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“Operação Barbarossa”, o papel de Stálin e a tragédia soviética

Geraldo Batata, de Contagem (MG)

9 de julho de 2025
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Nos últimos anos, a máquina de propaganda estatal russa difundiu uma enorme quantidade de material exaltando o papel do Exército Vermelho na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. O objetivo é estabelecer um paralelo entre a vitória passada do Exército Vermelho contra o nazismo e a atual invasão imperialista russa na Ucrânia. Na verdade, não existe nenhum paralelo neste processo, são opostos. O que há, sim, como possibilidade de comparação: a URSS se transformou num Estado Operário Degenerado, fruto da contrarrevolução política dirigida por Stálin dentro Estado soviético. Por outro lado, o regime de Putin é uma ditadura burguesa, que restringiu as liberdades democráticas para a classe trabalhadora russa, invade outras nações, e oprime nacionalidades.

A derrota do nazismo impediu a disseminação pelo mundo de uma gigantesca máquina de extermínio em massa e escravização de amplas parcelas da população, primeiramente contra adversários políticos, comunistas, socialistas, ou mesmo da pequena burguesia democrática, para, em seguida, direcionar o extermínio contra judeus, eslavos, ciganos, etc. Remodelou completamente a relação entre as potências imperialistas, criando uma nova ordem internacional com superioridade incontestável dos EUA, submetendo não só Alemanha, Japão e Itália, mas também as potências capitalistas aliadas.

Também abriu um ascenso revolucionário do proletariado e camponeses pobres na Ásia, África e América Latina, num processo combinado de descolonização e revolução socialista. Uma onda revolucionária em que as classes exploradas e oprimidas enfrentaram e venceram as potências imperialistas, do Eixo e dos Aliados. Já na década de 1970, ainda sob os impactos do pós-guerra, contingentes revolucionários se batiam contra potências coloniais em Angola, Moçambique, Vietnã, Nicarágua etc. Algumas caminharam para a expropriação das suas burguesias pró-imperialistas, levando à expropriação de terras, comércio e fábricas. Outras ficaram restritas a regimes burgueses nacionais, que retrocederam rapidamente à dependência semicolonial ante as antigas potências colonizadoras.

É evidente que a vitória contra o nazi-fascismo teve o protagonismo de todos os povos soviéticos, mas também das resistências operárias nos países capitalistas ocupados e mesmo dentro dos países fascistas. Lembremos de Mussolini enforcado pela resistência italiana.

Porém, os custos de vidas ao final da guerra tiveram um responsável, localizado em um posto-chave do regime soviético: Stálin saiu da guerra proclamando-se o grande vencedor. Sua máquina de propaganda e de enganos fez com que se esquecesse dos seus crimes que permitiram a carnificina. Após a guerra promoveu novos expurgos, em que soldados, heróis de guerra, espiões, partisans, foram parar nos porões da NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos da União Soviética, uma espécie de polícia política do regime stalinista).

Stálin foi o dirigente do processo contrarrevolucionário protagonizado pela burocracia soviética desde a morte de Lênin. Um processo de degeneração que destruiu o partido, atingindo praticamente todas suas correntes: trotskistas, zinovievistas, bukarinistas, dirigentes sem partido, Exército Vermelho, NKVD etc. Do ponto de vista militar, os nazistas não tiveram um aliado melhor que o próprio Stálin.

Os Expurgos no Partido Bolchevique, no Exército Vermelho e nas Defesas Soviéticas

O Exército Vermelho foi criado pelos bolcheviques, com Leon Trotsky à frente, como a “Comissão do Povo para a Guerra”, em 1918. Foi uma força armada revolucionária composta por soldados do antigo exército que se voltaram contra o regime czarista, operários e operárias que se alistaram para defender a revolução, camponeses e estudantes. Foi responsável por derrotar o “Exército Branco”, czarista e exércitos estrangeiros como do Reino Unido, França, Japão, EUA, tchecos, e outros países. Em 1921 havia derrotado as forças contrarrevolucionárias e consolidado a república dos Soviets.

