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O que fazer? Governo Lula, bolsonarismo e as eleições em 2024

Júlio Anselmo

4 de abril de 2024
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Lula com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aeronáutica) – Ricardo Stuckert/Presidência da República

As eleições deste ano já estão em cena nas cidades pelo país. A fase atual de definição das pré-candidaturas é importante, pois as opções feitas por cada partido já demonstram o programa que irão defender. Apesar das eleições serem municipais, a polarização nacional entre Lula e Bolsonaro se expressará com força. Isso coloca grandes desafios para os revolucionários e socialistas.

As frentes amplas do PT com a burguesia

Lula e o PT vêm impulsionando a construção de frentes amplas com todos os setores burgueses que não sejam bolsonaristas. No geral, se dá com o PT apoiando candidatos da direita tradicional ou encabeçando a chapa. Diante dos perigos que a ultradireita expressa, muitos ativistas de esquerda consideram essa política correta.

Contudo, depois de um ano do novo governo Lula, devemos nos perguntar à qual projeto de sociedade este governo está servindo e se ele está ajudando no combate à ultradireita.

Na eleição, o discurso de Lula era de que sua vitória significaria melhorias na vida do povo. Mas, enquanto Lula comemora os índices econômicos que são exigidos pela burguesia, o povo vem sofrendo com a alta dos preços dos alimentos.

No campo político, o governo não enfrenta o bolsonarismo. Ao contrário, faz parcerias, como nas privatizações firmadas com Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Assim como costura um acordão para restaurar a confiança nas Forças Armadas, após a tentativa golpista do “8J”. Quando Lula diz para o povo esquecer o que foi o golpe militar de 1964, fica nítido o tamanho desse pacto reacionário.

Ao serem confrontados com isso, os petistas respondem que falta correlação de forças, que não há condições de fazer mais. Isso é verdade? Não há correlação de forças para um ato de descomemoração do golpe de 1964? Esse é o momento em que as Forças Armadas estão na maior defensiva, desde o fim da ditadura.

Lula governa para os bilionários capitalistas

O problema de Lula e do PT é que enfrentar o bolsonarismo, de verdade, significa ter que se enfrentar com suas políticas econômicas capitalistas. Implica em se indispor com outra ala da burguesia. Mas, o projeto político do PT – de se manter nos estreitos limites do sistema capitalista, respeitando e governando junto com todas as alas burguesas possíveis – o impede de, minimamente, se enfrentar até mesmo com Bolsonaro.

É um governo que não defende o enfrentamento de classe, em defesa dos direitos dos trabalhadores; mas, sim, o apaziguamento reacionário, nos marcos da confiança cega no regime democrático burguês e nas suas instituições, como o Supremo Tribunal Federal.
Para além da composição dos ministérios, cheios de partidos de direita, o governo Lula implementa uma política econômica e fiscal que favorece aos bilionários, aprofunda a decadência do país e avança na retirada de direitos dos trabalhadores.

Dinheiro para os patrões, ataques aos trabalhadores

Os investimentos anunciados, longe de garantirem direitos, empregos e salários, funcionam como transferência de recursos públicos para as multinacionais. Só as montadoras recebem R$ 20 bilhões por ano, em isenção fiscal, e não garantem empregos ou salários dignos.

Enquanto isso, o governo corta verbas da Educação e da Saúde, busca aprovar um projeto de lei que ataca os trabalhadores de aplicativos e, ainda, agrada às multinacionais do setor, já que não mexe em nada nos exorbitantes lucros dessas empresas.

O governo Lula não está numa encruzilhada como dizem alguns setores da esquerda. Por conta das suas políticas capitalistas e burguesas, ele é a encruzilhada.

Péssimos exemplos

Com o PSOL será diferente?

Boulos com Alexandre Giordano (MDB), empresário paulista
e senador por SP, que foi suplente do Major Olímpio

Em São Paulo, a Frente Ampla aparece diferente, com Boulos (PSOL) encabeçando a chapa e Marta Suplicy (PT) como vice. Isso gera certa expectativa em setores do ativismo de esquerda. Afinal, diante dos descaminhos do PT, seria o PSOL capaz de fazer diferente e apresentar uma alternativa que realmente enfrente a burguesia e o bolsonarismo?

Em Belém

Vejamos. Belém, capital do Pará, tem sido governada pelo PSOL nos últimos 4 anos, mas Edmilson Rodrigues não enfrentou os capitalistas na prefeitura e, hoje, goza de uma desaprovação recorde, de mais de 70% da população, correndo seríssimo risco de perder a reeleição.

Lá, os empresários dos ônibus, do mercado imobiliário e demais setores capitalistas não viram nada mudar em seus lucros. A prefeitura do PSOL não implementou direitos básicos dos trabalhadores. Por exemplo, segue sem pagar o piso dos professores. Inclusive, os servidos públicos de Belém estão em greve nesse momento.

A candidatura de Boulos

Devemos nos perguntar se Boulos será capaz de propor a reestatização da ENEL (que vem deixando São Paulo no escuro toda hora) ou enfrentar a máfia dos transportes, que rouba a população com tarifas caríssimas e um serviço péssimo. Não parece factível, diante dos acenos que faz aos empresários em jantares na Faria Lima (avenida símbolo do capital na cidade), nos quais anuncia que não irá demonizar o mercado.

