Pantanal tem mais de 3 mil focos de incêndio em apenas 15 dias

Novembro é mês de chuva no pantanal, mas elas não caíram até agora. O bioma sofre com o tempo seco e quente, o que tem levado a um recorde de focos de incêndios: foram mais de 3 mil em 15 dias, informa o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O Instituto também aponta que desde o início da série histórica, em 1998, a média para novembro é de 441 focos. Novembro deste ano já supera 6,8 vezes essa média. O recorde de focos de queimada no pantanal para o mês havia sido em 2002, com 2.328 focos. O mês atual, ainda na metade, já soma 3.024.
Comunidades inteiras estão sendo evacuadas, a exemplo da comunidade do Passo do Lontra, às margens do rio Miranda. A fumaça tem deixa a população doente. Crianças e idosos são os que mais sofrem. A fauna e a flora estão sendo devoradas pelo fogo.
Em depoimento ao jornal Folha de S. Paulo, Alexandre Bossi, presidente do SOS Pantanal, disse que o pantanal precisa de um plano de manejo conjunto entre o governo federal e os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “As secas serão mais severas e mais longas, e o pantanal será atingido em cheio. Em 2023 já perdemos a batalha, e precisamos da chuva. Para 2024, precisamos nos preparar”, disse.
Os incêndios começaram em outubro e já ultrapassaram 35 mil hectares. Mais de 70% dessa área está no Parque Estadual do Rio Negro. As chamas também atingem Parque Nacional do Pantanal, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Dorochê, e o `Parque Estadual Encontro das Águas.
Os municípios sul-mato-grossenses de Aquidauana, Corumbá, Ladário, Miranda e Porto Murtinho e todo o estado de Mato Grosso decretaram estado de emergência. Importante ressaltar que toda essa área é dominada pelo agronegócio, que construiu suas grandes fazendas invadindo e roubando terras indígenas, e desmatamento as florestas. Hoje, todo o bioma do pantanal e a população como um todo pagam o preço.
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Onda de calor
O forno que o Brasil está enfrentando é resultado direto do aquecimento global, que tem elevado a temperatura em todo o mundo, combinado com um potente El Niño (aquecimento da superfície das águas no Oceano Pacífico equatorial), que deverá persistir até abril.
O aquecimento global é uma realidade e até os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) já apostam que, em breve, vamos cruzar o perigoso limite de 1.5°C a mais do que as temperaturas registradas no início da Segunda Revolução Industrial, nos anos 1850.
Daí para frente, o clima poderá se tornar incontrolável e, com um aquecimento superior a 2°C, muitos pontos de ruptura da Terra poderão ser acionados, tal como o degelo do “permafrost” (camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada) e do gelo polar; a acidificação dos oceanos; a transformação da Amazônia em uma savana degrada, entre outros fenômenos que podem retroalimentar o aquecimento do planeta.
Os estados do Mato Grosso e Mato Grosso têm registrados temperaturas acima dos 40°. Calor extremo excede em 30% a média histórica de temperatura na região, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia.

O bioma do pantanal sendo consumido pelo fogo no mês que deveria ser de chuva | Foto: Joêdson Alves/Agência Brasil
O capitalismo destrói o meio-ambiente!
O capitalismo, em busca do lucro desenfreado, vem destruindo o meio ambiente em escala global. A mudança climática é resultado desse processo.
Os governos são incapazes de adotar medidas para minimizar ou suavizar os efeitos da catástrofe ambiental. Medidas preventivas, como evitar inundações urbanas, mortes por soterramento, incêndios, sistemas de alerta meteorológicos sequer são aplicadas. Seguem aplicados medidas a favor do lucro dos empresários, a exemplo das privatizações, acompanhadas de mais cortes em investimentos nas áreas sociais.
A população vive em quadro de vulnerabilidade, que se amplia a cada dia. Estamos à beira do abismo, mas o Estado capitalista e seus governos seguem abrindo novas fronteiras de acumulação de capital para que a burguesia possa lucrar com a tragédia e a morte.
É por isso que a luta pelo meio ambiente precisa ser abraçada pela classe trabalhadora. Devemos lutar por melhores condições de trabalho face às ondas de calor; maior investimento público em obras de mitigação dos efeitos do aquecimento; obras de saneamento, moradia digna e segura e sistemas de alertas eficientes.
Essa luta deve ser combinada com a luta pela superação do capitalismo, um sistema que tem levado os seres humanos ao desastre. Sem destruir o capitalismo, o meio ambiente e a vida humana seguirão ameaçados. É preciso construir uma outra sociedade, fundada na propriedade social dos meios naturais de produção, para que uma nova racionalidade ecológica floresça e harmonize as forças produtivas com a natureza.
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