Internacional

Palestina laica, livre, democrática e não racista. É necessário derrotar militarmente Israel

Para ocorrer o cessar-fogo temporário e a troca de prisioneiros na Palestina foram necessárias mais de 15 mil mortes do lado palestino; a resistência combatendo nas ruas de Gaza; e milhões se mobilizando em todo o mundo em solidariedade a causa palestina.

Américo Gomes, do Instituto José Luís e Rosa Sundermann

22 de dezembro de 2023
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A ajuda humanitária não foi significativa para alimentar a população da faixa, restaurar o fornecimento de eletricidade ou reabastecer medicamentos e equipamento hospitalares. Agora o exército israelita avança para o sul com violência brutal se chocando novamente com a resistência palestina. Não há possibilidade de paz no SWANA(Sigla descolonial para a região do Sudoeste Asiatico e Norte da Africa) ou uma Palestina Livre e Democrática sem a destruição do Estado de Israel, para isso não basta somente a ação da heroica resistência palestina. É necessário que os Estados Árabes e da região rompam o Acordo de Abraham e declarem guerra a Israel, a começar pelo Irá e Arabia Saudita, assim como o Hezbollah tem que atacar Israel pela Cisjordânia juntamente com a Brigada Ayyash. Em um processo de mobilização geral e armamento da classe trabalhadora e da juventude nestes Estados, juntamente com o envio de armas para os combatentes palestinos. Todos os governos árabes e da região falam contra o genocídio do povo palestiniano, mas nada fazem de concreto.

Acreditar em uma paz sem a derrota militar de Israel é uma utopia reacionária. Esta derrota militar somente vai ocorrer com a regionalização do conflito.

A Arábia Saudita sediou a reunião da ASEAN, da Liga Árabe e da Organização de Cooperação Islâmica. Esta reunião fez declarações críticas a Israel, mas não votou nenhuma sanção contra Israel. O Catar está a mediar o conflito, tem parte da liderança do Hamas no seu território. Mas tem interesses econômicos em negociações com Israel, como por exemplo a negociação da exploração de petróleo e gás na Faixa de Gaza, junto com a União Europeia.

A destruição do Estado sionista só será possível com uma “nova Intifada”, que para ser vitoriosa necessita de apoio incondicional político e militar.

Israel tampouco pretende algum acordo, nem mesmo aceita as propostas do imperialismo norte americano de bombardeios cirúrgicos. Mesmo com tantas mortes Binyamin Netanyahu, rejeita o apelo internacional por um cessar-fogo. “Nós continuaremos até o fim, sem dúvida. Digo isso mesmo diante da grande dor e da pressão internacional. Nada nos impedirá, continuaremos até o fim, até a vitória, nada menos”.

Além da regionalização do conflito os países que tem governos que se reivindicam progressistas em todo mundo devem romper as relações diplomáticas com Israel e os tratados e acordos econômicos e militares (TLC).

O movimento sindical e popular tem que assumir a campanha pelo Boicote aos produtos de Israel somando-se a BDS (Boycott, Divestment, Sanctions), que tem recebido apoio global, e concentrando-se no boicote a produtos de empresas que têm um papel direto nas políticas de Israel contra os palestinianos ou têm um histórico comprovado de cumplicidade em abusos contra palestinos.

Enfim temos que realizar todas ações necessárias para parar a máquina de guerra sionista que continua a ser financiada pelo imperialismo norte-americano e europeu para matar palestinianos.

O 7 de outubro desmoralizou o exército de Israel

Em 7 de outubro Israel foi pega totalmente desprevenida e se desmoralizou. Ainda mais por que se projeta para o mundo como o país com o mais avançando sistema tecnológico de segurança interna, inclusive o vende como uma de suas principais commoditie. Oferecendo monitoramento urbano com softwares de identificação, biometria, câmeras de ruas e postos de controle “inteligentes”, etc.

