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O ato de racismo contra o motoboy Everton da Silva em Porto Alegre (RS)

Vera Rosane

20 de fevereiro de 2024
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O motoboy Everton da Silva é algemado pela Brigada Militar, sábado (17), em Porto Alegre (RS) | Foto: @nietzsche4speed no Instagram

Vera Rosane, de Porto Alegre (RS)

O racismo é tão incrustado no capitalismo que até mesmo quando os negros são vítimas o sistema e suas instituições os tratam como criminosos. Não tem outra expressão que possa definir o caso ocorrido com o trabalhador Everton da Silva, motoboy, pelo racista Sérgio Camargo e pela Brigada Militar, em 16 de fevereiro, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, do que racismo e discriminação de classe.

O racismo é tão intrínseco nesta sociedade capitalista e branca que as instituições impregnadas de violência e racismo conseguiram a proeza de fazer a vítima de tentativa de assassinato ser duplamente agredida, uma por seu algoz, Sérgio, e outra pela polícia, que em tese deveria protege-lo, agrediu-o algemando e levando-o na parte de traz da viatura.

Parafraseando o grupo musical o Rappa, quando diz: “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, é a única forma de expressarmos o racismo nítido da Brigada ao forçar um homem negro trabalhador com um corte no pescoço, tentativa de homicídio, ser algemado e empurrado a entrar no camburão. Enquanto o agressor, homem branco, teve tempo de ir até o seu apartamento para pegar documentos e colocar uma camisa. Momento em que se desfez da faca. Além, de que foi conduzido no banco traseiro de outra viatura. A diferença de tratamento dispensado a ambos não deixa dúvidas.

Como se isto já não fosse repulsivo o suficiente, o governador Eduardo Leite (PSDB), obrigado a manifestar-se sobre o caso, visto o mesmo ter tomado abrangência nacional, se limitou a dizer que “tudo será apurado e que confia na conduta dos homens e mulheres da Brigada”.

Não é nada de novo tanto na postura racista de Sérgio, que em nome da certeza da impunidade que a sociedade racista lhe aufere, a ponto de tentar assassinar um homem negro em plena luz do dia e diante de testemunhas, ou, do papel da Brigada como órgão de repressão, opressão e discriminação constituída pelo estado brasileiro contra nossa classe, em especial contra negros, indígenas, LGBTIs e todos os oprimidos e marginalizados.

Por fim, a postura do governador expressa o lugar de classe que ocupa e por isso mesmo não cita em nenhum momento que se trata de um caso de racismo. Porém, os dados da própria imprensa mostram que o Brasil ocupa o 3º lugar no mundo com o maior sistema carcerário, onde a grande maioria dos presos são negros e negras, e onde as pesquisas oficiais mostram que para a polícia o tipo suspeito é sempre o negro.

Exigir inflexão, humanidade, empatia do governador Leite é o mesmo que esperar um raio num céu azul. Se trata de um genuíno defensor dos interesses da elite branca do estado, da instituição Brigada Militar. As notícias de hoje (19/02) é que 02 brigadianos envolvidos no caso de racismo, foram transferidos para funções administrativas.

Mas como todos sabemos, o capitalismo se nutre do racismo e das opressões cotidianamente para se manter, por isto nossa solidariedade ao Everton vai no sentido de manifestar nossa indignação e ódio de classe ao sistema e suas organizações racistas e exigir punição a todos os envolvidos, desde ao racista Sérgio que lhe agrediu e aos brigadianos e brigadianas que o discriminaram, prenderam e o humilharam ao conduzirem algemado na parte do “camburão” da viatura.

Sabemos que o fim do racismo só é possível com o fim do capitalismo e a sociedade de classes, por isto lutamos juntos como classe contra todas as formas de opressão, discriminação e exploração.

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