Nacional

RS: “Em Guaíba, o cenário é, literalmente, de guerra. Uma grande tristeza”

Roberto Aguiar, da redação

16 de maio de 2024
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A situação da rua onde mora o motorista de ônibus Afonso Martins na cidade Guaíba (RS)

“No dia 3 de maio, durante o expediente, fomos avisados que começaram as inundações em Guaíba, cidade onde trabalho. Quando encerrei o expediente, já não podia voltar para casa, pois as duas grandes pontes que ligam Guaíba a Porto Alegre estavam ameaçadas de cair”. Foi assim que Nikaya Vidor, trabalhadora do Banrisul, iniciou a conversa com o Opinião Socialista

Como a região já vem sofrendo com fortes chuvas e enchentes desde o ano passado, Nikaya avaliava que a situação era perigosa, mas não imaginava o impacto e a dimensão que estavam tomando. “Meu colega do trabalho me convidou para ficar no apartamento dele. Chegando lá, não tinha água nem luz em todo o bairro. Quando acordamos pela manhã, o desastre era visível”, lembrou.

“As ruas alagadas, milhares de pessoas em movimento, andando desesperadas, para um lado e outro, arrastando malas na água, cachorros latindo enlouquecidamente, mães chorando com filhos no colo. Tudo desesperador. Nunca tinha visto uma situação assim. Era, literalmente, um cenário de guerra. Uma tristeza. Jamais vou esquecer”, completou Nikaya.

Cidade destruída, vidas perdidas

As ruas do bairro Santo Rita, onde moravam cerca de 30 mil pessoas, foram tomadas pelas águas. “O condomínio do meu amigo começou a ser inundado. O cenário de caos se ampliava. Não tinham agentes da Defesa Civil no bairro. A população se auto-organizava e cumpria as funções que o Estado deveria cumprir. Vale lembrar que, em 2024, o governador Eduardo Leite (PSDB) destinou apenas R$ 50 mil para equipar a Defesa Civil”, pontua Nikaya.   

Caminhões e tratores foram usados para retirar as pessoas do bairro Santa Rita e levá-las para um abrigo no centro da cidade, pois, lá, apenas uma parte tinha sido atingida pela enchente. 

“Eu decidi sair do condomínio do meu amigo. Estava sem bateria no celular, não recebia e nem enviava informações. Fui junto com outras pessoas em um caminhão. Em alguns momentos, achava que não íamos conseguir sair do bairro, pois o volume da água aumentava, tinha uma correnteza muito forte. Cortando os bairros até chegar ao Centro, podíamos ver o tamanho da destruição”, disse a trabalhadora do Banrisul. 

Além do cenário de guerra, Nikaya lembrou das histórias que ouviu em cima do caminhão. Da dor que era compartilhada, do olhar de desespero de quem busca um abrigo: “Um senhor, que ia ao meu lado, disse que morava na Cohab de Guaíba e que, por lá, se via corpos boiando e que mercados tinham sidos saqueados. Ou seja, por lá, a barbárie era ainda maior”. 

O caminhão que tirou Nikaya do bairro Santo Rita chegou ao centro de Guaíba. As pessoas foram alojadas em um lugar seguro. Ela ficou quatro dias sem poder sair da cidade. Só conseguiu retornar a Porto Alegre, de bote, no dia 7 de maio. Não pode ficar na sua casa, pois não tinha água nem luz. Buscou abrigo na casa da mãe, onde se encontra hospedada até o momento.

“Perdemos tudo o que tínhamos dentro de casa”

Fazendo o caminho inverso ao de Nikaya, o motorista de ônibus Afonso Martins saiu da cidade de Guaíba para trabalhar em Porto Alegre. Mas, com aumento no nível das águas e com a enchente na cidade de Guaíba, ele não conseguiu retornar para casa. A casa dele foi invadida pela água, a esposa e filhos foram para um abrigo, que foi alagado. Tiveram que ir para a casa de um amigo. Somente cinco dias depois, Afonso conseguiu atravessar o Guaíba e reencontrar sua família. 

“Ao voltar para casa, encontramos um cenário de destruição total. A água chegou até a metade da altura da parede. Perdemos todos os móveis. Todos os vizinhos perderam tudo. Colocamos tudo para fora, para ser levado pelos caminhões da Prefeitura. Foi embora a história de uma vida inteira”, disse Afonso em conversa com o Opinião Socialista.

Ele relatou as dificuldades que estão enfrentando para obter itens básicos de sobrevivência, como água. “Estamos com bastante dificuldade em conseguir água, gás, combustível. O odor de podridão ainda é grande na cidade. Está tudo um caos”, destacou Afonso. 

Móveis da casa do Afonso que foram destruídos pela chuva na cidade de Guaíba. Parte da casa também foi destruída.

Solidariedade de classe

Apesar de tudo isso, Afonso diz que a batalha será para reconstruir e acredita na solidariedade de classe trabalhadora para recuperar o que perdeu e seguir adiante. 

“Vamos batalhar para reconstruir tudo. A solidariedade de classe é importante para que possamos lutar e seguir adiante. A CSP-Conlutas e o PSTU estão empenhados em uma campanha nacional, que demonstra que a solidariedade entre nós, a classe trabalhadora, é fundamental. Vamos superar esse momento coletivamente e seguiremos na luta”, finalizou. 

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