Ligados a um serviço de inteligência e monitoramento que é conhecido mundialmente: o Mossad e o Shin Bet(Serviço de segurança interno de Israel. Seu lema é “o escudo invisível). Enfim o exemplo mundial de militarismo urbano.

Para lançar seu ataque a ala militar do Hamas em Gaza explodiu a passagem de fronteira de Erez com Israel e rompeu a barreira de segurança de Gaza em vários pontos. Inicialmente usando misseis e drones que cegaram a vigilância de Israel, deixando-os desnorteados e sem informação, e depois com jipes, motos, caminhões, parapentes e escavadeiras que romperam barreiras e cercas.

Fontes afirmam que todo o planejamento do ataque ocorreu de dentro de Gaza com o braço militar, as Brigadas Al-Qassam, sem o conhecimento dos dirigentes políticos no exterior.

Nós temos muitas diferenças programáticas e estratégicas com o Hamas, mas sua ação em 7 de outubro colocou Gaza no centro das atenções mundiais e abriu novamente a possibilidade da existência de um Estado palestino, o que estava quase sendo descartado pelo Acordo de Abraham entre Israel e os Estados árabes.

Do ponto de vista operacional atingiram 4 bases militares onde recolheram informações dos monitoramentos de Israel e de seus planejamentos futuros, um duro golpe no serviço de inteligência da IDF prejudicando a ofensiva que veio a seguir.

Mesmo com todos os custos humanos o Hamas conseguiu: trazer essa luta para o centro da atenção internacional; libertar os palestinianos presos em Israel; arrastar o exército israelita para uma situação difícil no terreno; e forçar a evacuação das populações israelitas das cidades do norte das áreas cercando Gaza. E o mais importante:o Hamas mostrou que Israel não era invencível.

O fracasso das IDF de Israel frente ao ataque do Hamas abalou a unidade e a credibilidade do exército israelense, e coloca em cheque Netanyahu , que muitos comandantes pretendem tirar quando tiverem “resolvido o problema do Hamas”

A partir daí Israel desencadeou sua invasão devastadora e o assassinato em massa de civis, mostrando mundialmente a extraordinária brutalidade da ocupação israelita e do controle dos territórios palestinos. Estes resultados terão consequências profundas para o futuro do conflito.

Para a maioria dos palestinos em Gaza a única forma de evitar o risco de uma segunda nakba (“catástrofe”) é permanecer em Gaza, mesmo com toda a dimensão da destruição. Por isso apesar do ataque violento de cinco semanas por parte de um dos exércitos mais poderosos do mundo, onde a esmagadora maioria dos habitantes de Gaza foram forçados a abandonar as suas casas e mais de 18.000 foram mortos eles continuam a resistir.

Gaza pode ser a Estalingrado do exército de Israel

Há dúvidas se Israel está realmente a degradar as estruturas de comando e os arsenais de armas e mísseis do Hamas, ou a destruir o complexo de túneis e a matar um número significativo dos seus comandantes militares.

O Hamas não foi erradicado como era o plano de Netanyahu, ao contrário, conseguiu manter-se e realiza ataques ao exército de Israel.

Além disso, muitos dos que atacaram Israel em 7 de Outubro não eram membros do Hamas, mas sim de outros grupos radicais, como a Jihad Islâmica ou a Brigada dos Mártires de Al Aqsa, ou ativistas independentes.

O exército israelense divulgou vídeos de palestinos despidos de suas roupas sendo marchados por ruínas urbanas afirmando que os homens eram combatentes do Hamas e que suas supostas rendições significavam que o fim do grupo palestino estava próximo. No entanto, vários meios de imprensa demonstraram que os homens eram civis que haviam sido tratados contra as leis da guerra ao serem humilhados publicamente. Além disso nunca se viu prisioneiros levando armas.

