Palestina Livre: “Hoje meu corpo era um massacre televisionado”
O genocídio na estreita faixa de Gaza entrou no 18º dia em 24 de outubro sem que a repugnante propaganda de guerra da mídia burguesa também dê trégua. Já são mais de 2 mil crianças, cerca de 1.120 mulheres e 220 idosos entre os mais de 5 mil trucidados pelas bombas sionistas. São nomes e vidas que não param de se somar a essa trágica estatística, que só faz crescer. Aproximadamente 120 crianças são chacinadas todos os dias, segundo o Observatório Euro-Mediterrâneo de Direitos Humanos.
Há denúncias de uso de armas químicas, como napalm e bombas de fósforo branco. Vem à mente a poesia da palestina Rafeef Ziadeh, em resposta a um repórter que havia lhe perguntado, durante outro bombardeio massivo a Gaza há mais de 10 anos, se não ficaria tudo bem se os palestinos não ensinassem ódio às suas crianças:
Ensinamos vida, senhor. […] / Ensinamos a vida depois que eles construíram seus assentamentos e muros do apartheid, depois dos últimos céus. / Ensinamos vida, senhor. / Mas hoje meu corpo era um massacre televisionado, / feito para caber em frases de efeito e limites de palavras. […] / E cem mortos, duzentos mortos, mil mortos. / E entre isso, crime de guerra e massacre, / Despejo palavras e sorrio: “Nem exótico”, “nem terrorista”.
A sombra da morte, por fome e sede ou bomba, segue à espreita para 2,4 milhões de palestinos em Gaza. As cenas são brutais: crianças anotando seus nomes nos braços e pernas para serem identificadas caso sejam os corpos estilhaçados do dia; médicos em hospitais sem energia elétrica e estrutura sob ameaça de novos bombardeios recebendo os corpos de seus próprios filhos e netos; dezenas de famílias inteiramente dizimadas, apagadas do registro civil; jornalistas cobrindo às lágrimas e também sendo assassinados; igreja cristã com 1.500 anos e repleta de palestinos tentando se abrigar das bombas implacáveis sendo o alvo da vez; ordens de evacuação e bombardeios sobre os palestinos enquanto fazem o trajeto para a direção determinada por Israel; ameaças de bombardeios em mais e mais hospitais, escolas, casas, famílias, tudo o que se move.
Vem à mente trecho da letra da música do grupo palestino de hip hop DAM:
“Quem é o terrorista? Eu sou o terrorista?! / Como posso ser o terrorista quando você tomou minhas terras? / Quem é o terrorista? Você é o terrorista! / Você pegou tudo que eu possuo enquanto morava em minha terra natal. / Você está nos matando como matou nossos ancestrais. / Você quer que eu vá à justiça? Pelo quê? / Você é a testemunha, o advogado e o juiz! / Se você é meu juiz, serei condenado à morte! […] / Você me ataca, mas ainda grita quando eu lembro que foi você quem me atacou. / Você me silencia e grita. / ‘Mas você deixa as crianças atirarem pedras! Eles não têm pais para mantê-los em casa?’ / O QUÊ?!?! / Você deve ter esquecido que enterrou nossos pais sob os escombros de nossas casas. / E agora, enquanto minha agonia é tão imensa, você me chama de terrorista?!”
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Perguntas e respostas sobre Israel e Palestina
Contínua Nakba
Não é notícia nova para o povo palestino na contínua Nakba – catástrofe cuja pedra fundamental é a formação do Estado racista e colonial de Israel em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada, em 78% do território histórico da Palestina. Em 1967, a Naksa (revés), com a ocupação militar sionista dos restantes 22%: Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental (veja linha do tempo).
A realidade cotidiana dos palestinos e palestinas é violação de todos os direitos humanos fundamentais pelas forças de ocupação, regime de apartheid, expansão colonial agressiva via racismo, limpeza étnica, genocídio.
E agora enfrentam o mais brutal genocídio a Gaza desde o cerco desumano há 15 anos, batendo a marca dos sangrentos julho e agosto de 2014. Naquele período, em 51 dias, Israel matou cerca de 2.200 palestinos, entre os quais 530 crianças.
Enquanto isso, na Cisjordânia, Israel armou ainda mais os colonos sionistas. Antes de 7 de outubro estes já vinham promovendo perseguições e ataques brutais (conhecido como pogroms) em aldeias palestinas, 270 palestinos já haviam sido assassinados, entre os quais 65 crianças. Isso também ganhou dimensão ainda mais brutal. Em pouco mais de duas semanas quase 100 mortos e 1.400 feridos palestinos.
Repressão e censura. Há organizações denunciando que o número de presos políticos bateu 10 mil – eram 5.200 até o começo de outubro, incluindo 170 crianças. Presos políticos palestinos são transferidos para locais indeterminados, e as famílias seguem sem notícias de seu paradeiro. A tortura avança.
Grande mídia
Propaganda de guerra contra palestinos
A contínua Nakba alcança grau elevado, com os discursos racistas das lideranças sionistas sendo reproduzidos abertamente. A mídia nas mãos dos grandes capitalistas insiste na mentira da guerra circunstancial e pontual Hamas x Israel, na falácia de direito de defesa do colonizador.
Chega até mesmo a colocar em dúvida se as poderosas bombas lançadas 24 horas sem parar e indiscriminadamente por Israel foram as culpadas da destruição do Hospital Batista Al Ahli e morte de mais de mil de uma só vez. “Israel disse que não”, repetem seus interlocutores, sem vergonha. Aceitam a mentira de que o povo palestino teria se autobombardeado, na propaganda racista de guerra da “civilização [ocidental, Israel] contra a barbárie [esses árabes, orientais]”.
Essa mídia apoia o terrorismo de Estado perpetrado contra o povo palestino e nega o direito legítimo de resistência de um povo oprimido há tempo demais, que trava luta anticolonial, por libertação nacional, do jeito que dá, cercado de inimigos poderosos. E resiste. Por isso existe.
Mãos sujas de sangue
A “comunidade internacional”, responsável pela Nakba em 1948 e por sua continuidade impune há mais de 75 anos, mergulha suas mãos sujas de sangue palestino ainda mais fundo: governos de todo o mundo igualam opressor e oprimido.
O nível deste novo capítulo da contínua Nakba pode ser pensado como a tentativa de “solução final” por parte do Estado terrorista, racista e colonial de Israel – financiado e aplaudido pelo imperialismo dos Estados Unidos. O discurso de Biden, atual presidente, em 1986 é simbólico dessa aliança da morte: “Destinamos bilhões todos os anos a Israel. É o nosso melhor investimento para nossos interesses econômicos. Se Israel não existisse, teríamos que criá-lo.” O imperialismo europeu não fica atrás.
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