Antes, os expurgos atingiram várias esferas do Estado soviético e do partido. Começou com processos de falsificações conhecidos como “Processos de Moscou”, contra antigos dirigentes da Oposição de Esquerda e Unificada, para em seguida atingir o alto escalão de diplomatas soviéticos, dirigentes partidários em toda a URSS. Vadim Rogovin, baseando-se nas caracterizações de Trotsky, escreve:

O terceiro processo de Moscou se mostrou um laboratório de mentiras gigantescas que superou todas as dramatizações judiciais anteriores em seu cinismo e descaramento. Ele veio confirmar as previsões de Trotsky na época do processo de Radek-Piatakóv: ‘Stálin é como um homem que, para tentar matar a sede, bebe água salgada. Ele será obrigado a encenar novas falsificações judiciais’. A fraude seguinte apresentava o governo soviético como o ‘aparato centralizado da alta traição’, e todos os membros do Politburo leninista – exceto Stálin – eram conspiradores e traidores, mesmo na época em que o poder estava concentrado em suas mãos. Segundo o quadro pintado durante o julgamento, o primeiro escalão de diplomatas soviéticos (Rakóvski, Krestinski, Karakhán, Iureniév, Bogomólov etc.) estava a serviço de inteligências de países estrangeiros. A maioria esmagadora do Comissariado do Povo da URSS e todos os chefes de governos de três dezenas de uniões e repúblicas autônomas – nomeados pelo movimento das nacionalidades livres – ansiavam pelo desmembramento da União Soviética a fim de colocar seus respectivos povos sob o jugo do fascismo. Quase todos os sabotadores estavam à frente da indústria, do transporte, da agricultura e da economia. Alguns, que deram ao movimento revolucionário trinta, quarenta, cinquenta anos de suas vidas (como Rakóvski), lideraram o trabalho subversivo a fim de restaurar o capitalismo. Em suma, todas essas acusações, que maldiziam a honra do bolchevismo, ultrapassaram até a eliminação da emigração branca, acusando líderes bolcheviques de terem realizado a Revolução de Outubro a mando de Moscou.

Todas as esferas tiveram impacto: economia, cultura, vida social e militar. Os homens e mulheres responsáveis por tarefas diárias na reconstrução econômica, nos planos quinquenais – dirigentes da indústria, das minas, da educação, saúde, artistas, engenheiros, técnicos, diplomatas, dirigentes partidários, generais, almirantes, capitães de navios, pilotos – foram sumariamente fuzilados e substituídos por outras camadas que, com o tempo, tinham o mesmo destino. Toda a sociedade soviética entrou numa fase de estagnação e decadência, manifestadas pela ausência de iniciativas, criatividade e terror.

Durante o período de repressão stalinista, as prisões e campos de concentração ficaram lotados. Segundo Rogovin, cerca de 1.372.329 pessoas foram presas por motivos políticos com acusações de serem “contrarrevolucionários”, “inimigos do povo”, “agentes alemães”, das quais cerca de um terço foram fuziladas.

Entre 1936-1938, a eliminação da cúpula militar do Exército Vermelho, começando pelo Marechal Mikhail Tukhachevsky, teve impacto profundo sobre toda a defesa da URSS. Não se tratava apenas de uma troca de comando nos marcos das disputas intraburocráticas, mas do desmantelamento de toda a estrutura que faria frente à invasão nazista, já previsível naquele momento.

A sociedade soviética já estava profundamente burocratizada, a vida intelectual e as iniciativas esterilizadas por uma lógica burocrática. Mesmo antes dos expurgos as medidas burocráticas tiveram efeitos nefastos. Um exemplo foi a chamada “coletivização forçada”, que promoveu uma verdadeira guerra civil, principalmente na Ucrânia, com mortes, prisões e desorganização da produção agrícola, levando à fome milhões de soviéticos.