Quando cobrado sobre a falta de apoio ao povo palestino, Boulos disse que não concorria à prefeitura de Tel Aviv, num claro escárnio diante do genocídio cometido por Israel. Não se trata apenas de uma escorregada; mas, sim, de um programa que não aponta para o enfrentamento necessário com os capitalistas.

Há setores no PSOL que criticam Boulos e o caminho que a direção desse partido adota, cada vez mais próximo ao PT. Contudo, mesmo nas capitais onde esse setor crítico dirige o PSOL, a adesão ao PT foi realizada. É o caso do Rio Grande do Sul, onde o PSOL apoiará a candidatura de Maria do Rosário (PT).

Independência de classe

Derrotar o bolsonarismo é construir uma oposição de esquerda ao governo Lula

Como justificativa para apoiar o governo Lula e a aliança com a burguesia, setores da esquerda dizem que é preciso, primeiro, derrotar Bolsonaro. Evidentemente, o bolsonarismo é inimigo dos trabalhadores e é perigoso, em função de seu projeto de barbárie e autoritarismo.

Porém, é falso acreditar em uma conjuntura futura indefinida, onde tudo voltará à normalidade e o bolsonarismo não existirá mais, mesmo sob o capitalismo. Isso é não entender que o “novo normal” é a existência do bolsonarismo, como expressão da degeneração do capitalismo. Seguirão existindo se não forem derrotados.

Para serem derrotados é preciso mudar as condições sociais, econômicas e políticas que dão base para que eles se criem e se alimentem. Se os capitalistas e esse sistema não forem derrotados, o bolsonarismo seguirá existindo.

Por isso, a palavra de ordem de “primeiro derrotar Bolsonaro”, nessa situação, só serve para perpetuar uma esquerda que defende o capitalismo e a burguesia. Quando o que, de fato, precisamos é de uma esquerda que enfrente o capitalismo e a burguesia para derrotar o próprio bolsonarismo.

Isso só é possível sendo oposição de esquerda ao governo Lula. Uma oposição que se mantenha independente dos blocos burgueses em disputa e se enfrene com a oposição de ultradireita.

Disputa ideológica contra o capitalismo

A tarefa dos revolucionários e socialistas nas eleições

Pré-candidato à Prefeitura de SP pelo PSTU, Altino

A ultradireita está disputando o povo, ideológica e programaticamente. Enquanto o PT faz propaganda do seu capitalismo supostamente inclusivo, com mais gastos públicos, como faz Biden, nos Estados Unidos, e um setor do imperialismo, que não resolve a desigualdade social, a violência urbana e todos os problemas graves do povo brasileiro.

95% do povo está cada vez mais pobre porque 1% de bilionários capitalistas está cada vez mais rico! Quando os trabalhadores reivindicam melhorias de salário, educação e saúde, os bilionários capitalistas e seus governos respondem que não há dinheiro, que não é possível aumentar os salários, pois isso pioraria a economia, e que é preciso cortar direitos para aumentar a produtividade. Enquanto isso, seguem levando os trilhões para as multinacionais, lá fora ou para os paraísos fiscais.

A burguesia já se mostrou incapaz de resolver os problemas do Brasil. Os trabalhadores e trabalhadoras precisam ter independência diante da burguesia, para tirar o poder e o dinheiro dos bilionários. Se as reivindicações dos trabalhadores causam problemas às grandes multinacionais e aos lucros dos bilionários, então que essas empresas sejam tomadas pelos trabalhadores.

Candidaturas e um programa de oposição de esquerda

Para garantir os direitos dos trabalhadores de aplicativos é preciso estatizar a UBER, a Ifood e demais empresas, colocá-las sob controle dos trabalhadores. Só assim seria possível garantir salários dignos e direitos, assim como baixar os preços para os usuários, reduzir a margem de lucros que hoje vão para os seus donos e acionistas bilionários.

Não existirá crescimento econômico que beneficie os trabalhadores, ou desenvolvimento capaz de resolver as mazelas sociais, ou industrialização de verdade que coloque o país em outro patamar, se não estatizarmos as 250 maiores empresas.

Por isso, a tarefa dos revolucionários e socialistas nas eleições é apresentar e defender um programa socialista e revolucionário, que reivindique um governo dos trabalhadores, sem patrões, contra o projeto do governo Lula e do PT, que seguem governando para os ricos, como também contra o projeto bolsonarista, baseado em mentiras, propaganda das ideologias burguesas e alimentadoras de opressões e preconceitos.

Só assim será possível garantir emprego, salário, educação, saúde, moradia, saneamento básico para o povo. Assim como garantir os direitos dos povos originários, dos negros, mulheres e LGBTI+.

Lutar pelo socialismo

Esse programa deve se desdobrar e se concretizar em cada cidade do Brasil, de modo que a eleição sirva para disputarmos os trabalhadores e trabalhadoras. Pois, ao contrário do que diz Bolsonaro, o problema do Brasil não é falta de capitalismo ou a falta de apoio ao agronegócio. O problema é justamente que muda regime, mudam governos e os interesse dos capitalistas, de uma forma ou de outra, seguem reinando.
A saída é defender outro tipo de sociedade, onde não exista exploração e opressão. Isso é o que significa lutar pelo socialismo.
Você pode ajudar, construindo e apoiando as candidaturas revolucionárias e socialistas do PSTU. O partido já lançou vários pré-candidatos em diversas cidades. Venha construir conosco essas candidaturas, um programa socialista e uma saída estratégica para os trabalhadores.