Lutas

Metalúrgicos da Caoa Chery ocupam montadora e prometem intensificar luta por empregos

Ana Cristina, de São José dos Campos (SP)

25 de maio de 2022
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Fotos Sindmetal/SJC

A montadora Caoa Chery, em Jacareí (SP), está com a produção paralisada desde o dia 24 de março e quase vazia, pois praticamente todos os trabalhadores da empresa estão em licença-remunerada desde então. Mas, na terça-feira (24/5), centenas de operários/as voltaram à fábrica para realizar uma ocupação.

Por cerca de duas horas, os metalúrgicos/as ficaram dentro da montadora para protestar contra o desrespeito da direção da empresa e o impasse nas negociações.

No dia 5 de maio, a Caoa Chery anunciou que fechará a unidade na cidade, o que vai resultar em cerca de 500 demissões. Após mobilização dos metalúrgicos, que acamparam em frente à fábrica, e reunião com o sindicato, a direção da empresa aceitou uma proposta para suspensão das demissões com adoção de layoff e garantia de estabilidade até janeiro de 2023. O acordo, que consta em ata do dia 10 de maio, foi apresentado em assembleia e aprovado pelos trabalhadores. Contudo, três dias após a negociação, a empresa retrocedeu e afirmou que não mais cumpriria o acordo. Desde então, sindicato e empresa voltaram a negociar, mas a cada reunião a empresa volta atrás e reduz a proposta.

“Os trabalhadores estão indignados com a forma irresponsável como a Caoa Chery está agindo. Não bastasse anunciar o fechamento da fábrica e a demissão em massa de quase 500 pais e mães de família, sem ter feito qualquer negociação prévia, a empresa está agindo de má-fé, voltando atrás em pontos que estavam evoluindo e rebaixando a proposta a cada reunião”, relatou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Weller Gonçalves.

“Não vamos aceitar essa quebra de acordo. Essa empresa recebeu milhões do dinheiro público em isenções e incentivos fiscais e, além de não cumprir o que acorda, quer pagar um pacote rebaixado aos trabalhadores que preferirem optar por um PDV [plano de demissão voluntária]”, explicou ele.

Os trabalhadores rejeitaram a proposta patronal (indenização de sete a 15 salários aos demitidos, sem benefícios e sem layoff) e reafirmaram que querem que a empresa cumpra o que foi acordado, ou seja, a proposta de cinco meses de layoff mais três meses de estabilidade. Também foi aprovada a proposta do Ministério Público do Trabalho, feita em audiência no dia 20, que estabelece 20 salários e extensão por 18 meses de todos os benefícios para quem aderir ao plano de indenização social.

Pressão

“Se não negociar, a gente vai voltar”

Desde o anúncio do fechamento, o sindicato e os trabalhadores iniciaram um forte processo de luta, com acampamento na porta da fábrica, passeatas, ocupação da Câmara de Jacareí, cobrança dos governos e protestos em concessionárias da marca.

A ocupação por duas horas foi uma advertência. Ao encerrar a mobilização, os metalúrgicos/as saíram com um grito unitário: “se não negociar, a gente vai voltar”. Os trabalhadores aprovaram que se a negociação não avançar, vai ter ocupação por tempo indeterminado.

“Faremos uma manifestação por dia. Vamos até outras montadoras votar, em assembleia, o apoio aos companheiros da Caoa Chery. A solidariedade de todo o movimento sindical, político e social do país é muito importante para impedir o fechamento da fábrica”, afirmou o presidente do sindicato, que é filiado à CSP-Conlutas.

Ao final da ocupação, um dos trabalhadores, que preferiu não se identificar, avaliou a mobilização como positiva. “A Chery tá de sacanagem com o trabalhador. Vai e volta atrás no que diz. Os protestos são mais do que justos, até porque são mais de 500 trabalhadores que, de uma hora pra outra, vão ficar sem seu sustento. Sem falar que não são só os funcionários diretos, mas também terceiros, o impacto na cidade”, afirmou.

Outro metalúrgico se disse revoltado com o tratamento da empresa. “Ela ganhou muito dinheiro, isenção, e agora sequer uma proposta digna tem a decência de fazer para quem preferir pegar a indenização. Mas eu prefiro o layoff, aliás, prefiro meu emprego”, declarou.

Saída

Estatização e produção de carro nacional

A Caoa Chery alegou que pretende fechar a fábrica de Jacareí até 2025 para preparar a empresa para produzir carros elétricos. A produção no país ficará centralizada na unidade de Anápolis (GO), e o modelo Arrizo 6 Pro será importado da China, num retrocesso da condição da indústria brasileira.  Estudo do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese) demonstra que a empresa poderia fazer a adaptação sem necessidade de paralisar a produção.

O fato é que essa situação na Caoa Chery, assim como de outras empresas, como Ford, Toyota e LG, que recentemente também fecharam fábricas no Brasil, revela como as multinacionais não têm nenhum compromisso com os trabalhadores e como a economia brasileira está a serviço dessas grandes empresas estrangeiras, que se beneficiam do dinheiro público, exploram nossa mão de obra, obtêm lucros recordes e depois fecham as portas para seguir lucrando de outras formas.

Os trabalhadores não podem ficar subordinados às estratégias de mercado das multinacionais. O PSTU está ao lado dos operários/as da CaoaChery, juntamente com o sindicato, na luta em defesa dos empregos. Caso a empresa insista na decisão de fechamento, é preciso uma luta para exigir do governo federal que estatize a fábrica e que o Brasil passe a produzir carro nacional.