Impactos dos “expurgos”

O crescimento da produção industrial caiu de 28,8% em 1936 para 11,1% em 1937 e 11,8% em 1938. Entre 1939 e 1940, a produção de aço, ferro fundido e laminados ficou estagnada, enquanto a produção de tratores e automóveis se reduziu frente a 1936. Os impactos econômicos também foram visíveis na indústria de defesa.

O historiador militar soviético Boris Semionovich Telpukhovski, que escreveu o livro História da Grande Guerra Patriótica, descreve alguns erros e falhas na produção de armamentos que fizeram falta na defesa soviética:

“Novos modelos modernos de aviões foram postos em construção em 1940: o Yak-1 e o MiG-3, dos caças, e o Pe-2, bombardeiro. Mas, em fins de 1940, as quantidades produzidas alcançaram para os MiG-3: 20 unidades, para os Yak-1: 64 unidades e 2 bombardeiros Pe-2. A situação melhorará durante o primeiro semestre de 1941, que registra a produção de 1946 MiG-3 e Yak-1, 458 bombardeiros Pe-2.”

Para o autor, apesar do aumento da produção, ainda era insuficiente para modernizar a aviação soviética e fazer frente à aviação alemã, pois a grande maioria dos aparelhos à disposição eram modelos antigos.

Em relação aos novos carros de combate KV e T-34, somente foram colocados em fabricação em 1940 e deram um salto em 1941. Mesmo assim, quando da invasão alemã, somente 27% dos tanques produzidos estavam em condições de batalha. O mesmo pode ser dito da produção de fuzis, canhões e armas automáticas.

Os Expurgos nas Forças Armadas

Todas as forças de defesa e inteligência foram dizimadas, desde os altos escalões – onde se debatiam as políticas estratégicas e se formularam as doutrinas – até os escalões inferiores. A moral e a disciplina foram destroçadas. Os novos oficiais jamais poderiam substituir a experiência e adestramento dos antigos, muitos dos quais com prática na guerra civil e treinados por mais de uma década nas academias militares. Segundo comunicado enviado a Stálin em 1939, 85% dos novos comandantes de todos os níveis tinham menos de 35 anos, ou seja, sem a devida formação e experiência em combate.

Todos sabiam, desde 1933, das intenções de Hitler de acabar com o regime soviético. Seguramente, os expurgos encorajaram Hitler na decisão da invasão. Como era possível esse Exército decapitado enfrentar os experientes oficiais do exército alemão? Enfrentar suas divisões muito bem equipadas, com tanques modernos? Enfrentar sua aviação com aparelhos de última geração e pilotos experientes e bem treinados? A doutrina Blitzkrieg mostrou-se extremamente eficaz para dominar a Europa continental e era perigo real.

Há muitas controvérsias sobre o número de atingidos pelos expurgos no Exército Vermelho e demais forças de defesa. A partir da Perestroika, de Mihail Gobartchev, pesquisadores tiveram acessos aos arquivos do Estado, incluindo da KGB e PC, onde pode-se encontrar dados mais próximos da realidade.
Os expurgos atingiram a NKVD, encarregados das “tramoias”, “amálgamas”, fuzilamentos, utilizando os métodos mais horrendos de violência física, como torturas, ameaças e chantagem… contra homens e mulheres que dedicaram décadas à causa revolucionária e ao socialismo. Seus principais dirigentes, Yagoda e depois Yezhov, carrascos de Stálin, foram sumariamente fuzilados, assim como seus assessores mais próximos – em verdadeiras operações de queima de arquivos.

Na trágica campanha na Finlândia, a partir de novembro de 1939, ficou evidente a debilidade e o grau de degeneração do Exército, o que levou a medidas de reabilitação de parcela dos presos. Isso possibilitou manter algum potencial defensivo no início da guerra, no entanto, a baixa moral, a falta de treinamento, e, claro, o elemento “surpresa” levaram a um desastre. Segundo Rogovin, “em 1941 foram perdidos 67% das armas de fogo, 91% dos tanques e canhões automotores, 91% das aeronaves de combate, 90% das armas e morteiros que estavam a serviço do Exército Vermelho no início da guerra.”

