Onda de ocupações de escolas sacode o Rio de Janeiro! #OcupaTudo

Fotos Paollo Rodajna
Já são 28 escolas estaduais, normalistas ou técnicas ocupadas pelos estudantes em todo o estado do Rio de Janeiro em defesa da educação pública e contra os ataques do governo Pezão e Dilma. Os estudantes fluminenses têm como referência a luta dos estudantes de São Paulo, Goiânia e Chile.
Esta onda de ocupações já entrou para a história. Os estudantes controlam completamente as escolas ocupadas. Organizam a alimentação, limpeza, segurança e garantem diversas atividades. As ocupações questionam o próprio poder da Secretaria de Educação, governo e Estado. A auto-gestão das escolas demonstra a plena capacidade dos estudantes em gerir democraticamente a escola e como o controle por parte dos governantes serve apenas para manter as escolas sob os interesses dos ricos e poderosos.
A hashtag #OcupaTudo embala os sonhos da atual geração de estudantes, guerreiros, corajosos e bravos que enfrentam o governo, a mídia manipuladora, polícia e todos que desacreditam da luta.
Como tudo começou?
O Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes na Ilha do Governador foi a primeira escola ocupada no dia 21 de março. No dia 28 de março foi a vez do CE Gomes Freire na Penha realizar sua ocupação. No dia 4 de abril há um salto e mais três colégios são ocupados. Daí por diante vão se ocupando vários colégios por dia.
“A gente se sente muito orgulhoso. Vinte e seis escolas ocuparam porque o Mendes ocupou. Essas escolas procuraram a gente. Nossa perspectiva de luta é que não vai parar por aí. O governo pode se preparar que vai ter muito mais escolas ocupadas. Eles não vão conseguir derrubar a gente e só vamos desocupar as escolas quando os estudantes forem ouvidos”, afirma Alessandro Ribeiro do CE Pref. Mendes de Moraes.
A luta não se iniciou de agora. Vem desde o início do ano, mas diante da intransigência do governo os estudantes foram avançando na luta. “Antes a gente já havia feito algumas manifestações para ter uma atenção da Seeduc(Secretaria de educação) e eu já mandei um email pra Seeduc e eles nunca me responderam. (As ocupações) Foram mais pra ter atenção e apresentar nossas pautas”, afirma Beatriz Aquino do CE Heitor Lira.
As ocupações ocorreram depois de intensas manifestações em vários bairros e cidades do estado. Entretanto, o governo permaneceu em silêncio diante da mobilização estudantil. Então um passo ousado e corajoso foi dado: “O governo não presta atenção nem da voz aos estudantes. Infelizmente as ocupações das escolas é o único jeito do governo prestar atenção. Nós temos uma prova disso. Porque depois de duas horas da ocupação do Mendes o gabinete do secretário ligou para nós. Já temos a prova que todas estas ocupações estão tendo uma visibilidade muito grande”, conclui Alessandro.
A luta é contra o governo Pezão e Dilma!
As reivindicações dos estudantes são muitas e diversas por conta da péssima situação que se encontra a educação pública no estado. Este fato foi agravado ainda pelos cortes de verbas, ataques aos direitos, promovidos tanto pelo governo Pezão quanto por Dilma.
“A situação está muito precária. Por exemplo, temos que pagar por provas e por xerox. E o curso normal está correndo risco de acabar”, afirma Natalia do CE Heitor Lira. “A gente quer as melhorias pra nossa escola. Esses cortes de verbas são um absurdo. E boa parte dos problemas tem a ver com o corte de verbas”, afirma Beatriz.
Alessandro completa: “As pautas são várias, entre elas o fim do SERJ, o fim do currículo mínimo, que todas as escolas tenham uma boa infraestrutura, o apoio à greve dos professores, e muitas outras pautas porque a educação pública do estado está precária então é meio impossível a gente decorar todas as pautas de reivindicações”.
“Se o governo tem milhões para dar isenção para empresas privadas ele também tem para investir na escola pÚblica. Se o governo quer formar pessoas burras, que é o que ele realmente quer, isso não vai acontecer, porque a juventude hoje está bem acordada então é bom o governo ficar esperto”, afirma Natalia.
Arthur Cesar do CE Gomes Freire afirma: “Olha nossos inimigos são os governos mesmo. Quem nos governa tem culpa no cartório. Essa história de dizer que não tem verba já virou clichêzinho barato”. E emenda: “É bizarro porque a gente já está cansado de ouvir aquela frase: ‘não tem mais verbas’. Eles não têm a coragem de terminar a frase: ‘Não tem mais verbas pra educação’. Mas para outras coisas tem. Por exemplo, essa maravilhosa olimpíada que vem chegando pra animar o povão e fazer a gente se desconcentrar de todas essas ocupações. Eles diZm pra nós que acabou a verba, mas quem pensa está ligado que tem verbas sim”.
De acordo com Alessandro: “A onda de ocupações está mostrando que essa crise está atingindo até a educação e os estudantes. E o governo que cortou bilhões da educação tem muito a ver com isso. Nós estudantes, uma vez conseguindo derrubar um governo, podemos fazer muitos mais que isso que é derrubar todos os governos que estão precarizando cada vez mais não só a educação estadual, mas a educação do Brasil inteiro. O Brasil tem tudo para ser um pais de primeiro mundo, mas não é por causa desses governos corruptos”.
