Operação Verão: Tarcísio e o carniceiro Derrite azeitam máquina de matar pretos e pobres
Enquanto governo muda comando da PM para radicalizar política genocida, números das chacinas na Baixada Santista só perdem para o Massacre do Carandiru, há 32 anos
Enquanto fechávamos esta edição, a chamada Operação Verão, realizada pela Polícia Militar de São Paulo desde dezembro, e reforçada em fevereiro, na Baixada Santista, já contava com 38 mortos e uma série de denúncias, que incluem execuções sumárias, torturas e alterações nas cenas dos crimes.
Essa operação é, na verdade, uma continuidade da Operação Escudo, deflagrada em julho do ano passado e que deixou um rastro de 28 mortos. No total, a PM já matou 66 pessoas. O modus operandi do governo de Tarcísio Freitas (Republicanos) e de seu Secretário de Segurança Pública, o ex-capitão das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) Guilherme Derrite, é o mesmo: a fim de justificar uma ação, devido à morte de policiais militares, desatam uma onda de assassinatos e terror generalizados contra a população.
No caso da Operação Escudo, a desculpa foi o assassinato do PM Patrick Bastos. Suspensa temporariamente em setembro, a operação retornou em dezembro, com o nome de Operação Verão. As mortes de dois policiais militares no início de fevereiro serviram como sinal verde para que a polícia retornasse de forma ainda mais violenta.
Barbárie policial
Os relatos de execuções e torturas revelam o objetivo não só de matar, mas, também, de impor um clima de verdadeiro terror dentre a população. Algo exemplificado por casos como o do catador de recicláveis José Marcos Nunes da Silva, de 45 anos, executado em seu barraco por policiais da Rota. Vizinhos relataram ter ouvido o catador implorando pela própria vida antes de ser morto. “Vocês vão matar um inocente, eu amo minhas filhas, minhas filhas me amam”, teria gritado José, antes dos disparos.
Outro caso é o de Hildebrando Simão Neto, de 24 anos, morto dentro da própria casa após, segundo a polícia, ter apontado uma arma contra os agentes. O relato da PM só não trazia um detalhe: Hildebrando era deficiente visual. Segundo sua mãe, ele não “amarrava o próprio sapato sozinho”.
Além disso, há relatos de um homem torturado com um saco plástico na cabeça e, em outra ocasião, policiais tiraram fotos de cadáveres postados em forma de cruz, para compartilhar entre si, por aplicativos de celular.
Esse e outros casos de execuções e abusos foram documentados por entidades de Direitos Humanos e reunidos num relatório, entregue ao Ministério Público. A Defensoria Pública de São Paulo, junto com entidades como a Conectas e o Instituto Vladimir Herzog recorreram à Organização das Nações Unidas (ONU), exigindo o fim da operação na Baixada.
Especula-se que as chacinas na Baixada Santista tenham relação com uma disputa sobre o controle do Porto de Santos, um dos principais escoadouros de drogas para exportação. Uma briga entre facções, incluindo, aí, a própria polícia.
Tudo dominado
Milicianização da Polícia Militar de São Paulo
Ao mesmo tempo em que promove a maior chacina policial desde o Massacre do Carandiru (em 1992, quando 111 detentos foram mortos no interior do complexo penitenciário), o governador Tarcísio e o secretário Derrite realizam uma radical reformulação no comando da Polícia Militar. Um decreto publicado no último dia 21 substituiu 34 coronéis, parte deles do alto comando.
Segundo relatos de coronéis transferidos das suas funções, essa movimentação ocorreu para afastar os militares contrários à atual política do governo Tarcísio, de aprofundar as operações de chacinas nos moldes da Escudo e Verão. Assim como ocorreu com os coronéis que apoiam a obrigatoriedade do uso de câmera corporal pela corporação. Ou seja, a ideia é tornar a polícia ainda mais letal e violenta.
O secretário de Segurança Derrite, que já afirmou que cada policial, para ser considerado “bom”, deveria ter ao menos três homicídios no currículo, estaria colocando homens próximos no comando da PM, grande parte deles vindos do Batalhão de Choque e alinhados à política bolsonarista.
Só nesse primeiro bimestre do ano, as mortes cometidas pela PM subiram 94%. Para Derrite e Tarcísio, tudo isto é pouco. Além de formarem uma milícia particular, a partir do alto comando, querem aprofundar ainda mais o genocídio da população e da juventude pobre, periférica e negra.
Assassinato de indígenas
Na Bahia, PM é jagunço de fazendeiro
O aumento da violência policial não é um fenômeno que se restringe a São Paulo. Na Bahia, governada pelo PT e com a polícia que mais mata no país, policiais militares estão sendo investigados pelo assassinato da indígena Maria de Fátima Muniz, a Nega Pataxó, da etnia Pataxó Hã-Hã-Hã. Ela foi assassinada no último dia 21, quando ruralistas expulsaram indígenas de uma fazenda.
Indígenas relatam que, diante do conflito com fazendeiros, a PM chegou ao local e, ao invés de prenderem os jagunços, abriram caminho e escoltaram os pistoleiros. Os PMs e jagunços fariam parte um grupo miliciano chamado “Invasão Zero”.
No dia anterior ao assassinato, PMs torturaram um indígena. “Chamaram a gente de vagabundo. Nos mandaram abaixar a cabeça e ficar quietos. Bateram com pedaços de tábuas nas minhas costas e chutavam os dedos dos meus pés”, declarou um sobrevivente, Itamar Oliveira, ao portal Intercept, em 09 de fevereiro.
Policiais também estão sendo investigados pela execução de pelo menos quatro indígenas no estado, onde PM, fazendeiros e jagunços estão à frente do genocídio e expulsão dos povos originários.