Logo, o exército de Israel teve suas maiores perdas em combate, em uma emboscada em Gaza, em meio a combates intensos. Israel reportou 10 soldados mortos, incluindo um coronel que comandava uma base avançada e um tenente-coronel no comando de um regimento. Totalizando em 115 o número de baixas do lado israelense na incursão terrestre. A maioria das 10 mortes ocorreu no distrito de Shejaia, na cidade de Gaza, no norte, onde tropas foram emboscadas tentando resgatar outro grupo de soldados que havia atacado combatentes do Hamas em um prédio. Shejaia é apontado por Tel-Aviv como um dos redutos mais fortificados do Hamas.

O Hamas disse que o episódio mostrou que as forças israelenses nunca poderiam dominar Gaza: “Quanto mais tempo você permanecer lá, maior será a conta de suas mortes e perdas, e você sairá de lá carregando o fardo da decepção e da derrota, se Deus quiser.”

Dois dias depois o exército de Israel informou que matou três reféns por engano. Eles estavam sem camisas e com uma bandeira branca, mas foram identificados como alvos e eliminados. Esta ação demonstrou que Israel não respeitada as regras de combates em uma guerra. O IFD alegou que isso ocorreu por que os combatentes do Hamas as vezes operam vestidos de civil e utilizam táticas para enganar suas tropas.

Os combates em Gaza são reais e não iguais ao treinamento em Baladia, a cidade construída pelo Exército de Defesa de Israel, para o treinamento de seus soldados. Conhecido como o “playgroud do IDF”

Nada que não prevíssemos: a guerra entrou em uma fase difícil, imprevisível e sangrenta de guerra urbana em grande escala, onde os ganhos podem ser pequenos e lentos e as perdas enormes. O combate em ruas estreitas e apertadas de cidades antigas é conhecido por ser uma das maneiras mais difíceis de combater uma guerra. Mesmo com o cerco feito pelo IDF. Quanto mais os israelitas avançam por terra entram em uma teia de ruas estreitas, onde os soldados do Hamas são capazes de utilizar o terreno em seu benefício, utilizando túneis e edifícios danificados. Nestas circunstancias a resistência contra ataques inimigos não depende de um armamento caro e de alta tecnologia. Valem mais armas pequenas, com importante poder destrutivo, como lançadores de foguetes antitanque, lançadores de granadas, pequenos morteiros, fuzis de assalto e muitos outros Com isso cada casa e cada rua se transforma em uma formidável posição defensiva.

A resistência em Gaza utiliza túneis para esconder equipamento militar, contrabandear armas e munições e combater o avanço das tropas de ocupação israelitas. Israel tentou enviar tropas para o subsolo, que terminaram em desastres, com as tropas caindo em armadilhas. O alto comando abandonou essa abordagem, agora cogita encher os tuneis com águas do mar.

Antigamente, as cidades precisavam de muros fortes para se defender, mas nos últimos anos, com os bombardeios sistemáticos há uma mudança de tática. Vídeos mostram combatentes em Gaza saindo dos túneis para disparar contra tanques e depois desaparecendo.

O Hamas preparou-se para uma guerra urbana longa e prolongada e acredita que pode deter o avanço de Israel o tempo suficiente para forçar alguma concessão. Tem cerca de 30 mil combatentes, quase todos sobrevivendo aos bombardeios embaixo da terra. Se deslocam usando a vasta rede de túneis fortificados, com centenas de quilômetros de extensão e suficiente profundidade, construídos ao longo dos anos. Há armas armazenadas, bem como mísseis, alimentos e suprimentos médicos onde seus combatentes podem sobreviver durante meses.

Quanto mais soldados israelenses forem mortos em cidades do interior de Gaza, sem a destruição do Hamas, mais o apoio à continuação da operação militar diminuirá. Por isso o plano é infligir baixas militares suficientes para enfraquecer Israel num conflito prolongado.

O Hamas afirma que foram estas dificuldades na campanha terrestre do exército israelita que fizeram Israel interromper os combates em um cessar fogo temporário e a libertar prisioneiros palestinos em troca de alguns dos reféns israelitas.