O acordo Hitler – Stálin, “Ribbentrop-Molotov”

Em 22 de agosto de 1939, Hitler realizou uma conferência conjunta entre os estados-maiores militares e civis da Alemanha. Nesta oportunidade declara solenemente:

“Provavelmente nunca mais haverá outro homem a ter tanta autoridade sobre o povo alemão e a ter tanto a sua confiança como eu… nossos inimigos não são nem senhores, nem homens de ação… são homens de condição baixa, inferiores, vermes… as potências ocidentais não mexerão um dedo para defender a Polônia… dei ordens a meus SS cabeças de morte de se dirigirem para o Leste e de atirar sem a menor piedade em todos os homens, mulheres e crianças de língua polonesa e de raça eslava. A Polônia será esvaziada de sua população e povoada novamente pelos alemães. E mais tarde, senhores, a Rússia terá a mesma sorte que a Polônia… esmagaremos os russos. Então veremos a Alemanha dominar o mundo!”

No dia seguinte, 23 de agosto de 1939, Ribbentrop assinou em Moscou o Pacto de Não-Agressão Germano-Soviético. Hitler tinha bem claro seus objetivos com o Acordo com Stálin. Manter a URSS de mãos atadas, sem construir um bloco de países aliados, enquanto promovia sua Blitzkrieg no flanco Oeste e Norte europeus, derrotando e ocupando os Polônia, Dinamarca, Noruega, Países Baixos, França, os Balcãs, acumulando riquezas, soldados e infra-estrutura para promover o maior objetivo: destruir o Estado Operário da URSS. Este, enquanto existisse, significava um perigo à propriedade privada.

Em 21 de agosto, dois dias antes da assinatura do pacto, é firmado um acordo comercial em que a Alemanha concede créditos de 200 milhões de marcos para a compra de máquinas, ferramentas e equipamentos industriais, enquanto a URSS forneceria trigo, cereais e petróleo. Enquanto os nazistas tomaram a Europa, Stálin fornecia os insumos para sua máquina de guerra.

Stálin aplica uma política de “neutralidade” e faz de tudo para não “provocar” Hitler. Em 11 de fevereiro de 1940, é assinado um novo acordo comercial com a Alemanha.

Em que pese a política de “neutralidade”, as movimentações ofensivas de Hitler não passam totalmente despercebidas para militares, repreendidos sucessivamente por Stálin para evitar provocações aos alemães. Após a rápida derrota francesa, em maio de 1940, em 26 de junho deste ano, um decreto do Presidium do Soviet Supremo coloca praticamente a indústria em pé de guerra, estabelecendo jornadas maiores de trabalho e medidas disciplinares mais rígidas. Mas, sem no entanto tomar medidas de defesa concretas ao longo da fronteira.

A Preparação da Operação Barbarossa

Em 28 e 29 de julho de 1940, Hitler pede ao seu Estado-maior para preparar a campanha contra a URSS, transmitindo a um grupo seleto de oficiais a altos funcionários da economia do Reich: “abater a Rússia, próximo objetivo do exército.”

Em 9 de agosto de 1940 é promulgada a ordem Aufbau-Ost, o primeiro texto que ratifica a operação (ainda sem nome), onde se prevê a organização da infraestrutura necessária para a futura invasão: construção de pontes, aeródromos para caças e bombardeiros, estoques para abastecimentos, depósitos de munições e reposição de peças.

