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Porto Alegre: Fora Sebastião Melo e o seu vice, já!

Mobilizar, unificar e organizar os trabalhadores e atingidos pela enchente, junto com engenheiros e técnicos amigos do povo, do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgoto) e das universidades, para enfrentar o caos e a reconstrução da cidade

Fabiana Sanguiné, de Porto Alegre (RS)

24 de maio de 2024
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Prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e seu vice, o negacionista Ricardo Gomes Foto Divulgação

Colapso, caos, seja lá o nome que vivemos nesse dia 23 de maio em Porto Alegre (e que podemos voltar a viver agora) tem causas e responsáveis.

De fato, o volume de chuva foi um pouquinho acima do previsto pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia)  – 100mm sendo que se esperava 70mm. Mas a previsão era de chuva intensa, por dois dias seguidos.

De fato, há uma série de fatores que dificultam o escoamento natural da água da cidade:  o sistema de drenagem está “colapsado”, o nível do Guaíba continua alto, etc. Mas gerir uma situação de calamidade é estabelecer medidas perante uma realidade adversa. 

Porto Alegre inundada neste dia 23 de maio Foto Agência Brasil

E todo o caos que vivemos poderia ter sido evitado, sim:

– Se todas as casas de bomba estivessem operando em capacidade plena (e isto está relacionado com todas as falhas anteriores, de responsabilidade da Prefeitura – pela ausência de manutenção das bombas);

– Se todo o lixo que foi colocado nas ruas nesta semana, seguindo orientação da própria Prefeitura aos moradores e comerciantes, tivesse sido recolhido numa operação especial pela Prefeitura;

– Se a canalização pluvial – que está cheia de lodo – tivesse sido limpa (bastaria ter utilizado hidrojatos).

A Prefeitura, além disso, não explica a demora de escoamento dos bairros que continuaram embaixo d’água, como Humaitá, Sarandi, Vila Farrapos e Anchieta. Aliás, o bairro de Sarandi foi o local da cidade com mais moradores afetados pelas inundações – 26 mil. As bombas enviadas pela Sabesp, que possuem capacidade para drenar cerca de 2 mil litros de água por segundo, ou seja, 7,2 milhões litros por hora, estavam retirando água de terrenos pouco habitados, mas onde se localizam as empresas Coca-Cola e Havan, deixando os moradores, em sua maioria pobres, a ver navios, deixando muito nítido a serviço de quais interesses existem “prioridade” na reconstrução pelos governos.

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Sempre que é questionado sobre o tempo de escoamento destes bairros, o diretor da Dmae – Mauricio Loss, afirma que “não há previsão da data de quando a situação será resolvida . Precisamos da ajuda da natureza” . Isto significa que o prefeito e o seu indicado no Dmae demonstram que não têm a mínima condição de seguir conduzindo a atual situação. Como até a própria imprensa afirma – “perderam o controle da situação”.

Refletindo a indignação que está nas ruas, a UAMPA (União da Associação de Moradores) entregou um pedido de impeachment do Prefeito. Mas o pedido de impeachment, por si só, não vai resolver a situação – primeiro porque, sem uma grande mobilização, quase certamente se transformará em mais uma pizza nas mãos dessa Câmara dos Vereadores, quando muito servirá para desgastar o prefeito para as futuras eleições. Segundo que, tirar Melo para colocar seu vice negacionista no comando, é trocar seis por meia dúzia. Então, a consequência prática pode ser limitada, ou quase nenhuma.

 

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Esta crise e o novo alagamento também deixaram nítido que os outros comitês gestores – seja a Secretaria de Reconstrução de Leite, seja o Ministro da Reconstrução de Lula – não cumpriram qualquer papel.

É necessário exigirmos: Fora Sebastião Melo e Ricardo Gomes (o vice-prefeito ligado à produtora de fake news Brasil Paralelo), e já!

Mas, para isso, precisamos nos organizar e mobilizar, a fim de tomar nas mãos dos trabalhadores, dos atingidos pela enchente, dos voluntários e dos técnicos amigos do povo, a resolução desse caos e a reconstrução a serviço da defesa dos atingidos e da natureza; e não dos espertos bilionários capitalistas que querem lucrar com a nossa tragédia.

É hora de unidade de ação para lutar, de forma independente de todos os governos e dos mega bilionários, que estão participando e decidindo os planos de reconstrução, passando a boiada na natureza, nas empresas e serviços públicos e no povo pobre. Precisamos formar comitês de atingidos nos bairros, um encontro e um comitê municipal dos atingidos e dos trabalhadores para discutir o que fazer, e que reconstrução queremos.

Devemos exigir que se exproprie imediatamente os R$ 6 milhões da empresa Bombas Sino, que faturou este valor da Prefeitura Municipal de Porto Alegre para “manutenção” do sistema de contenção das enchentes, e que se utilize esse dinheiro para a limpeza da canalização pluvial . Que se construa um comitê gestor composto por especialistas, hidrólogos, meteorologistas, engenheiros, juntamente com associação de moradores, sindicatos de trabalhadores, movimentos sociais e estudantis, comissões de voluntários e de desabrigados para definir como conduzir os próximos dias e também o nosso futuro.

Isso porque a reconstrução envolve mexer com interesses muito mais profundos do que o mandato de Melo, o qual é mero executor dos grandes empresários . Em contraponto à declaração do recém-eleito presidente Fiergs – Claudio Bier – que afirmou nesta semana “ estamos em um pós-guerra, precisamos de flexibilização”, referindo-se à sua pauta de redução de salários e direitos, nós afirmamos: Estamos em um pós-guerra, sim, precisamos de estabilidade no emprego e nenhuma redução de salários, e precisamos ainda de uma verdadeira revolução para impedir o colapso ambiental e o aprofundamento dessa tragédia social.

Antes que todos nós morramos afogados.

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