Além da capacidade de combate o Hamas tem um grande poder de comunicação com o mundo exterior durante os combates. Apesar do apagão da Internet em Gaza, dos intensos bombardeamentos e da destruição da infraestrutura de telecomunicações, o Hamas continua a transmitir informações do campo de batalha. Fornecendo uma contra narrativa aos relatos oficiais israelitas da guerra e com isso influenciando a cobertura da guerra pelos meios de comunicação internacionais.

Os representantes do Hamas no Líbano, tem um papel significativo nesta guerra de informação. Osama Hamdan, antigo chefe do departamento de relações exteriores do Hamas e membro do gabinete político, tem realizado conferências de imprensa regulares em Beirute que desafiam as narrativas israelitas sobre a guerra.

Estas declarações tem impactado tanto no mundo palestino como entre as populações árabes dos países vizinhos, simpáticas a causa palestina. Ajudando a que dezenas de milhares de pessoas saíam às ruas. Ha disposição de lutar entre a juventude da região, de ir à guerra com armas nas mãos contra Israel, isso é visto nas manifestações de rua e na greve geral de 11 de dezembro, que ocorreu na Jordânia, no Líbano, nas cidades da Cisjordânia e nos territórios palestinos, com repercussões no Egito e na Turquia.

Aumenta a tensão na Cisjordânia

Até o início da guerra as bandeiras verdes do Hamas eram proibidas em Ramallah. Mas agora elas se espalharam pelos portões da mesquita Gamal Abdel Nasser e na Praça Al Manara. Jovens caminham vestidos com todos os tipos de apetrechos da organização islâmica; as mulheres seguram fotos dos líderes rebeldes houthis do Iêmen, gritam “Gaza é a terra dos livres!”, a polícia da Autoridade Palestina agora somente observa.

Na Cisjordânia, os partidários do Hamas quase quadruplicaram na guerra, enquanto isso o apoio ao partido Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, caiu de 26% para 17%. A Autoridade Palestina é considerada subordinada a Israel e composta por corruptos e ladrões. A maioria dos consultados considera justificados os atentados de 7 de Outubro, 7 em cada 10 acreditam que a decisão do Hamas de realizar os ataques foi “correta”. Na Cisjordânia 82% dos entrevistados e em Gaza 57%, considera justificados os ataques de 7 de Outubro, 89% acredita que as mortes causadas pela ala militar não constituíram um crime de guerra, mas veem o bombardeio indiscriminado e sistemático de Gaza como tal (95%).

A Cisjordânia é maior em tamanho e mais complexa em topografia. Gaza tem 365 km2, enquanto a Cisjordânia tem 5.860 km2. A natureza montanhosa da Cisjordânia torna mais fácil esconder e operar foguetes. Na Cisjordânia, as redes de túneis são mais complicadas devido à natureza rochosa do túnel, mas têm mais espaço para operar. Após 20 anos, a resistência armada na Cisjordânia ressurge, descentralizada e totalmente independente.

As Brigadas Ayyash estão associadas ao Hamas, particularmente às Brigadas Al-Qassam. A Brigada Ayyash anunciou o lançamento de mísseis ‘Qassam-1’ na direção do assentamento ilegal israelita de Shaked. Como represália o exército de Israel atacou Jenin, onde se deu uma batalha prolongada e caótica. Terminou com 14 pessoas mortas e cerca de 120 feridos. Quando os corpos das vítimas foram exibidos nas ruas de Jenin, estavam envoltos nas máscaras do Hamas e da Jihad Islâmica: “Nós somos a resistência à ocupação. Gaza e a Cisjordânia são uma só“.

Manifestações seguiram ao ataque sionista com milhares de pessoas marchando em Jenin, muitos armados, com espingardas de assalto M16 e munições nos braços, quase todos jovens, prontos para lutar.

