Novo Anuário do Ilaese: O mapa da exploração no Brasil e no mundo
Nova edição amplia a base de dados e traz metodologia inovadora
O Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese) está lançando o Anuário Estatístico 2025, quarto volume da série. Trata-se de uma das produções mais completas do instituto, apresentando o mapa da exploração dos trabalhadores no Brasil e no mundo e avançando de forma significativa em relação às edições anteriores, tanto pela ampliação dos dados quanto pelo aprimoramento da metodologia que orienta sua organização.
Mas a que serve esse vasto conjunto de informações estatísticas? A economia burguesa, com suas abstrações, trata os números como descrições neutras, imparciais e desinteressadas da realidade. Essa aparência só se sustenta porque oculta, por trás dos dados, as relações sociais de exploração que os produzem. Em sentido oposto, o Anuário parte das fontes oficiais e empresariais para revelar o que elas encobrem: a desigualdade entre as classes, a apropriação privada da riqueza socialmente produzida e a hierarquia internacional entre países dominantes e dominados.
Compreendo a realidade da classe trabalhadora
Marx e Lênin enfatizavam a importância de produzir materiais com esse caráter e colocava essa tarefa como necessidade política. Em 1867, Marx orientava a Associação Internacional dos Trabalhadores a realizar “uma investigação estatística sobre a situação da classe operária de todos os países, empreendida pela própria classe operária”.
Décadas depois, Lênin propôs a criação de um instituto de investigação voltado a analisar as formas do movimento social a partir do ponto de vista da classe trabalhadora. Ambas as formulações partem de uma mesma convicção: transformar o mundo exige compreendê-lo em suas determinações concretas e articular as necessidades imediatas dos trabalhadores com a necessidade histórica de superar o capitalismo. Cada afirmação programática deve ser demonstrada, e não apenas autoproclamada.
O Anuário retoma essa tarefa. Seu objetivo, no entanto, vai além de demonstrar a exploração dos trabalhadores nas unidades produtivas de forma isolada. O grande desafio é conectar a exploração do trabalho no local de produção com o Estado, com os diferentes ramos da economia e com a divisão internacional do trabalho, isto é, na hierarquia de dominação imperialista. Só assim se desfaz a falsa oposição entre mercado privado e Estado capitalista. Só assim se critica simultaneamente o liberalismo, que confia na suposta racionalidade do mercado, e o keynesianismo, que deposita no Estado a capacidade de “civilizar” ou administrar o capitalismo.
Assista
Perspectiva marxista
Uma ferramenta para disputar os rumos da sociedade
A nova edição está dividida em sete seções. As quatro primeiras tratam do Brasil, reunindo dados sobre mais de 500 grandes empresas, a União, todos os Estados e os principais municípios. Destaca-se uma abordagem inovadora sobre o papel da dívida pública e sua relação orgânica com empresas capitalistas que já não conseguem expandir sua escala de produção, o papel da carga tributária e a dinâmica específica entre setores do capital que produzem e apenas se apropriam do valor produzido.
As três seções finais abordam o cenário internacional, com base em um levantamento inédito de 660 conglomerados empresariais e financeiros em mais de 20 anos de série histórica. A partir dessa base e de nova metodologia, o Anuário analisa o novo ciclo de dominação no Brasil, a fragmentação da classe trabalhadora, a reorganização da divisão internacional do trabalho, a evolução real da taxa de lucro, o papel das novas tecnologias no processo de acumulação e a disputa estratégica entre as potências imperialistas, em especial Estados Unidos e China.
O Anuário é, acima de tudo, uma ferramenta política a serviço da classe trabalhadora. Busca contribuir para superar a cisão que marcou parte do movimento marxista nas últimas décadas, em que a análise da exploração de classes foi reduzida a um trabalho sindical fragmentado e desvinculado da compreensão da dinâmica do capitalismo nacional e mundial. Esse distanciamento abriu espaço para ilusões reformistas e projetos de mera gestão do capitalismo. O Anuário caminha no sentido oposto: procura integrar teoria, método e dados para armar a classe trabalhadora em uma disputa pelos rumos da sociedade.
O convite está feito: que cada militante, sindicalista e estudioso da realidade brasileira se aproprie deste material, transformando cada luta imediata em ponto de partida para uma disputa consciente sobre os rumos do Brasil e do mundo.