Maioria dos petroleiros, organizada nos sindicatos ligados à FNP, rejeitam proposta rebaixada da empresa e se mantém em greve
Apesar do indicativo da FUP, base do sindicato do Norte Fluminense, ligado a esta federação, votou pela rejeição e continuidade da greve
A greve dos petroleiros entrou, neste sábado, em seu 13º dia, com trabalhadores de todo o Brasil mobilizados em uma luta justa e necessária. A categoria reivindica recomposição salarial, recuperação de direitos atacados ao longo dos últimos anos, iniciados no governo Bolsonaro e mantidos no governo Lula, além de um reajuste real, que garanta também os direitos dos aposentados, duramente afetados pelo rombo da Petros (fundo de previdência privada).
Esta greve se enfrenta, em primeiro lugar, com a direção da Petrobras. A empresa adota uma política que prioriza o pagamento de dividendos bilionários aos acionistas. Somente nos últimos 5 anos foram mais de R$ 427 bilhões pagos em dividendos, enquanto se recusa a atender reivindicações básicas dos trabalhadores. Trata-se de uma política que mantém o Brasil submisso ao imperialismo, concentrando a produção em petróleo cru, aprofundando a dependência externa, não garantindo a autossuficiência em combustíveis e perpetuando preços elevados para a população.
Em vez de servir ao desenvolvimento nacional, investir em transição energética, atuando de acordo aos interesses do povo brasileiro, a Petrobras opera para enriquecer uma minoria de acionistas, majoritariamente estrangeiros, além de grandes bilionários nacionais. A greve já arrancou algumas concessões, mas que são insuficientes e rebaixadas. Após intensa mobilização, a empresa oferece apenas 0,5% de reajuste real, deixando de fora uma série de pautas centrais apresentadas pela categoria.
A greve tem força para conquistar muito mais. A intransigência da direção da empresa demonstra o temor diante de uma paralisação que é forte, enraizada na base e estratégica para o país. Por isso, a Petrobras recorre agora à judicialização da greve, tentando retomar a produção a qualquer custo, sem atender às demandas urgentes dos trabalhadores.
O papel do governo e a correlação de forças
A política adotada pela direção da Petrobras não surgiu por acaso. Essa diretoria foi escolhida pelo governo Lula, e nada do que acontece na empresa se dá à revelia do Planalto. O Governo Federal é responsável direto pela recusa em ceder às reivindicações dos petroleiros em greve.
Durante a campanha eleitoral, Lula prometeu enfrentar a direita e governar em favor dos trabalhadores. No entanto, o que se vê na prática é o oposto. O governo governa em aliança com a direita, com o centrão e com os interesses do grande capital, enquanto vira as costas para uma greve forte, legítima e heroica, realizada inclusive durante o período de Natal.
O governo e o PT costumam justificar essa política afirmando que não há correlação de forças para avançar em favor do povo. Mas cabe a pergunta: com uma forte greve nacional em uma empresa controlada pelo próprio governo, realmente não há correlação de forças para atender às justas reivindicações dos trabalhadores?
A resposta é evidente. Há correlação de forças, sim. O que falta é vontade política. O compromisso do governo é com os acionistas privados e estrangeiros, com o chamado mercado e com os grandes capitalistas. Trata-se, na prática, da manutenção de uma política econômica nos marcos neoliberais e capitalistas, apesar do discurso supostamente progressista.
É verdade que a extrema direita representa uma ameaça real, que o bolsonarismo foi um enorme retrocesso para os petroleiros e que aprofundou ainda mais a privatização da Petrobras. É verdade também que o Congresso Nacional, dominado pelo centrão e pela direita, é inimigo do povo. Mas também é verdade que o governo Lula não atua como aliado da classe trabalhadora. Ao governar em aliança com a direita e administrar a Petrobras a serviço dos acionistas, o governo acaba fortalecendo a extrema direita. Assim como também é verdade que a Petrobras segue sendo privatizada paulatinamente ao longo dos anos e governos.
O papel da FUP e a condução da greve
Dentro do movimento sindical há setores que defendem o mesmo projeto político do governo Lula e, por isso, atuam para encerrar a greve justamente no momento em que ela se fortalece. Aceitam um acordo rebaixado e tentam impor à base uma desmobilização que atende aos interesses da empresa e do governo.
Esse papel da FUP (Federação Única dos Petroleiros) não é novidade para os petroleiros. O elemento novo nesta greve é que a maior base desta federação, na assembleia do Sindipetro do Norte Fluminense, rejeitou o acordo com a Petrobras, mesmo diante do indicativo de aprovação da FUP.
A imprensa governista corre para afirmar que a maioria dos sindicatos aceitou a proposta. O que não dizem é que essa maioria não representa a maior parte da categoria. Os sindicatos da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros) que seguem em greve, junto com o Norte Fluminense, são os quatro maiores sindicatos petroleiros do país, responsáveis por mais de 80% da produção de petróleo. Ao contrário do que tenta fazer parecer a imprensa, a maioria real da categoria, cerca de 60%, rejeita a proposta e o indicativo da FUP. A CSP-Conlutas, ao contrário da CUT e da FUP, está na linha de frente na luta dos petroleiros, contra o acordo rebaixado que os setores governistas tentam impor ao conjunto da categoria.
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Uma vitória que pode impulsionar todos os trabalhadores
A greve entra agora em um momento decisivo, sofrendo ataques da empresa, do governo e também do Judiciário. Justamente por isso, é fundamental ampliar a solidariedade aos petroleiros em greve.
A vitória desta greve terá um impacto que vai muito além da categoria petroleira. Ela fortalecerá a luta de todos os trabalhadores, em todas as empresas e setores, contra os ataques dos grandes grupos capitalistas e contra os governos federais, estaduais e municipais que governam a serviço desses interesses.
Será também um recado contundente contra a extrema direita, demonstrando a força de trabalhadores organizados que não se rendem nem mesmo àqueles que se apresentam como amigos, mas governam aliados ao capital. E continuarão lutando pela reestatização da empresa a serviço dos trabalhadores.
Uma vitória dos petroleiros contra a direção da Petrobras, contra o governo e contra o sindicalismo pelego da direção da FUP será uma demonstração concreta da força de um sindicalismo independente dos patrões e governos, baseado na democracia operária e na organização de base.
Um sindicalismo capaz não apenas de paralisar a maior empresa do país, mas que demonstra a potencialidade do poder dos trabalhadores de controlar não só a produção, o Estado e a sociedade de forma radicalmente diferente da lógica capitalista. Uma sociedade em que os direitos dos trabalhadores sejam garantidos e em que não exista um punhado de bilionários sugando riquezas produzidas coletivamente por quem trabalha.