Educação

Rebeldia-SP: Sobre a greve no IFSP São Paulo

Luís Morona, de São Paulo (SP)

27 de novembro de 2025
star0 (0) visibility 3

Peteli e Morona, do Rebeldia-SP

Foram convocadas pela Federação Nacional dos Estudantes de Ensino Técnico (FENET) e outros movimentos estudantis diversas assembleias gerais de estudantes, em especial os de ensinos técnicos, no dia 5 de novembro, nas quais se discutiram nacionalmente questões do orçamento estudantil e a falta de assistência na permanência dentro dos Institutos Federais e CEFETs, a construção de restaurantes universitários (RUs) assim como sua gratuidade.

Com mais de 38 assembleias por todo o país, comportando milhares de discentes, organizou-se os comandos de greve locais e, com isso, foi acordada uma plenária nacional para condução de atividades de greve, assim como a paralisação nacional dos estudantes técnicos para o dia 26 de novembro. Com reivindicações desde a implementação dos bandejões como sua gratuidade, assim como o aumento das políticas de permanência à todos os estudantes que ainda não foram contemplados mesmo podendo.

O descontentamento dos estudantes não é novidade. O descaso é profundo: desde os constantes atrasos — que por vezes se estendem por meses — no depósito das bolsas do PAP, até os altos preços cobrados nos bandejões, quando sequer existe restaurante universitário em muitos campi. Soma-se a isso a retirada cada vez mais abrupta dos investimentos em políticas de permanência, como bolsas de iniciação científica, de docência e de extensão, que são fundamentais para garantir que os alunos possam seguir seus estudos com dignidade.

IF-SPO

O campus São Paulo por meio do DCE, FENET e Grêmio realizaram a assembleia em defesa dos estudantes de ensino técnico e organizaram, para o dia 26, algumas atividades em nosso campus junto à paralisação. Mesmo sendo o maior campus representante dos Institutos Federais e “servindo de exemplo” para os outros, por mais que tenha RU, seu preço é altíssimo, sendo um dos mais caros de todo o país e precisando de subsídio de mais de 10 reais para ter um preço que ainda não o torna acessível — subsídio esse que só é provido uma vez por dia, então a segunda refeição (geralmente a janta) é paga em seu preço pleno de 17 reais.

Todo ano enfrentamos o mesmo cenário: atrasos de até três meses no pagamento das bolsas de auxílio-permanência, enquanto falta infraestrutura básica para acomodar todos os estudantes. Somam-se a isso os incessantes ataques à educação por meio de cortes bilionários no orçamento, reforçando um modelo que trata a educação como privilégio das elites. Esse projeto limita e expulsa os estudantes trabalhadores das instituições, que já são poucas e de difícil acesso devido ao vestibular excludente, e que agora enfrentam um processo crescente de precarização do ensino em todo o país.

Trata-se de uma política que, sob a lógica de conciliação com os ricos — marca dos governos Lula e aprofundada nos últimos anos — abre espaço para que a extrema direita se fortaleça justamente no descontentamento gerado por essas medidas e pelos ataques à educação. É um ciclo que precariza, desmobiliza e alimenta ainda mais a ofensiva reacionária.

Construir as lutas nos institutos e organizar com os estudantes uma alternativa socialista. Todo apoio à greve!

Nós, do movimento Rebeldia-IFSP, apoiamos as reivindicações por assistência estudantil e melhoria da infraestrutura das instituições de ensino precarizadas. Chamamos os estudantes a participarem das paralisações dos campi e a construírem as atividades do dia 26, pelo fim do Arcabouço Fiscal do governo Lula e melhores condições de permanência e estrutura.

De nada adianta construir mais institutos federais se, a cada ano, temos menos orçamento para os que já existem, enquanto o dinheiro vai para o bolso de bilionários — evidenciando o projeto neoliberal de sucateamento da educação. Defendemos que o Arcabouço Fiscal faz parte de um conjunto de políticas, assim como o pagamento da dívida pública, que mantém nosso povo na miséria, sem acesso à educação, saúde e transporte de qualidade, enquanto favorece o enriquecimento dos bilionários e fortalece a extrema direita do país.

É justamente para manter esse sistema que o governo Lula, seguindo a política econômica dos governos anteriores, impõe essas medidas que desviam recursos das áreas sociais para os bilionários, sucateando a educação pública.

Organizar a luta com a base dos estudantes

No entanto, a construção de uma greve passa necessariamente por organizar os estudantes e conscientizar sobre a necessidade desse tipo de enfrentamento — ainda mais para nós, que buscamos construir uma alternativa socialista. Isso foi algo que o DCE e o Grêmio do IF não conseguiram imprimir: faltou dar a “tônica” dos debates, tornar a pauta popular e dialogar de fato com a base estudantil.

O resultado foi uma baixa participação nas assembleias, muitas dúvidas até o momento entre os estudantes sobre o motivo da greve e pouquíssima articulação com os centros acadêmicos e coletivos do IF. Fez falta uma construção coletiva e não apenas uma condução feita pelas entidades por cima do conjunto dos estudantes.

Por isso, colocamos ao DCE e ao Grêmio — ambos dirigidos pela Unidade Popular (UP) — a necessidade de que, tanto nos debates quanto no processo de greve, seja apresentada uma explicação de mundo e a perspectiva de construção de uma alternativa real.

Estivemos presentes nas assembleias defendendo a urgência de uma oposição de esquerda e socialista ao governo Lula. Não basta criticar pontualmente sua política econômica como faz o DCE e o Grêmio; é preciso demonstrar de forma contundente a quem o governo Lula serve. Pois, para enfrentar de fato os capitalistas e a ultradireita, é necessário romper e derrotar a política de conciliação que Lula aprofunda.

Organizar os de baixo para enfrentar o capitalismo

Precisamos avançar em mobilização e organização de forma independente, afirmando nossas próprias necessidades. Nesse processo, é fundamental fortalecer uma alternativa revolucionária e socialista. Nós do Rebeldia defendemos a necessidade de debatermos uma verdadeira alternativa de poder — assim como tantos jovens da “geração Z”, que hoje já expressam sua revolta diante da realidade que nos é imposta. É preciso unir e organizar os de baixo: operários, juventude, indígenas, negros, mulheres e LGBTIs, com total independência de classe e enfrentando tanto os projetos da ultradireita bolsonarista quanto a esquerda da ordem capitalista representada por Lula.

Para isso, é urgente construir uma alternativa política que enfrente a ultradireita, rompa com a conciliação de classes praticada pelo PT, rejeite o eleitoralismo sem princípios e se coloque contra as alianças com o centrão. Diante desse cenário, só há uma saída real: superar o capitalismo e construir uma sociedade socialista. E esse caminho começa com a construção de uma organização revolucionária.

WordPress Appliance - Powered by TurnKey Linux - Hosted & Maintained by PopSolutions Digtial Coop