E completa: “O inimigo vai muito além do governo estadual, vai até a presidenta. Foi que ela que fez os cortes na educação. Então a luta não para no governo estadual, vai até o governo federal também. Fora todo mundo, fora todos os governos, fora todos essas pessoas corruptas. Fora Dilma, Pezão, Dorneles, Aécio, Cunha. É o sujo falando do mal lavado. Temos que tirar todos eles sim e mostra que o povo e os estudantes têm voz”.
“Então a crise serve para mais uma vez atacar a classe trabalhadora. Nós não fizemos a crise. A cada dia mais nós produzimos a riqueza e não temos o poder dela. Então o governo vai sim tentar se armar contra a ocupação. A cada dia que passa fazer mais coisa pra desmobilizar. Não adianta eles tentarem algo do tipo porque vamos permanecer ocupando”, conclui. Nathanael do CE Matias Neto em Macaé completa afirmando: “É muito lindo você ver que as pessoas tem voz, que os estudantes tem voz e poder de fazer coisa que não eram possíveis até então.”
O desespero do governo Pezão
O governo já entrou com pedido de reintegração de posse do CE Mendes de Moraes. Utilizou o Conselho Tutelar para intimidar os estudantes. Preparou as direções de escolas e a Seeduc para tentar deslegitimar e evitar as ocupações. Mas nada disso impediu a heroica luta dos estudantes.
O governo utiliza ainda a tática de tentar deslegitimar o movimento estudantil e suas organizações. Afirmaram que os estudantes estavam sendo manipulados pelos professores e entidades alheias à comunidade escolar.
Sobre isso Arthur é taxativo: “Tudo falta de argumento querendo buscar algum ponto negativo que nos faça retirar dos colégios. Quando na verdade todos sabem que somos nós mesmos que comandamos tudo isso. É tudo da nossa cabeça. Ninguém é alienado assim dessa forma”.
“O governo está amedrontado. Ele sabe que esta guerra vai ter uma vitória dos estudantes que são a futura geração. Não adianta o governo falar porque nós vamos derrubar eles sim. Vamos derrubar um por um, todos aqueles que roubam da saúde, educação e segurança”, emenda Nathanael.
Beatriz também dá sua opinião: “Eu acho que é uma desculpa para eles não virem pro colégio conversar com a gente . Eles não conseguem ter um argumento melhor pra falar.”
“Ele (o governo) acha que os estudantes não têm voz, que são seres acéfalos e não conseguem pensar nem se organizar. A resposta pra isso são essas 26 escolas ocupadas que começou com o Mendes no Rio, São Paulo no Brasil, e no Chile no mundo. Nós não somos guiados pelos professores nem influenciados por partidos políticos. E mesmo se fôssemos, nós vivemos uma democracia e todos tem direito de se manifestar. Mas nós não somos. Somos independentes. E nós estamos lutando e fazendo muito barulho e isso que perturba o governo e ele está tentando criminalizar esse movimento por causa disso”, diz Alessandro.
Para Natália, “os jovens hoje em dia tão tendo a noção de como é o sistema e estão querendo mudar isso e quem está no poder sempre fica com medo”.
Sobre os apoios externos, Alessandro conclui que: “Tivemos muito apoio sim de entidades estudantis como ANEL. Deixando bem claro que nós alunos do Mendes repudiamos qualquer tipo de entidade estudantil que tem patrocínio de governo, de partidos e que sejam governistas. Tivemos apoio da comunidade, dos professores grevistas, desembargadores, juízes, instituições e tivemos uma resposta muito boa de toda a população em relação às ocupações”.
Escolas Ocupadas
1 – Mendes – Ilha
2 – Gomes – Penha
3 – Heitor Lira – Penha
4 – Cairu – Meier
5 – Euclydes Paulo da Silva – Marica
6 – Matias Neto – Macaé
7 – João Nery – Mendes
8 – ETE Helber Vignoli – FAETEC Bacaxá
9 – Clovis Monteiro – Jacaré
10 – Stuart Angel – Senador Camará
11 – Irineu Marinho – Caxias
12 – IEPIC – Niteroi
13 – Guanabara – Volta Redonda
14 – Paulo Paranhos – Iguaba
15 – CIEP 295 – Prof. Gloria Roussin Guedes – Volta Redonda
16 – CE Chico Anysio – Tijuca
17 – Luiz Carlos da Vila – Jacaré
18 – CE Bangu
19 – CIEP 403 Prof. Maria Lurdes Giovanette – Volta Redonda
20 – CIEP 335 Prof. Joaquim de Freitas – Queimados
21 – ETE Juscelino Kubitschek – FAETEC – Jardim América
22 – CE Prof. Alfredo Balthazar da Silva – Magé
23 – ETE João Barcelos FAETEC – Campos
24 – CE Herbert de Souza – Rio comprido
25 – CE Hispano Brasileiro – Meier
26 – CE Nilo Peçanha – São Gonçalo
27 – CE Edmundo Silva – Araruama
28 – CE David Capistrano – Niterói