Mulheres

Notas sobre o 28 de novembro e o duplo feminicídio no CEFET

AlbanoTeixeira, do Rio de Janeiro (RJ)

1 de dezembro de 2025
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A diretora Allane Pedrotti e a psicóloga Layse Pinheiro Foto Redes Sociais

Na última sexta-feira, 28 de novembro, os meios de comunicação do Rio de Janeiro e de todo o país divulgaram mais um crime bárbaro que expressa a degradação destes tempos. Um servidor federal, pedagogo, José Antônio Miranda Tello Ramos Gonçalves, entrou no meio da tarde na Diretoria de Ensino do CEFET Celso Suckow da Fonseca e assassinou duas servidoras federais, tirando a própria vida em seguida. As vítimas eram a diretora pedagógica Allane de Souza Pedrotti Matos e a psicóloga Layse Costa Pinheiro.

O impacto foi imediato e devastador para toda a instituição, que naquele momento seguia em pleno funcionamento, com aulas acontecendo e um evento de fim de ano no pátio central. Diante de tamanho horror, muitos apressam-se em classificar o episódio como “mais um sinal da loucura dos tempos”, mas é preciso ir além dessa explicação superficial. Pelas primeiras informações divulgadas, tudo indica que se tratou de um duplo feminicídio. E por que não? Por que restringir o feminicídio apenas à esfera íntima, se se trata de um ato extremo de misoginia e machismo dirigido contra mulheres?

Informações iniciais apontam que o assassino — que se matou logo após o crime — havia tido dificuldades em aceitar a autoridade das servidoras e, inclusive, sido transferido para outra unidade por esse motivo. Isso nos leva a perguntar: o que faz um homem com formação superior, com acesso a maior volume de informações e possibilidades de compreensão do mundo, cultivar um ideário tão retrógrado, violento e desumanizado?

A ascensão e consolidação da extrema direita no Brasil e no mundo abriram caminho para ações brutais amparadas em discursos de “liberdade de expressão absoluta e hiperindividualista”, na suposta “defesa da virilidade” contra uma imaginária “ditadura feminista ou LGBT”. Sob essa ótica distorcida de “liberdade”, certos setores — sobretudo homens heteronormativos, cis, brancos e originários da classe média e da burguesia — sentem-se autorizados a serem machistas, misóginos, racistas, LGBTfóbicos, xenófobos e reacionários. E a levar tais posições às últimas consequências, inclusive de maneira letal.

Ao mesmo tempo, a ausência de políticas consistentes e investimentos reais na criação de espaços de debate, acolhimento e fortalecimento dos setores oprimidos, somada à insuficiente construção de uma educação crítica, plural e voltada à igualdade, acaba abrindo brechas para que elementos mais atrasados do senso comum continuem orientando comportamentos e decisões dentro das instituições públicas — especialmente as educacionais.

Essas duas vidas brutalmente interrompidas não podem ser reduzidas a estatísticas ou manchetes passageiras. A morte de Allane e Layse exige que se abra um amplo debate, não apenas no CEFET, mas em toda a sociedade. Entre servidores, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras, é urgente discutir e enfrentar as estruturas de uma sociedade que, repetidamente, mata mulheres, pessoas negras e os setores mais pobres. Somente assim será possível avançar na construção de um ambiente verdadeiramente humano, igualitário e livre de violência.

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