Internacional

Palestina: Genocídio em Gaza continua e cumplicidade com Israel também

Soraya Misleh, de São Paulo

20 de março de 2024
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Já são mais de 32 mil palestinos assassinados, sem contar os milhares de desaparecidos sob os escombros | Foto: APAimages/Wikimedia Commons

Todos os horrores de mais de 160 dias de carnificina sionista em Gaza, incluindo massacres diários, ataques a hospitais e a jornalistas, com crianças e idosos morrendo de fome, ainda não mereceram um passo a mais por parte do Brasil diante do reconhecimento de Lula do crime de genocídio perpetrado pelo Estado racista de Israel.

Até o momento, em pouco mais de cinco meses, já são mais de 32 mil palestinos assassinados, sem contar os milhares de desaparecidos sob os escombros. A maioria são mulheres e crianças. Entre estas últimas, que somam mais de 13 mil das vítimas fatais, mais de 25 morreram de fome recentemente. É a nova fase da contínua Nakba – a catástrofe palestina, cuja pedra fundamental é a formação do Estado racista de Israel, em 15 de maio de 1948, mediante limpeza étnica.

Basta de cumplicidade

Governo Lula deve romper imediatamente relações com o Estado de Israel

Lula reconheceu o genocídio e precisa ser coerente, o que significa atuar concreta e efetivamente para acabar com a cumplicidade histórica do Brasil. É o que exige o movimento de solidariedade: que o país rompa imediatamente relações econômicas, militares e diplomáticas com o Estado racista de Israel.

Na contramão disso, contudo, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou, no último dia 5 de março, a contratação direta, sem licitação, da Israel Aerospace Industries (IAI). O contrato, que pode chegar a R$ 86 milhões em cinco anos, é para manutenção e fornecimento de peças aos dois drones Heron, fabricados pela IAI e adquiridos pelo Brasil em 2009, durante o segundo governo Lula, para vigilância de fronteira.

Como observa manifesto construído por iniciativa do movimento BDS Brasil – boicote, desinvestimento e sanções –, com a adesão de dezenas de comitês e organizações, dentre as quais o PSTU, “os VANT Heron são desenvolvidos por Israel, em particular para ter uma grande carga útil – até 490kg –, foram usados em todos os ataques a Gaza e estão sendo usados no atual genocídio”.

Boicote e sanções a Israel

Questão de vida ou morte

Além disso, a Elbit Systems, maior empresa de tecnologia militar do Estado sionista, foi classificada como finalista em licitação para compra de 36 blindados de combate obuseiros (para disparos de longo alcance), num valor estimado em quase R$ 1 bilhão. Como destaca o manifesto chamado pelo BDS, o “Brasil também segue exportando petróleo para Israel, sendo uma das principais fontes, e literalmente fornecendo combustível para os tanques e ataques genocidas”.

O Brasil, após ofensas e humilhações de Israel, que declarou Lula “persona non grata”, chamou seu embaixador em Tel Aviv de volta para consultas. Não pode, entretanto, haver meias palavras diante de um genocídio, mas também não pode haver meias ações.

Tarcísio e Caiado

Mãos manchadas de sangue

Tarcísio de Freitas, o chanceler israelense, Israel Katz, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, em Israel

A cumplicidade explícita fica por conta de governadores como os bolsonaristas Tarcísio de Freitas (Republicanos/São Paulo) e Ronaldo Caiado (União Brasil/Goiás), que, neste momento, estão em Israel, numa visita de cinco dias.

Eles querem capitalizar a viagem eleitoralmente, junto à extrema direita e sua base, que levanta bandeiras sionistas. Ambos buscam se cacifar como sucessores de Bolsonaro, que também foi convidado para integrar a comitiva do genocídio, mas está com passaporte apreendido e não pôde se juntar a ela.

Negócios a serviço do genocídio do povo negro e pobre

Enquanto Tarcísio segue com a chacina no litoral paulista – que, desde dezembro, já deixou mais de 50 mortos, como parte do genocídio contra o povo negro e pobre –, ainda visita empresas sionistas, como a IAI, que garantem os fuzis e blindados para a matança. Esse arsenal da morte deve vir renovado e ampliado na bagagem de Tarcísio.

Em sua agenda também consta uma visita à Mekorot, empresa israelense de saneamento, responsável pelo apartheid da água a que está submetido o povo palestino. Na busca por privatizar a Sabesp, Tarcísio vai primeiro macular suas águas na cumplicidade com o genocídio.

Caiado é um dos principais porta-vozes dos latifundiários, cujo histórico de ataques a quilombolas e povos indígenas é bem conhecido, assim como não são novidade os acordos com Israel nas áreas de tecnologia e agronegócio. O governador goiano tem se esmerado em difundir a propaganda de guerra contra todo o povo palestino, buscando legitimar as mentirosas narrativas sionistas para justificar o genocídio em curso.

O encontro de ambos com o primeiro-ministro sionista, Benjamin Netanyahu, e o presidente do Estado genocida, Isaac Herzog, é, portanto, o aperto de mãos manchadas de sangue.

Contra o genocídio

Intensificar a solidariedade por um Palestina livre, do rio ao mar

As armas israelenses, testadas sobre as cobaias humanas na quais Israel converte os palestinos, inclusive agora, no genocídio em Gaza, servem ao genocídio negro e extermínio indígena. Essa denúncia foi ecoada durante ato contra a violência policial de Tarcísio, no último dia 18 de março, em São Paulo. Que estas vozes alcancem o banco dos réus de tribunais internacionais.

Na luta contra toda forma de opressão e exploração, segue como tarefa central atuar pela derrota política sionista, aprofundando sua própria crise interna e do imperialismo estadunidense, bem como o isolamento internacional de Israel. Que a resistência heroica e histórica palestina siga a nos inspirar. Pelo fim do genocídio em Gaza e da limpeza étnica na Cisjordânia, rumo à Palestina livre do rio ao mar.

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