Meio ambiente

Manaus: entre a riqueza, a desigualdade e a crise climática

PSTU-AM

30 de setembro de 2024
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Manaus amanheceu encoberta pela fumaça provocada pelas queimadas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

Antonio Neto, de Manaus (AM)

Manaus é uma cidade industrial com mais de dois milhões de habitantes encravada no seio da floresta amazônica, entrecortada por numerosos igarapés e banhada pelo exuberante Rio Negro. Situada numa área de planície, Manaus tem todos os requisitos para ser uma cidade próspera, acolhedora e adequada ambientalmente.

Mas, infelizmente, não é essa a realidade para a maioria dos seus moradores. Além dos aspectos sociais, cujos indicadores são em sua maioria negativos, ao longo de dez anos, vem se tornando cada vez mais insuportável do ponto de vista do climático e ambiental.

Uma cidade rica e extremamente desigual

A capital do Amazonas é a 5ª com o maior Produto Interno Bruto entre as capitais brasileiras. Seu parque industrial (composto majoritariamente por multinacionais) tem atingido cifras de faturamento acima de R$ 140 bilhões anuais. Mas é uma cidade em que a classe dominante maltrata o povo. Aqui se pagam os mais baixos salários do país, os serviços públicos, sobretudo de saúde e educação, são bastantes precarizados, e mais da metade de sua população vive nas bordas do centro urbano, em situação de favelas.

Ao lado dessa desigualdade gritante, nos últimos anos, Manaus tem se notabilizado nas manchetes nacionais em face de suas condições climáticas e ambientais. Historicamente governada por setores da burguesia oriunda das oligarquias regionais, ou por seus lacaios de plantão, como o atual prefeito, David Almeida, nunca se estruturou na cidade um serviço adequado de saneamento básico e esgotamento sanitário – o que coloca a capital do Amazonas em segundo lugar entre as capitais com adoecimento por ausência de serviços sanitários decentes, conforme o relatório do Instituto Cidades Sustentáveis publicado em 2024.

As intervenções feitas pelo poder público se concentram, sobretudo, no centro urbano e suas adjacências, mais precisamente onde residem a alta classe média e os estratos mais ricos da cidade. As zonas periféricas (esquecidas), sofrem breves reparos superficiais e, a rigor, se mantêm precarizadas – entregue a própria sorte.

Um prefeito que odeia arvores

Além desse corte de classe na estruturação da cidade, a concepção que norteia os governantes vai na contramão das recomendações ambientais para uma região de clima quente e úmido. Manaus está entre as capitais com o menor percentual de arborização do país. Tem apenas 25,1% de cobertura vegetal, segundo dados do IBGE. E o atual prefeito, está cuidando para diminuir ainda mais esse percentual. Além dos cortes e retiradas de árvores dos logradouros públicos, as novas vias construídas, como o chamado “rapidão”, são feitas sob a derrubada de árvores, cuja função está relacionada com a regulação do microclima urbano – o que tem acentuado drasticamente o aumento de calor e a redução das chuvas. Esse tipo de intervenção piora muito as condições de vida dos moradores de Manaus.

Governos subservientes ao agronegócio

Trecho sem asfalto da BR 319, entre Humaitá e Realidade, no Amazonas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Mas a resolução dos problemas climáticos e ambientais da capital amazonense não se restringe a sua compleição física interna. Esse quadro caótico se agrava muito com o processo de expansão capitalista para a Amazônia. O modelo econômico de exportação de commodities, baseado no agronegócio, na exploração dos recursos naturais (mineração, garimpo ilegal e madeira) requer, para sua execução, a realização de obras de infraestrutura tais como: hidrelétricas, portos e aberturas de estradas – como a BR-319.

Esse modelo econômico financiado pelo Estado brasileiro, inclusive pelo atual governo de Lula, tem contribuído para alterar drasticamente a regulação climática global, aumentando o efeito estufa, o aquecimento dos oceanos e o regime normal de chuvas na Amazônia, no país e em outras partes do planeta. Não é à toa que nos últimos anos a seca dos caudalosos rios da bacia amazônica tem gerado isolamento de vários municípios, aumentado as queimadas e, em contrapartida, espalhado densas nuvens de fumaça e fuligens sobre Manaus.

Ponto de não retorno

Essa situação climática e ambiental que se abate sobre a população de Manaus não pode ser enfrentada coerentemente se permanecer sendo governada pelos representantes dos ricos e bilionários causadores desse estrago. Mas também não pode ser enfrentada pelos partidos da esquerda tradicional (PT e PCdoB), ou mesmo o PSOL que está alinhado a esses partidos – inclusive compondo o governo de Frente Ampla.

Ou nos organizamos (partidos revolucionários, movimentos e entidades da classe trabalhadora) para debatemos seriamente esse tema com a nossa classe e organizar a resistência, ou atravessaremos o ponto de não retorno, como vem sendo advertido pelos cientistas, afundando assim a humanidade na barbárie social e climática.

É preciso reconstruir um poder popular – com base na classe operária, para não apenas operar as mudanças internas nas cidades, mas para enfrentar os poderosos interesses econômicos que transformam o país num grande manancial de exploração das riquezas naturais e deixam um rastro de destruição e miséria. Enfim, é preciso pôr em pauta o tema da revolução social no país.