Marielle e Anderson presentes! Prisão de mandantes foi um avanço, mas investigações precisam continuar
A prisão dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, seis longos anos após o crime, é um significativo avanço para a elucidação do caso. A família de Marielle e Anderson, seus companheiros de luta, assim como todo o movimento social, exigem e merecem a resposta que ecoou esses anos todos: “Quem mandou matar Marielle e Anderson?”
O mandado de prisão cumprido pela Polícia Federal na manhã deste domingo, 24, contra o deputado federal Chiquinho Brazão, e seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão, assim como o do ex-chefe de Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, é um passo adiante para entender esse crime bárbaro. Algo que, como estamos vendo agora, só está sendo possível diante de toda a pressão, mobilização e luta, que enfrentaram todo o tipo de boicote, omissão e um dos próprios mandantes que estavam à frente da Polícia Civil, caso de Rivaldo Barbosa.
Rivaldo Barbosa foi promovido pelo então interventor do Rio de Janeiro, General Braga Netto, que viria a ser ministro de Bolsonaro e articulador da recente tentativa de golpe, exatamente um dia antes das execuções. De diretor da divisão de homicídios, Braga Netto localizou estrategicamente Rivaldo na chefia da Polícia Civil. Lá, mais do que barrar as investigações, Rivaldo foi um articulador ativo desses assassinatos.
Segundo o relatório da Polícia Federal lido pelo próprio ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, um dos motivos para a execução teria sido a oposição de Marielle a um projeto de Chiquinho Brazão na Câmara do Rio, para regularizar a ocupação de terras utilizadas pelas milícias na Zona Oeste da cidade, para grilagem e especulação imobiliária.
Nenhuma confiança nas instituições desse regime
As prisões neste domingo reforçam as relações espúrias entre o parlamento, a polícia, a Justiça e as milícias, e essas, parte orgânica dessas instituições atuando como um braço paramilitar para a execução de seus interesses. Não se trata de um “poder paralelo”, mas o poder do próprio Estado burguês.
A surpresa de Marcelo Freixo com o envolvimento de Rivaldo Barbosa, a primeira pessoa que ele afirma ter ligado ao saber dos assassinatos, mostra que não se pode ter nenhuma confiança nas instituições do Estado burguês, principalmente num crime contra lideranças do movimento. Rivaldo Barbosa foi alçado à chefia da Polícia Civil contra a recomendação do setor de inteligência da própria instituição. Por que Braga Netto insistiu nessa nomeação?
O problema, porém, não se limita à confiança cega nas instituições, mas nas alianças políticas firmadas com reconhecidos milicianos e assassinos. É o caso do prefeito Eduardo Paes (PSD), aliado do governo Lula, que nomeou Chiquinho Brazão como secretário municipal de Ação Comunitária. Nomeação ocorrida dias depois do aparecimento de novos indícios do envolvimento do irmão de Chiquinho, Domingos Brazão, nas execuções de Marielle e Anderson.
Caso mais indignante ainda é o do vice-presidente do PT, Washington Quaquá, que defende abertamente Domingos Brazão. “Conheço o Brazão e sou amigo dele! Não só não acredito que ele fizesse uma brutalidade dessas, como o conheço na política e isso é coisa de gente sem capacidade política“, afirmou Quaquá à imprensa em janeiro último. Isso porque Domingos Brazão é aliado do PT no estado. Ou seja, não se trata apenas de se aliar a setores da burguesia e abandonar qualquer critério de classe, mas se aliar a milicianos com ligações com a ultradireita.
Investigações precisam continuar
O ministro Lewandowski declarou neste domingo que “os trabalhos foram dados como encerrados”, apontando a suposta resolução completa do caso. Mas isso está muito longe da verdade. Qual o envolvimento de Braga Netto no caso? Mais do que isso, da própria família Bolsonaro com milicianos envolvidos no crime, como Adriano da Nóbrega, líder da milícia a qual pertenciam os executores de Marielle e Anderson, e homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj, e que ainda empregou a ex-esposa e mãe do miliciano em seu gabinete. A própria execução de Adriano, numa obscura operação policial na Bahia, tem toda a cara de uma queima de arquivo.
Ainda há mais perguntas sem respostas: Rivaldo Barbosa, nomeado por Braga Netto, sozinho, teria sido capaz de barrar as investigações por tantos anos? Tudo aponta para o envolvimento de muito mais gente, nas três esferas de Poder, para impedir o avanço das investigações.
Esse crime bárbaro está longe de ter sido resolvido. É preciso ir até o fim, e punir todos os responsáveis. E, como vimos, não vai ser a Justiça, o Parlamento, em seus diferentes níveis, ou muito menos a polícia que vai resolver. Só a pressão e a mobilização popular vai poder garantir justiça de fato, enfrentando as instituições e as alianças espúrias que protegem essa corja. Justiça para Marielle e Anderson!