‘Ninguém entra, ninguém sai’: Povo Munduruku bloqueia entrada na COP30 e exige reunião com Lula
A indígena Alessandra Munduruku faz dura críticas a falta de diálogo dos governos com povo indígenas
Roberto Aguiar, direto de Belém (PA) | Cobertura Especial Cúpula dos Povos/COP 30
Desde às 5h30, desta sexta-feira (14), o povo indígena Munduruku bloqueia a entrada da Blue Zone da COP em Belém (PA). Eles exigem uma conversa com o presidente Lula (PT) e criticam a falta de povos originários na COP. Denunciam que as autoridades discutem medidas que impactam diretamente a população indígena sem ouví-los.
Em conversa com a imprensa, a liderança Alessandra Munduruku exige que as demandas de seu povo sejam levadas a sério: “Ninguém entra e ninguém sai. Porque ninguém vai para brincar. Ninguém vai para rir. Ninguém vai tirar selfie, não. Porque é o nosso corpo que está lá, a negociação que está acontecendo aqui“.
“Já chega de usar a nossa imagem para dizer que é sustentável, de bioeconomia que está matando a nossa floresta. Já chega de usar a nossa imagem para dizer que nós estamos bem, porque nós não temos saúde na nossa aldeia, não tem educação, nosso rio está contaminado com mercúrio por conta do garimpo“, diz a liderança indígena.
“O Estado está matando a floresta, destruindo para colocar ferrovia, hidrovia, porto, para essas empresas internacionais chegarem“, completa. Ela ainda reforçou a cobrança por uma reunião com Lula. Os indígenas seguem sentados na entrada, impedindo a passagem de pessoas na área de entrada da Blue Zone.
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Mineração
Alessandra Munduruku também criticou a atuação das mineradoras em terras demarcadas, rechaçando a negociação de créditos de carbono e a contaminação de rios com mercúrio decorrente da extração. Ela alega que, a pretexto de remunerarem as tribos com dinheiro, as companhias tem o real objetivo de suprimir as aldeias.
“Pra gente não fazer mais a roça, mais aldeia, porque vão ficar monitorando o nosso território pra eles. […] Agora querem colonizar as nossas mentes com esse crédito de carbono, dividindo os nossos povos [com a alegação de que] dinheiro é a solução”, pontua.
A liderança seguiu na crítica afirmando que as mineradoras tentam silenciar os indígenas com recursos do crédito de carbono e que deputados e senadores dizem tentar chegar a uma solução para conflitos, mas que apenas “criam grupos de trabalho” que não avançam. E também criticou o avanço de obras de infraestrutura nas terras demarcadas, como hidrelétricas, hidrovias, etc.
Protesto
Autoridades do governo Lula tentam negociar a liberação da entrada da Blue Zone, mas os Munduruku afirmam que permanecerão no local até serem atendidos pelo presidente Lula. Os indígenas estão cercados por agentes da Força Nacional e Polícia Federal. A presença de militares vem aumentando nos últimos dias, desde o protesto que ocorreu na quarta-feira, dia 13, onde indígenas conseguiram ocupar a entrada principal da Blue Zone.
A COP 30 está ocorre sob o decreto de operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) assinado por Lula, que permite o uso das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) em ações de segurança pública.
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