A contradição do Hezbollah

A liderança do Hezbollah tenta controlar o conflito gerando crises nas suas bases, pois vários de seus combatentes querem entrar em guerra e atacar Israel, abrindo a segunda frente.

Uma segunda frente seria um problema para Netanyahu que quer se concentrar na liquidação do Hamas. Por isso Israel tenta assustá-los afirmando que transformará Beirute e o sul do Líbano em Gaza se o Hezbollah iniciar uma guerra total.

O Hezbollah representa um perigo potencialmente maior para Israel do que o Hamas, tendo um arsenal de munições, foguetes e drones guiados com precisão superior a tudo o que o Hamas possui. Os jovens combatentes da Cisjordânia e de todo SWANA esperam uma declaração mais forte do líder Hassan Nasrallah. Mas o Irã quer manter o Hezbollah como moeda de troca a seu favor na região, “o ativo mais valioso do Irã dentro do seu “eixo de resistência”. O que explica a decisão do comando do Hezbollah de atacar apenas áreas próximas da fronteira entre o Líbano e Israel, utilizando sistemas de armas de muito curto alcance.

Não se sabe até quando eles conseguiram segurar o descontentamento em suas bases.

Israel quer terra arrasada

Benjamin Netanyahu promete acabar com Hamas e rejeita o cessar-fogo. Estão dispostos a matar aos civis com a justificativa de que os militantes se escondem atrás deles e debaixo de hospitais e escolas. Sua política estratégica é dominar completamente Gaza e ter o controle da região. “Responsabilidade geral pela segurança em Gaza por um período indefinido”.

A doutrina dos generais sionistas é de Gilles Deleuze que se resume em “destruição, construção, reorganização e subversão do espaço” contra o que eles consideram a estratégia de grupos como Hamas uma ação “não linear, polinuclear, e anti-hierarquica de combate em áreas urbanas”, utilizadas na Comuna de Paris, Estalingrado, Argel, Jenin e Nablus.

O objetivo de Israel é desalojar a resistência através da destruição geral de todas as áreas. Pois os ambientes de concreto reduzem a vantagem e a força de alta tecnologia “Prédios mascaram alvos e criam cânions urbanos que diminuem a capacidade da força aérea”, dificultam a visão do campo de batalha urbano, as ondas de rádio e armas de precisão, sendo difícil obter a localização do inimigo.

Operações militares em cidades como Gaza são vistas como um evento traiçoeiro, pois permitem aos insurgentes mais fracos e mal equipados vitorias sobre equipes militares melhores treinadas e equipadas. “Dentro do ambiente urbano não é a arma em si e sim a cidade que maximiza ou silencia a eficiência de uma arma. Em becos claustrofóbicos e desfiladeiros urbanos é impossível controlar os civis ou caracterizá-los como aliados ou não (..) A arma mais eficiente só precisa explorar as vulnerabilidades que o ambiente urbano cria

Com isso alvos civis passam a ser considerados militares. Sistemas elétricos e internet, assim como de água e esgoto devem ser destruídos, o sistema de transporte paralisado, o processamento e distribuição de alimentos desativados e sistema de saudê inutilizado. Faz parte destra estrategia de guerra a morte de crianças, jovens e velhos, isso é, os mais fracos e debilitados, quando todos estes sistemas entram em colapso. O objetivo é paralisar a sociedade insurgente por meio da destruição generalizada para com isso incapacitar a resistência militar e coagir os civis urbanos psicologicamente.

Esta estratégia foi utilizada pelos Estados Unidos no Iraque (90% da capacidade de geração instalada foi destruída) e no Afeganistão, buscando levar estes países a idade da pedra, chamada por eles de “modernização reversa” ou “guerra infraestrutural”. Destruir “a infraestrutura terrorista” significa destruir a infraestrutura do Estado.