Em 30 de setembro de 1940, o general Von Paulus é encarregado de fazer os cálculos para o plano Barbarossa, nome dado à operação, prevendo a movimentação de 5 milhões de homens e toda a logística necessária. Em 18 de dezembro é promulgada a Diretiva número 21: Operação Barbarossa:

“Devemos destruir o grosso do Exército Soviético por audaciosos movimentos de nossas tropas penetrando em profundidade, realizados por forças de choque blindadas… impedir que as unidades inimigas em estado de combater batam em retirada… alcançar, graças à perseguição rápida, linha distante donde a aviação russa não possa mais atingir o território do Reich… capturar rapidamente Moscou cuja tomada constituiria vitória decisiva, do ponto de vista político e econômico… O objetivo final de nossas operações é o estabelecimento de linha defensiva de Arkhangelsk ao Volga, diante da Rússia asiática… a guerra contra a Rússia deve ser empreendida antes de terminar com a Inglaterra e os preparativos do ataque devem estar terminados em 15 de maio de 1941. As maiores precauções serão tomadas para não despertar a menor suspeita.”

Movimentações de tropas e invasões a outros países – Iugoslávia, Bulgária, Romênia e Grécia – são empreendidas rapidamente deslocando efetivos para a fronteira soviética. Por outro lado, a política nazista era promover uma guerra de eliminação, de limpeza étnica, onde todos os civis e militares poderiam ser sumariamente fuzilados ou escravizados. Para isso, as unidades das SS receberam ordens e autorizações especiais de cumprir até o final.

Após todas essas movimentações de tropas e frente a inúmeros avisos, Stálin declara, em 14 de junho de 1941, sete dias antes, via agência Tass, sobre a chegada de Sir Stafford Cripps, embaixador britânico em Moscou:

“Antes da chegada de Sir Stafford Cripps de Londres e principalmente depois, os rumores não cessaram de se avolumar quanto a uma guerra próxima entre a União Soviética e a Alemanha. Espalhou-se igualmente o boato de que a Alemanha havia apresentado à União Soviética reivindicações territoriais e econômicas. Não é outra coisa senão vasta tentativa das potências hostis à União Soviética e à Alemanha, que desejam extensão do conflito.”

A operação “Barba Rossa” em marcha

Quando em 22 de junho, às 3h da manhã, as tropas alemãs – 5 milhões de homens em divisões Panzer, divisões motorizadas, regimentos blindados de infantaria – adentram território soviético numa linha de 2.500 km de extensão, sem encontrar nenhuma resistência, policiais de fronteira são pegos de surpresa e sumariamente fuzilados. A aviação alemã destruiu grande parte das aeronaves soviéticas em solo. Em poucas horas as forças nazistas adentraram 300 km sobre o território.

Como seria possível uma quantidade de tropas movimentar-se até a fronteira e o grande dirigente, “pai dos povos”, não antecipar ou estar ao menos informado e preparar suas defesas?

As primeiras declarações do governo soviético se deram somente às 12h, com Molotov na rádio Moscou. Onde estava Stálin nesse momento crítico? Numa dacha (cabana) na Crimeia, em descanso. E Béria, chefe dos serviços secretos, incluindo a Guarda da Fronteira? De férias em Sukhumi.

Os avisos ignorados

Em 10 de março de 1939, na abertura do XVIII Congresso do Partido Comunista da URSS, Stálin, secretário-geral e ditador, faz um longo discurso abordando temas como a iminência da guerra, os perigos para a URSS, as movimentações das potências imperialistas, anexações e a disputa pela nova partilha mundial. Um trecho do discurso é emblemático:

“Vociferam que a Alemanha anexará a partir da próxima primavera a Ucrânia soviética e seus trinta milhões de habitantes. Na realidade, esses berros de indignação são suspeitos e parecem destinados a levantar entre a União Soviética e os alemães um conflito despido de razões aceitáveis.”

Desde o início da preparação da Operação não faltaram alertas. Redes infiltradas nos serviços de segurança alemães, japoneses, italianos, além de serviços de informação dos governos norte-americano e inglês enviaram alertas e mesmo cópias da operação à mesa de Stálin.

