Manifesto: Em 2026, construir uma alternativa socialista e revolucionária no Rio do Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, sob o comando de Eduardo Leite e do agro para exportação, a maioria do povo empobrece. Colocar o estado nas mãos dos trabalhadores, com a democracia dos conselhos populares
Para o PSTU, nas eleições de 2026 é necessária uma alternativa de esquerda, socialista e revolucionária, que combata a extrema direita e o projeto neoliberal do governo Leite, fazendo, a fundo, a disputa ideológica.
O Rio Grande do Sul é o estado dos eventos climáticos extremos, com 564 mil pessoas morando em áreas de risco. Obras de proteção contra cheias, se concluídas, só estarão prontas em 2031. É um estado desindustrializado e dominado pelos agrobilionários exportadores que destroem o bioma Pampa; envenenam nossa comida com agrotóxicos; produzem alimentos não para o povo, mas para lucrar com exportação e concentram a riqueza: 17 bilionários acumulam R$ 85,6 bilhões em bens declarados, quase o orçamento total do estado para 2026; 7,2 milhões de hectares das nossas terras estão cobertos pelo plantio de soja.
Enquanto o estado é produtor de carne, a maioria da população sequer tem renda para pagar um quilo de carne moída. A situação social é crítica: 42,10% da população está inadimplente, e 17.500 famílias que perderam tudo na enchente ainda aguardam as casas prometidas.
O estado sofre com sucessivos apagões após governos, em especial o de Eduardo Leite, terem vendido energia, água, gás e praticamente toda a infraestrutura para a iniciativa privada. Para 2026, o orçamento já projeta um déficit de R$ 3,8 bilhões, mesmo sem investir o exigido pela Constituição em saúde e educação. Isso se reflete nas filas de meses por médicos e cirurgias e na péssima qualidade da educação, consequência do descaso e falta de investimento dos governos.
A juventude não tem perspectiva além do trabalho precário em escalas exaustivas 6 x 1 e o adoecimento mental. O Rio Grande do Sul também é marcado por feminicídio crescente e é recordista em casos de racismo.
A falsa saída da “esquerda da ordem” e a decadência estrutural do Rio Grande do Sul e do Brasil
Temos vivido ao longo dos últimos anos uma disputa política intensa no país e o Rio Grande do Sul não está fora disso. Aqui já se iniciou a disputa com as pré-candidaturas de Zucco (PL), Gabriel (MDB), Pretto (PT), Juliana Brizola (PDT), entre outros. Nós, do PSTU, não defendemos nenhuma delas.
O sentimento da maioria dos brasileiros é de que se enfrentam duas alternativas no país, refletindo um mesmo enfrentamento mundial. De um lado estariam os que governaram nos tempos do auge da globalização, e dentro deste bloco estaria a esquerda, sejam Lula, governos populares e socialdemocratas e os democratas de vários países. De outro, surge a ultradireita, que tentou golpe nos Estados Unidos e também no Brasil, e se coloca como alternativa para muitos, fruto da decepção com os resultados dessas políticas. Alguns procuram resumir a conjuntura atual numa luta entre democracia e autoritarismo. Mas a realidade é muito mais que esta bipolaridade.
A verdade é que o sistema capitalista que procurava se renovar com o neoliberalismo e a globalização da economia colocou o mundo numa crise que se arrasta desde 2008. A ultradireita procura “resolver” esta crise com uma fórmula de governos autoritários, atropelando rapidamente todos direitos e liberdades, dificultando a organização e reação da classe trabalhadora. Mas esta ultradireita promove todo este ataque revestido de inúmeras fake news e com uma propaganda ideológica que busca ganhar a maioria da população para posições conservadora. Trump leva o mundo a um conflito global para conter o avanço de um novo imperialismo, que é a China.
O outro bloco combate a extrema direita, mas aplica mais doses do veneno capitalista. Defende um modelo de democracia que dá a falsa sensação de que o povo é representado, mas na verdade quem segue mandando é o mercado financeiro e um grupo de bilionários.
Ou seja, os dois blocos defendem a continuidade da exploração capitalista e colocam o mundo à beira de uma catástrofe, seja pelas guerras, seja pelo colapso ambiental.
Por isso, para nós do PSTU, a chamada “esquerda da ordem” ou “frente ampla” (PT, PSOL e que busca envolver o PDT numa candidatura em nosso estado), que se organiza em torno do apoio ao governo Lula, não oferece uma saída real. Eles optam por rebaixar o programa, criticam os governos municipais e do estado, mas se calam perante os ataques do governo federal que também segue a cartilha neoliberal, em especial através do arcabouço fiscal que impede investimentos sociais para manter o pagamento da ilegítima dívida pública aos banqueiros. Falam em enfrentar os ricos, mas dão subsídios generosos aos agro-bilionários e mantêm os lucros do sistema financeiro intocados. Não cumpriram promessas como a reversão da reforma Trabalhista.
