Meio ambiente

Manaus: Com as chuvas fica evidente o descaso dos governos com a vida do povo

PSTU-AM

14 de março de 2025
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De com o Cemaden, Manaus lidera o número de alertas naturais | Foto: Divulgação

| por Alexandre Neves

A ameaça do inverno amazônico

Com as fortes chuvas do inverno amazônico, a população de Manaus sofre as consequências de um planejamento urbano que ignora e põe em risco a vida da parcela mais pobre da capital amazonense. Como podemos ver nos noticiários, o cotidiano de chuvas intensas tem deixado um rastro de problemas que tornam a vida da população cada vez mais crítica. Deslizamentos de terra, riscos de desabamento e alagações são as situações esperadas frente a uma cidade que cresce privilegiando a elite, sem um plano político de moradia e habitação condizentes com a dignidade daqueles e daquelas que produzem a riqueza da cidade: pessoas da classe trabalhadora.

Todas as regiões de Manaus passaram por problemas relacionados às fortes chuvas e às condições de moradia. Isso demonstra como a quinta capital mais rica do país concentra sua riqueza para o privilégio de poucos, enquanto a maioria fica sujeita às péssimas condições impostas pela burguesia manauara.

Em um domingo de 19 de janeiro deste ano, Manaus foi palco de uma tragédia que mostra bem os elementos de barbárie que vivemos: Jeferson Araújo Pereira, de 30 anos, e Ester Amorim, de 8, pai e filha, estavam desaparecidos após um deslizamento de terra. Foram encontrados sem vida. Os corpos foram encontrados por volta das 23 horas pelo Corpo de Bombeiros. Na mesma residência estavam Jhuliana Amorim, de 27 anos, e Mateus Amorim, de 16. Ambos sobreviveram ao desastre, com Jhuliana tendo perdido a perna direita. Até as últimas informações, ela segue internada. Mateus teve suas duas pernas quebradas.

Tragédias que se repetem

Quem são os responsáveis? Os mesmos de sempre: o poder público municipal, estadual e federal que nada fazem pela população que sustenta a riqueza das cidades, dos estados e do país. São os mesmos responsáveis pela tragédia anunciada na manhã do dia 12 de março de 2023, que alertou os órgãos competentes do perigo da tragédia que acabou se concretizando na madrugada daquela noite. O trágico resultado: oito pessoas morreram e 20 famílias ficaram desabrigadas, como denunciamos em publicação do Opinião Socialista daquele fatídico dia. Esse é mais um exemplo melancólico que escancara a dimensão absurda do nosso abismo social.

Os ricos e poderosos não se contentam em sugar do nosso suor, do nosso trabalho e das nossas vidas, eles também contribuem para o aprofundamento da miséria e da piora das nossas condições materiais, nos levando até a arriscar nossas vidas para termos onde dormir e onde formar nossa base familiar.

Como políticos tão defensores da família tradicional não movem um dedo para desafogar a classe trabalhadora da miséria que lhe é imposta no lar, nas compras do mês, no desemprego e na exploração capitalista? Como a quinta capital mais rica do país não é capaz de melhorar as condições de vida de sua população?

A resposta se revela quando vemos as prioridades de cada governo, que colocam a classe trabalhadora cada vez mais relegada à própria sorte, sem amparo daqueles que nós próprios sustentamos com nosso trabalho e nossos impostos. O resultado catastrófico desse tipo de sistema é o pior possível, a piora das condições de vida da classe trabalhadora, o que pode levar à morte. Agora, recentemente, como um pai e uma filha, e como foi há dois anos com oito pessoas. A tendência é que isso volte a ocorrer e todos já sabem, mas o poder público, como sempre, ignora.

A população tem motivo para revolta!

No dia 13 de janeiro deste ano, numa tarde de segunda-feira, moradores do Mauazinho, bairro da Zona Leste de Manaus, foram às ruas para cobrar melhores condições de moradia. Com faixas que diziam: “Perdi minha casa por causa de bueiro/Meu sonho acabou e Não quero auxílio/Quero minha casa de volta prefeito”, podemos ver como é importante esse tipo de ação de protesto orientada de forma orgânica, com um objetivo em mente e com críticas baseadas unicamente na realidade. A população está cansada, não quer mais viver ameaçada pela insegurança, pelas péssimas condições de moradia, pela violência policial e pela proliferação das milícias e do crime organizado, que em muito são relacionados ao Estado.

Os principais alvos da repressão estatal e do planejamento urbano desordenado no Amazonas são as pessoas pobres, negras e indígenas, que vivem nas ocupações, nos bairros periféricos da capital e nos municípios do interior, sendo essas as pessoas que devem se organizar cada vez mais em seus diferentes setores e cobrar de forma consequente a dignidade que lhes é roubada.

Os dados também mostram o porquê de nos manifestarmos: em todo país, Manaus lidera o número de alertas naturais. Como aponta o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). No ano de 2024, nenhuma outra cidade emitiu mais alertas que a capital amazonense: 50. Foi seguida de Belo Horizonte e São Paulo, ambas com 41 alertas. A certeza das chuvas vem acompanhada da certeza dos desastres, que é o que mais temos visto nos últimos tempos, e não é algo recente, é algo que piora cada vez mais. Com o caos do capitalismo destruindo cada vez mais o planeta, a expectativa é que passemos por situações piores, com diferenças nos períodos da chuva, com o aumento do calor. Ao mesmo tempo, as condições de vida da população só pioram, com salários baixos e um nível altíssimo de subemprego e desemprego, cenário que tende a piorar com uma economia estadual e municipal ancorada no apoio às multinacionais e à burguesia local.

Por uma saída revolucionária

Não podemos apostar em nenhuma saída que leve em conta a aliança com os poderosos, com os patrões e com a classe política já ancorada em seus privilégios. Temos uma câmara municipal que não cansa de aumentar seus privilégios, além de representantes do Estado esforçados em defender os interesses dos mais ricos, dando continuidade às nossas vidas exploradas e sem qualquer retorno de nossos esforços naquilo que irá nos fazer melhorar de vida, muito pelo contrário. A alternativa para a classe trabalhadora é a auto-organização, a independência política e de classe, o que significa defender nossos direitos e interesses sem a crença de que colaborar com o outro lado irá facilitar o nosso caminho. Isso é um engano.

A população de Manaus deve lutar cada vez mais de forma organizada, em seus diferentes setores e bairros, se aliando na perspectiva da democracia operária e operando na lógica dos conselhos populares. Essa proposta é a defendida pelo PSTU e pela CSP-Conlutas, assim como pelo movimento Luta Popular, que se concentra em organizar a população nos bairros, ocupações e demais regiões periféricas de Manaus.

É preciso um plano de obras públicas que promova o emprego e moradia para a população manaura. Devemos exigir do governo medidas reais para conter essa certeza baseada em tragédias, o mais do mesmo corriqueiro dos governos. É preciso enfrentar a especulação imobiliária, fazer a desapropriação de terrenos que estão abandonados por grandes empresários e sem utilidade pública alguma, que poderiam muito bem servir para moradias dignas para a população em situação de rua e para quem vive em moradias precárias. Só teremos possibilidade de sucesso em qualquer reivindicação a partir do momento que possamos mostrar a força que o povo possui unido para cobrar seus direitos.

Precisamos exigir a suspensão da dívida pública que enriquece os bolsos dos banqueiros, o fim do Arcabouço Fiscal de Lula e Haddad e o redirecionamento de todos esses recursos às necessidades da população brasileira, nortista, amazonense e manauara.

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