Primeiro aviso

No começo de 1941, o Subsecretário de Estado dos Negócios Estrangeiros Summer Welles, com orientação pessoal de Roosevelt, convoca o embaixador soviético para informar:

“O governo dos Estados Unidos, por iniciativa do Presidente Roosevelt, decidiu comunicar ao Governo soviético informações confidenciais em seu poder. Fomos avisados por vários de nossos agentes, e todos os seus informes se completam, que a Alemanha decidira entrar em guerra contra a URSS e que os preparativos começaram…”

Segundo aviso – Vários avisos da Rado

Entre 15 e 16 de março de 1941, a rede Rado transmite desde Genebra (Suíça) informações muito detalhadas da Operação Barbarossa obtidas por Rudolf Roessler, codinome Lucy, emigrado alemão antinazista refugiado na Suíça. É importante citar que o texto integral da Operação tinha somente 9 cópias, estritamente controladas e sob posse nas diretorias de armas, quartel-general, OKW e o próprio Führer.

Antes, em 20 de fevereiro também foi informado que os nazistas acumularam 650 mil homens no território romeno nas proximidades das fronteiras da Ucrânia. Em de 28 a 29 de fevereiro, dezessete divisões alemãs atravessaram o Danúbio para se instalarem na Bulgária, na base da fronteira soviética.

No dia 17 de março, o plano completo da Operação já estava na mesa de Stálin. Após vários alertas, o Centro em Moscou responde: “cessem de transmitir essas provocações”.

Terceiro aviso

Em 3 de abril de 1941, o primeiro-ministro inglês Winston Churchill envia telegrama a Stálin avisando sobre os alertas de agentes britânicos nos Bálcãs quanto ao deslocamento de tropas para a fronteira soviética. Sem resposta de Stálin.

Quarto aviso

Também no começo de abril, o agente soviético Schwor, um tcheco, revela a movimentação de tropas alemãs em direção à fronteira soviética, e que a fábrica de armamentos Škoda, na Tchecoslováquia, recebera ordem de suspender as encomendas de entrega de armamentos previstos no acordo comercial. Stálin anota com convicção que se tratava de provocação inglesa, ordenando a punição do autor.

Quinto aviso

Em 6 de maio, o adido militar em Berlim, capitão Vorontsov, transmite informações de outra rede infiltrada de que se ouviu diretamente de um oficial do Quartel-General de Hitler sobre os preparativos da invasão. Stálin dá ordem de não conceder nenhum valor a essas informações.

Sexto aviso

Em 12 de maio, Sorge, chefe da rede de espionagem soviética no Japão, Dragão Vermelho, transmite que “170 divisões alemãs acumuladas na fronteira soviética, atacarão em conjunto 20 de junho. Direção esforço principal Moscou. Ramsey”. Stálin também não dá credibilidade às informações do chefe de uma das maiores redes de espionagem soviéticas, trabalhando há 8 anos infiltrada no Japão.

A Confiança cega em Hitler

Existem outros relatos de diplomatas, redes de espionagem importantes como a Orquestra Vermelha de Leopold Trepper, e mesmo a insistência das redes Rado e Sorge. Refugiados poloneses que atravessam a fronteira anunciam a agressão iminente. Mas Stálin permanece em silêncio. Qual o motivo dessas atitudes de Stálin senão a plena confiança que Hitler cumpriria o pacto?

A primeira declaração do “pai dos povos” ocorrerá somente em 3 de julho de 1941, dez dias após a invasão (pasmem), quando milhões de soviéticos já tinham sido fuzilados, mortos sob o fogo dos bombardeios alemães. Stálin não acreditou nos serviços de informação a serviço de Moscou, nem nos inimigos internos do regime nazista (Rado), nem nos países que o enfrentavam (Inglaterra).Soldados alemães atacam vila soviética no verão de 1941

As mortes dos Povos Soviéticos durante a Guerra

Os números apresentados a seguir revelam as consequências devastadoras das políticas de Stálin durante a década de 1930 e sua confiança cega em Hitler. Do total da população da URSS, cerca de 14% foi morta, além de milhões de feridos, amputados e uma quantidade imensa de órfãos, confirmando o caráter de extermínio da campanha. Dentro dessas mortes são estimados 2,3 e 2,8 milhões de judeus. Abaixo listamos estimativas das perdas humanas destacadas pelas Repúblicas Soviéticas, e sua porcentagem do total da população.

