Minas Gerais

Não se derrota o bolsonarismo ao lado da direita: PSOL celebra filiação de Alexandre Kalil ao PDT

Ex-prefeito de Belo Horizonte governou contra os trabalhadores e o povo pobre, e foi base de apoio do governo de Jair Bolsonaro

PSTU Belo Horizonte

22 de novembro de 2025
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Parlamentares do PSOL junto com Alexandre Kalil | Foto: Instagram/Reprodução

Em recente publicação nas redes sociais, Áurea Carolina, ex-deputada federal, aparece ao lado das vereadoras do PSOL – Juhlia Santos, Iza Lourença e Cida Falabella – e da deputada estadual Bella Gonçalves, felizes ao lado do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, recém-filiado ao PDT. Áurea afirmou tratar-se de um ganho para o campo “progressista”. Como assim?! Os deputados do PDT votaram a favor da PEC 24, que retirou o referendo sobre a privatização das estatais mineiras. Na prática, autorizou a privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). Que campo progressista é esse que ataca os direitos da população mineira e está a favor da privatização?

Atualmente, o PSOL sustenta o governo Lula (PT), que deu sinal verde para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, integra o governo, ocupando os ministérios da Secretaria-Geral da Presidência (Guilherme Boulos) e dos Povos Indígenas (Sônia Guajajara). Um grande sintoma de sua entrega total à ordem é a realização da COP 30 com Sônia Guajajara como ministra, cúpula onde os governos capitalistas e os bilionários se reúnem para debater como melhor destroem o planeta a serviço do capital.

O PSOL ocupa assentos ao lado de quem gere a barbárie climática no Norte e festeja filiações de políticos burgueses como Kalil, ao sul. Isso é um atraso à consciência da classe trabalhadora, mas trata-se de um grande reencontro.

Durante o governo Fuad Noman (PSD), que sucedeu Alexandre Kalil, o PDT ocupou cargos em sua prefeitura e sustentou seu governo na Câmara Municipal, assim como o PT e o PSOL, em diferentes momentos, votaram com sua base, além de também ocuparem cargos na gestão.

Alexandre Kalil e seu histórico de repressão contra o povo

É um equívoco acreditar que Kalil e sua entrada no PDT representam qualquer avanço para derrotar a extrema direita. Quando eleito prefeito de Belo Horizonte, Kalil apareceu como um outsider e capitalizou a negação do povo à velha política. Porém, sua trajetória sempre foi pragmática e eleitoreira: chegou a fazer parte do mesmo PSD de Fuad e Kassab – partido do Centrão – parte da base fiel de Bolsonaro.

A independência de Kalil nunca foi além das aparências. Quando eleito prefeito, seu então partido, o PHS, integrou o Bloco Parlamentar “Sou Minas Gerais”. Este incluía o partido Novo de Romeu Zema, atual governador do estado – PSDB, PSB, PP e outros; esse bloco atuou como base e chancelou a austeridade de Zema.

O governo de Kalil foi marcado por repressão e medidas antipopulares. A memória é curta, mas cabe a nós lembrar. Os professores de Belo Horizonte são exemplos de combatividade na cidade e enfrentaram diversas vezes o ex-prefeito. Em 2018, os trabalhadores da educação infantil paralisaram suas atividades e foram recebidos pela guarda municipal com jatos de água, bombas e prisões. Na greve de 2022, a tropa de choque da guarda municipal agrediu covardemente os manifestantes com cassetetes, tiros de borracha e mais bombas, ferindo gravemente o professor Wanderson Rocha.

A própria guarda municipal sofreu perseguições e repressão de Kalil. Após protestos por reajuste salarial, o ex-prefeito determinou o aquartelamento de todos os guardas e agentes, que depois sofreram processos administrativos. Durante a pandemia, enviou à Câmara Municipal a reforma da previdência municipal.

Não há ganho com empresário higienista

Durante a sua passagem pela prefeitura, Kalil adotou uma postura higienista nos espaços da cidade, sobretudo no centro da capital mineira, mirando os trabalhadores ambulantes e a população em situação de rua. Chegou a dizer que a cidade “não podia ser hotel cinco estrelas” para moradores de rua e instalou tapetes de pedra sob viadutos do Complexo da Lagoinha para impedir o abrigo. Enquanto isso, no Mangabeiras, recusou-se a cumprir ordem judicial para remover guaritas e bloqueios ilegais.

O contraste é gritante: contra os vendedores ambulantes, Kalil mobilizou o Batalhão de Choque e o Caveirão; contra a população de rua, usou engenharia hostil para removê-la. No entanto, quando ricos descumpriam a lei e fechavam o espaço público, Kalil ignorou uma ordem judicial para proteger sua classe.

O ex-cartola faz parte da elite mineira e manteve a cidade a serviço dos ricos. O “Kalil do PHS”, que se vendeu como “antipolítica”, rapidamente deu lugar ao “Kalil do PSD”, um político pragmático que se aliou à “velha política” e ao Centrão (base de sustentação do governo Bolsonaro) para viabilizar seus projetos de poder. Agora, o “Kalil do PDT” busca viabilidade eleitoral.

Enfrentar a extrema direita com independência

Derrotar a extrema direita é uma tarefa urgente, mas não o faremos sob a ótica do vale-tudo eleitoral. A imagem festiva das parlamentares do PSOL ao lado de Kalil é um insulto à memória da cidade. Não há “ganho progressista” em reabilitar o algoz que ordenou o choque contra professores e instalou pedras para expulsar os sem-teto.

Construir um projeto alternativo à extrema direita passa por rejeitar a conciliação de classes que, ao festejar figuras como Kalil, pavimenta o caminho para o retrocesso. É preciso recuperar a coerência: estar ao lado do professor Wanderson e não de quem o feriu; estar ao lado da população de rua e não de quem a perseguia com higienismo. A verdadeira independência exige vincular-se às lutas reais — como contra a privatização da Copasa e pela tarifa zero — sem se render a facilitismos eleitorais que, na prática, absolvem os carrascos do povo.

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