Nacional

Rio de Janeiro: o banquete dos vereadores e a fome do povo

Paula Falcão

24 de outubro de 2025
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A Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou mais uma regalia para si: um vale-refeição que se soma a um salário de mais de R$18 mil mensais. Enquanto a maioria da população raciona o almoço para fazer o dinheiro durar até o fim do mês, os “representantes do povo” ampliam seus benefícios pagos com o dinheiro de quem trabalha.

Uma casta bem alimentada

Com vencimentos que garantem uma vida confortável, os vereadores decidiram criar para eles mesmos mais um auxílio, como se não bastassem as verbas de gabinete, os carros, os assessores e os combustíveis pagos com dinheiro público. O novo vale-refeição ultrapassa R$1.700 por mês. A decisão foi publicada no Diário da Câmara Municipal de quinta-feira passada (16).

Não é uma questão de necessidade, mas de poder. Enquanto os trabalhadores precisam justificar cada centavo e comprovar cada gasto, os que estão no topo aprovam seus próprios privilégios sem constrangimento.

O contraste com quem ensina

Nos corredores das escolas públicas, os profissionais da educação seguem recebendo o mesmo vale-alimentação de R$12 por dia, congelado há mais de uma década. Doze reais que não compram nem um prato feito, muito menos garantem uma refeição digna durante toda a jornada.

Ao mesmo tempo, a cesta básica no Rio de Janeiro custa cerca de R$800,00, e muitos educadores precisam escolher entre almoçar e pagar o transporte para o trabalho.

Esses trabalhadores são os que mantêm a cidade de pé, formam novas gerações e, ainda assim, vivem com salários apertados, benefícios defasados e jornadas exaustivas. Enquanto isso, os vereadores desfrutam de confortos pagos pelos trabalhadores.

Um Estado a serviço de quem?

A criação de benefícios para vereadores não é um erro isolado: é o sintoma de um Estado que serve aos interesses de uma minoria privilegiada.

Quando o dinheiro público financia o luxo dos que mandam, mas nega dignidade aos que produzem, fica evidente quem controla as decisões e para quem elas são tomadas.

O Estado, longe de ser neutro, está nitidamente do lado dos que vivem do trabalho alheio, não dos que vivem do próprio suor.

A cidade das contradições

No mesmo Rio onde os vereadores garantem vale-refeição, há famílias inteiras que sobrevivem com menos de um salário mínimo, trabalhadores informais que almoçam pão com café e professores que levam marmita fria para não gastar no restaurante.

O luxo de poucos é sustentado pela fome de muitos. E, quanto mais os de cima acumulam, mais os de baixo são obrigados a apertar o cinto.

Essa desigualdade não é fruto do acaso, mas de uma escolha política. É a consequência direta de um sistema que protege privilégios e pune o trabalho. Enquanto os representantes garantem conforto, quem de fato faz a cidade funcionar continua esquecido.

O verdadeiro vale que o Rio precisa

O que o Rio precisa não é de mais regalias para parlamentares, mas de condições dignas para quem vive do trabalho. O vale-alimentação dos servidores deve ser reajustado, os salários valorizados e o orçamento público direcionado para quem carrega a cidade nas costas.

Valorizar o trabalhador da educação, da saúde, da limpeza e do transporte é valorizar a própria cidade. Garantir alimentação digna a quem ensina é garantir que o conhecimento e a dignidade não sejam sufocados pela miséria.

Enquanto o poder continuar nas mãos de quem se alimenta dele, o povo continuará pagando a conta com fome, cansaço e silêncio. Mas todo banquete tem um fim. E, quando o povo levantar da mesa, não será mais para servir, mas para cobrar o que lhe foi tirado.

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