a formação do Estado racista e colonial de Israel em 15 de maio de 1948.
Uma nova fase na qual o regime sionista se sentiu avalizado pela cumplicidade internacional histórica e os bilhões de dólares do imperialismo estadunidense, além das armas dos imperialismos europeus, a buscar sua “solução final”: erradicar os palestinos. Mas esse passo derrubou sua máscara. Como afirma o historiador israelense Ilan Pappé, é o início do fim do regime sionista.
A resistência palestina recolocou, definitivamente, a causa palestina na pauta das grandes mobilizações do século 21, demonstrando que essa é a luta central da humanidade, a luta dos oprimidos e explorados, em todo o mundo, para que todos sejam livres. A tarefa da solidariedade internacional é acelerar e aprofundar o isolamento sionista, exigindo o fim de toda cumplicidade.
Infelizmente, o sacrifício é gigantesco, mas o povo palestino – em sua firmeza, persistência e resiliência, como parte da resistência (“sumud”, em árabe) – se recusa a ser apagado do mapa. E não será. Até a Palestina ser livre, do rio ao mar.