Luta contra as demissões no Metro privatizado de SP
Ocorreu segunda (24/07) na sede do Sindicato dos Metroviários na Zona Leste, uma reunião entre representantes das 140 trabalhadoras do setor da limpeza da ViaQuatro (empresa responsável pela linha amarela, privada, do metro), com apoio do sindicato dos metroviários. A reunião foi para cobrar a empresa frente a demissão de 140 funcionárias e funcionários da limpeza.
Por meio de nota, a ViaQuatro informou que desde 15 de julho, a empresa GPS passou a ser responsável pelo serviço de higiene das estações, após terceirização do setor. Também há relatos de racismo dentro da empresa e demissão de muitas trabalhadoras com doenças ocupacionais, acidentes de trabalho ou que estavam no meio de outros tratamentos de saúde.
“Trabalhei 6 anos na estação Higienópolis. Houve diversas covardias conosco, de casos de racismo cotidianos até a demissão de colegas doentes. Fomos demitidas da noite para o dia e recebemos nossos pertences em sacos de lixo, com nossos armários arrombados. Foi uma atitude muito cruel”, conta Adriana, integrante do movimento das funcionárias.
A empresa mente!
Uma das maiores preocupações da ViaQuatro é não deixar transparecer para fora a forma truculenta como essas trabalhadoras foram tratadas, porque querem manter a imagem de uma empresa que zela por seus trabalhadores e pela população.
Propagandeada como moderna, a linha 4-amarela tem em seu histórico flagrantes desrespeitos ao trabalhador da cidade. Basta lembrar que antes mesmo de sua inauguração, em janeiro de 2007, as obras para a estação Pinheiros cederam em uma enorme cratera, com sete vítimas fatais e 79 famílias removidas. Muitas ainda sequer receberam o total de suas indenizações.
Semana passada (21), uma pane elétrica causou atraso de mais de 30 minutos entre as estações para o desembarque em pleno horário de pico. Isso significa horas a mais no retorno para a casa, preso em vagões lotados sem sequer luz elétrica em boa parte do trajeto. Seria o cenário perfeito para um filme de terror, se não fosse somente a realidade da população paulistana.
Como foram as negociações
As trabalhadoras aceitaram proposta, onde irão receber durante três meses vr, va e plano de saúde. A proposta inicial foi de que quem começasse em um novo emprego, esses benefícios seriam cortados, mas junto com o sindicato e as trabalhadoras, foi conquistado e garantido esses três meses.
Importante deixar bem claro que esse acordo é muito pouco frente ao ataque que representou essas demissões. Entretanto, esses direitos mínimos não estariam garantidos sem a mobilização e luta das trabalhadoras. “Se não fosse o sindicato, não teríamos conquistado o que teríamos hoje. Temos que nos unir, pois para eles, quem cuida da higiene não é nada. A CCR – Consórcio que administra a ViaQuatro – nunca pensou que fossemos capazes de organizar uma manifestação”, conta Adriana.
“Eles não são burros. Não faz sentido a CCR gastar mais dinheiro para ter novos funcionários. O que ela quer é encher o bolso da empresa terceirizada, que vai ganhar dinheiro em cima delas para ferrar a trabalhadora quando tiver oportunidade”, comenta Altino, da diretoria dos metroviários de SP.
“Nós somos os explorados e eles os exploradores. O que tem que ficar claro é que estamos sendo roubados diariamente, enquanto essas empresas só lucram. Ou seja, a luta tem que ser sempre para além da pauta econômica.” Completa.
Tarcísio quer aumentar as privatizações!
A empresa CCR hoje é controladora da ViaQuatro, além de ser parte do consórcio administrador da ViaMobilidade, que opera as linhas 5 (metro, lilás) 8 e 9 (trens urbanos, diamante e turquesa). O governo do estado, desde a gestão anterior do PSDB – com Alckmin no governo do estado por mais de dez anos – tem fatiado o sistema de transporte sobre trilhos, sempre entregando a gestão para os mesmos setores da burguesia, e garantindo para elas um valor por passageiros maior que o do metrô e trem públicos.
O governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) já disse que quer privatizar todo o sistema metroferroviário. Outro alvo é a Sabesp, responsável por todo o sistema de saneamento básico no estado.
Segundo o Sindicato dos trabalhadores em água, esgoto e meio ambiente do estado de São Paulo (Sintaema-SP), quando comparado a outras capitais que já tem o sistema de água nas mãos da iniciativa privada, como o Rio de Janeiro, a tarifa de São Paulo é até 34% mais barata. Além disso, a precarização do serviço pode significar o fim da tarifa social, modalidade que garante a taxação mais barata para quem não tem condições de arcar com o valor cheio.
Em ato realizado domingo (23) contra os planos de Tarcísio, a CSP Conlutas pontuou a necessidade da classe trabalhadora se unir cada vez mais em uma alternativa independente dos governos contra as privatizações.
“Para a periferia, como onde dou aula no Capão Redondo, pouco importa se quem está privatizando é de esquerda ou direita, porque somos os primeiros afetados por essa política. Em Belo Horizonte, onde a privatização do metrô foi assinada pelo PT, quem está sofrendo primeiro é o trabalhador longe das regiões centrais. Então não podemos contar com nenhum governo, mas sim com a nossa união para ir contra as privatizações, que só pioram nossas vidas”, disse Eduardo Silva, professor da rede estadual na região sul de São Paulo.
“Não somos nós que temos que sustentar esses governos e empresários que vivem a custa do nosso trabalho e da nossa produção. Nós precisamos construir uma sociedade onde quem ganha de verdade são aqueles que trabalham!”, completou Altino.