Rússia (RSFSR): 13-14 milhões (12-13% da população) – incluindo dezenas de povos da Federação Russa: chechenos, ingushes, kabardines, balkares, bashkires, karelios, tártaros, etc.
Ucrânia:
6,8-8 milhões (17-19,5%) – Além dos massacres nazistas, em 1944, não inclui o massacre estalinista dos tártaros na Crimeia, em 1944.)
Bielorrússia:
2,2-2,7 milhões (24-30%) – proporção mais alta (1 em cada 3-4 habitantes)

Estados Bálticos

Lituânia: 350-500 mil (12-17%)
Letônia: 300-500 mil (15-25%)
Estônia: 100-250 mil (9-23%)

Outras Repúblicas

Moldávia: 200-300 mil (7-11%)
Geórgia: 300-400 mil (8-11%)
Armênia: 150-300 mil (11,5-23%)
Azerbaijão: 300-400 mil (9-12,5%)

Ásia Central

Cazaquistão: 350-500 mil (6-8%)
Uzbequistão: 300-500 mil (4,5-7,5%)
Turcomenistão: 100-150 mil (7,5-11,5%)
Quirguistão/Tajiquistão: 100-150 mil cada (6,5-10%)

O heróico papel dos povos soviéticos na vitória

Os povos soviéticos tiveram um papel heróico na defesa do país. Em que pese toda a desorganização promovida pelas medidas de Stálin, a degeneração do Estado soviético, os expurgos, sua confiança cega em Hitler e na diplomacia.

Algumas medidas defensivas propostas por Toukachevski, antes de seu assassinato, foram mantidas, o que permitiu promover uma reorganização. Como já dissemos, milhares de soldados e oficiais que estavam presos foram soltos e se colocaram à disposição de lutar nas defesas soviéticas, além disos, milhões de operários e camponeses alistaram-se para combater a invsão nazista e o extermínio que promoviam. É preciso destacar também o papel dos movimentos de resistência partisans nos territórios ocupados, principalmente na Ucrânia e Bielo-Rússia. Esses grupos chegaram a centenas de milhares, compostos por operários e operárias, camponeses, agindo na retaguarda contra o inimigo, organizando sabotagens, ataques a suprimentos, às ferrovias, etc… que foram fundamentais para a vitória.

O grande responsável pela tragédia, quantidade de mortes, e o grau de destruição foi Stálin. Este foi responsável por impor o regime de terror, de eliminar a cúpula do Exército Vermelho, mas fundamentalmente de destruir o Partido Bolchevique. Desconsiderou os alertas contundentes de agentes (muitos perderam a vida ao serem descobertos).

Longe de ser louvado como herói, deveria ser lançado, como foram suas estátuas, nos lixões da história. As recentes reabilitações de Stálin por Putin, e seu papel e as duras críticas a Lênin, dizendo que “Ucrânia independente” foi uma invenção de Lenin e dos bolcheviques”, somente são provas cabais do que tem em comum: seu papel contrarrevolucionário.

Fontes

Arquivos do Ministério da Defesa Russo (TsAMO RF): 32, 33, 35
A Geração Reprimida: Comandantes do Exército Vermelho, 1918–1941)
Relatórios da NKVD desclassificados (1992-2002)
Boris Semionovich Telpukhovski, A grande guerra patriótica.
O partido dos fuzilados, Vadim Rogovin (Sundermann)
Stálin e a invasão russa, Piérre Rondiérie (Nova Fronteira, Coleção Blitzkrieg)

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