Esta “doutrina militar” está sendo levada ao extremo por Israel em Gaza, onde já havia aplicado o encerramento físico hermético, o impedimento de circulação, intenso monitoramento aéreo, combinado com ataques aéreos contínuos, incursões de esquadrões tanques e ofensivas de artilharia. Um campo de teste distópico desta estratégia militar. Considerando que a vida dos palestinos não seja levada em consideração e criando um “inferno urbano caótico”.

Por certo com isso também constrói uma massa de jovens dispostos a combater com todas suas forças e meios a este Estado opressor.

Os Houthis do Iêmen dão exemplo

Três navios comerciais ligados a Israel foram recentemente atacados por mísseis balísticos e drones lançados pelos rebeldes Houthis, numa escalada de ataques marítimos no Estreito de Bab el Mandab. Outros navios também foram atacados.

Os Houthis também são apoiados pelo Irã. São insurgentes que controlam a maior parte do norte do Iêmen, incluindo a capital do país, Sana’a. O grupo surgiu na década de 1980 nas terras altas do norte, especificamente na antiga cidade de Saada.

As tentativas de apresentá-los como meros subordinados do Irã ignora sua natureza indígena, as causas do movimento e a sua ideologia. Após a Primavera Árabe e o caos crescente no Iêmen, os Houthis ganharam um impulso significativo. Em 2014, conseguiram derrubar o governo de transição apoiado pelos sauditas e tomar o poder em grande parte do Iêmen, atacando rapidamente o sul do país, um movimento que surpreendeu os observadores internacionais pela sua ousadia e eficácia.

Em resposta, uma coligação liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes lançou uma intervenção militar que eles acreditavam que iria rapidamente subjugar os insurgentes com a sua superioridade tecnológica. No entanto, a operação deu errado. Uma série de negociações levou à interrupção dos combates em 2022.

O apoio do grupo aos palestinianos é também uma forma de obter apoio interno e regional para a sua própria posição, elevado seu prestígio entre a população árabe em geral.

O Iêmen é um país miserável, mas tem estado no centro da geopolítica regional devido à sua localização estratégica no Estreito de Bab el Mandab, também conhecido como “Portão das Lágrimas”, que separa o Mar Vermelho do Golfo de Aden e do Oceano Índico. Este estreito desempenha um papel crítico no comércio global e na segurança energética. Os embarques de petróleo e gás natural passam por este estreito para a Europa e América do Norte.

Empresas de navegação passaram a evitar o Mar Vermelho após ataques Houthi, fazendo com que 30% do trânsito mundial de contêineres seja travado. Entre elas as líderes de mercado MSC e Maersk, agora a gigante petroleira britânica BP, a empresa de transporte de Hong Kong Orient Overseas Container Line (OOCL) parou de aceitar carga de e para Israel e a Yang Ming Marine Transport de Taiwan desviara os navios para o Cabo da Boa Esperança. Com isso os custos irão subir. A viagem entre o Mediterrâneo e o estreito de Málaca, a via de acesso aos portos chineses, dura em média 19 dias, pela nova rota pode chegar a 31 dias. Segundo o ABN Amro, uma viagem de Roterdã (Holanda) a Xangai (China) que dura 27 dias por Suez ganhará ao menos uma semana a mais, causando problemas a persistência do conflito na Palestina. Para os Houthis estas provocações têm baixo custo e alto retorno.

No início da guerra o imperialismo havia enviado dois grupos de porta aviões para a área, Um destróier derrubou 14 drones Houthis e agora pretendem criar uma nova força multinacional para proteger as rotas. Agora o imperialismo está propondo formar uma nova missão internacional para combater os ataques dos rebeldes iemenitas, seria Operação Prosperity Guardian, com a participação do Reino Unido, Bahrein, Canadá, França, Itália, Países Baixos, Noruega, Seicheles e Espanha. No entanto um conflito direto com os rebeldes iria expor a base americana de Camp Lemmonier, no Djibuti a 26 km de mar do Iêmen, onde fica sua principal força de drones na região. Isso poderia levar a regionalização do conflito.