Embora o governo federal celebre índices como a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil reais, a leve redução da inflação e o aumento de empregos, a realidade é que: não há mudança de fundo ou estrutural no país. A isenção do IR está longe de corrigir a defasagem de mais de 30 anos; o aumento do emprego é, majoritariamente, de empregos precários; o salário mínimo ainda está longe do valor que garanta um mínimo de dignidade para os trabalhadores. Tais “melhorias” são insuficientes e não revertem a alta exploração do povo trabalhador.
A subordinação ao imperialismo
Mesmo a “esquerda da ordem” não ousa enfrentar os interesses (dos imperialismos), seja dos Estados Unidos ou da China.
Nossa contínua decadência estrutural e desindustrialização mantém o Rio Grande do Sul e o Brasil em dependência das potências estrangeiras. Essa subordinação é nítida quando o governo Lula estimula a produção para exportação de commodities (produtos primários, como soja e minérios, de baixo valor agregado) , assim como implementa a desnacionalização cada vez maior da economia (com a compra de empresas), mantém o Programa Nacional de Desestatização, descumprindo compromissos e mantendo a ameaça de privatização da Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre); o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), subordinado ao governo federal, promoveu um recorde de PPPs (Parcerias Público-Privadas) e leilões em 2025, viabilizando o modelo privatista; segue sem investir nos Correios, gerando sua crise.
Apesar de todos os discursos que fez na COP 30, o governo Lula pressionou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para autorizar a exploração da Foz do Amazonas. Permanece o massacre dos indígenas, enquanto a bancada ruralista legaliza a mineração em suas terras.
A lógica dos blocos e de sucumbirmos ao mal menor apenas nos aprisiona em um círculo vicioso sem saída.
Que programa de fato combate Leite/Gabriel e a ultradireita (Zucco)
Nesta eleição é muito importante enfrentar e derrotar o projeto neoliberal e privatista implementado pelo governo Leite/Gabriel, inimigos da educação e saúde, amigos dos ruralistas, que ampliaram a flexibilização da legislação ambiental e querem mais pedágios.
Defendemos a reestatização, sem indenização, da CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), Sulgás (Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul) e toda a infraestrutura vendida.
Na batalha por mais investimento na saúde e educação é necessário enfrentar a dívida do estado com União, que é uma verdadeira bomba relógio. As 36 parcelas não pagas até 2027 – por conta dos impactos da enchente – não estão sendo perdoadas. Elas acrescem o saldo da dívida e estão sendo corrigidas. Ou seja, a partir de junho de 2027, se nenhum acordo for feito até lá, a fatia do orçamento comprometido com a dívida e o nível de sacrifício que cairá sobre os ombros da classe trabalhadora gaúcha será muito maior. Por isso, é de muita importância defendermos o cancelamento da dívida do estado com a União.
Também é fundamental combater a extrema direita de Luciano Zucco (PL). Não podemos ter medo de fazer o debate ideológico e a disputa com coragem, demonstrando as ligações da extrema direita com os super-ricos do nosso estado; a hipocrisia de negar o direito ao aborto para crianças vítimas de abuso sexual, enquanto defende a pena de morte para a juventude negra na ineficaz guerra às drogas; a defesa de um programa que inclui a desmilitarização da Policia Militar e o controle popular sobre as forças de segurança; a legalização das drogas, sob controle do Estado.
Ao contrário das alternativas que se apresentaram até o momento, não vamos mascarar a realidade e vamos apresentar as medidas necessárias para resolver as necessidades da população.
A posição do PSTU: construir uma alternativa socialista
Nossa proposta é construir um projeto para o estado que rompa com a atual dependência do agronegócio e avance em um projeto de reindustrialização sob controle público e coletivo.
Temos a convicção de que o direito à vida está acima da grande propriedade capitalista.
Para garantir a vida das gerações atuais e futuras, é fundamental:
— A expropriação das grandes fortunas e dos latifúndios;
— A realização de uma reforma agrária radical e sob controle dos trabalhadores.
Afirmamos que só é possível mudar o Rio Grande do Sul quando o poder estiver nas mãos dos trabalhadores, e quando a democracia for a democracia dos conselhos populares.
Defendemos uma economia planificada – que sejamos nós, o povo organizado, que definamos o que, quanto e como produzir e não a anarquia do mercado que produz mercadorias desnecessárias, não respeitando os limites da natureza.
Defendemos um Brasil e um Rio Grande do Sul controlados democraticamente pelos trabalhadores: isso sim é o socialismo!
Nossa campanha também levantará a bandeira do povo palestino contra o genocídio do estado de Israel e estará ao lado do povo ucraniano pelo direito à sua autodeterminação.
Não temos ilusão de que este programa será aplicado apenas com eleições. Ele só poderá ser aplicado por meio de muita mobilização e revolta popular, e pela luta organizada da classe trabalhadora e da juventude.
Chamamos os ativistas e militantes de esquerda a construir, junto com o PSTU, uma alternativa da classe trabalhadora, socialista, sem partidos burgueses, sem concessões aos monopólios capitalistas e banqueiros.
Chamamos você a debater e construir este programa junto conosco!
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