Meio ambiente

Museu Emílio Goeldi pode fechar durante a COP 30 por falta de recursos

Instituição científica mais antiga da Amazônia enfrenta crise orçamentária e pode interromper atividades no ano em que Belém sedia conferência do clima

Roberto Aguiar, da redação

3 de novembro de 2025
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O Museu Goeldi nasceu como um espaço de ciência “para dentro da Amazônia” | Foto: Divulgação

Roberto Aguiar, direto de Belém (PA) | Cobertura Especial Cúpula dos Povos/COP 30

Símbolo da Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, referência mundial em estudos sobre a Amazônia, vive um momento de incerteza. A instituição científica corre o risco de fechar as portas por falta de recursos. O alerta foi feito pela direção da instituição, que enfrenta dificuldades financeiras para manter o funcionamento até o fim de 2025.

O museu, prestes a completar 160 anos, abriga o maior acervo científico sobre a Amazônia no mundo e é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A crise acontece justamente no ano em que Belém sedia a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas.

O Museu está com orçamento congelado há quatro anos (último ano do governo Bolsonaro e os três anos do atual governo Lula), em cerca de R$ 18 milhões por ano, enquanto os custos, especialmente com serviços terceirizados, cresceram 23%. De acordo com a direção da instituição, a previsão para 2026 é igual à de 2025, com verbas que garantem o funcionamento até o mês de setembro.

Redução de horário e risco de paralisação

Desde setembro, o Goeldi reduziu o expediente às sextas-feiras, encerrando o funcionamento às 14h para economizar energia. Um repasse emergencial de R$ 2,1 milhões, feito em meados do mês, garante apenas o funcionamento até meados de novembro.

“Tenho três cenários: o ministério envia o que precisamos; deixamos contas para janeiro; ou fechamos o museu. Estamos prestes a receber chefes de Estado e não sei como manter o parque aberto se nada mudar”, disse o diretor, Nilson Gabas Júnior, em entrevista ao portal Sumaúma.

Patrimônio científico ameaçado

O Museu Goeldi é uma das instituições científicas mais antigas do Brasil, criado em 1866, durante o Império. Ele guarda 4,5 milhões de itens tombados em 19 coleções científicas sobre a Amazônia, incluindo espécies de plantas, animais, fósseis, artefatos indígenas e materiais arqueológicos.

O local também é responsável por pesquisas fundamentais, como a elaboração da Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção do Pará, a primeira do Norte e Nordeste do país. O trabalho é referência para políticas públicas de conservação.

Parque Zoobotânico: floresta viva no centro de Belém

Além do papel científico, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi é um dos pontos turísticos mais tradicionais de Belém. Criado em 1895 pelo zoólogo suíço Emílio Goeldi, o espaço reúne árvores centenárias, como a samaumeira e a castanheira, e recebe cerca de 400 mil visitantes por ano.

Entre os animais que vivem no local estão a tamanduá-bandeira Haru, resgatada após a morte da mãe por caçadores, e a onça-pintada Luakã, sobrevivente de ataque na floresta. O parque também funciona como abrigo para espécies feridas e resgatadas do tráfico.

Pesquisadores alertam para abandono

A direção do museu informou que, em maio, enviou um ofício ao MCTI relatando a situação financeira. Em junho, diretores de 17 institutos de pesquisa federais assinaram um documento conjunto pedindo atenção aos cortes de verba.

Mesmo assim, não houve definição sobre a recomposição do orçamento. Toda a relevância do Goeldi para a sociedade e para a natureza da Amazônia parece não comover o governo Lula e nem o Congresso.

Contraste com desmatamento na região

Enquanto o museu luta para se manter, o governo do Pará autoriza a remoção de pelo menos 76 hectares de floresta na região metropolitana de Belém para construir a avenida Liberdade, projeto que corta áreas protegidas e comunidades tradicionais.

O contraste é simbólico: de um lado, o desmatamento avança; de outro, o Goeldi — guardião da floresta e da memória amazônica — luta para não fechar no exato momento em que o mundo se reunirá na cidade para discutir o futuro do planeta.

Já o governo Lula, através do Plano Safra de 2024/2025, destinou R$ 400,59 bilhões para latifundiários, os principais responsáveis pelo desmatamento no Brasil. O presidente tenta vender para o mundo a imagem de que se preocupa com o meio ambiente, mas faz o contrário em seu governo. Financia com bilhões o agronegócio, enquanto congela o orçamento de uma instituição científica de enorme relevância para a Amazônia e o mundo.

História de resistência

O Museu Goeldi nasceu como um espaço de ciência “para dentro da Amazônia”, segundo o pesquisador Nelson Sanjad. Foi idealizado como um centro de estudo do bioma e das populações amazônicas, sem pretensões de se voltar ao eixo sul-sudeste.

Ao longo de sua história, enfrentou várias crises financeiras. Em 1955, passou da gestão estadual para a federal e ganhou estabilidade. Desde os anos 1980, é uma instituição autônoma, vinculada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao MCTI.

Agora, o risco de paralisação coloca em xeque um século e meio de pesquisa e educação científica. O fechamento do Goeldi durante a COP30 seria um símbolo do abandono da ciência brasileira.

Cobertura Especial

Acompanhe a cobertura especial do Opinião Socialista – Cúpula dos Povos/COP 30

 

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