Lutas

Servidores do Ibama paralisam atividades e cobram melhorias nas condições de trabalho

Categoria fala em 'descaso' do governo Lula em negociação por melhorias no plano de carreira

Redação

3 de janeiro de 2024
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As atividades de campo do órgão foram paralisadas após governo federal não avançar nas negociações | Foto: Ibama/Divulgação

Sem avanços nas negociações com o governo Lula (PT) por aumento salarial e melhores condições de trabalho, mais de mil servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) decidiram paralisar as atividades de campo. Amanhã, dia 4, acontecerá uma reunião do conselho de entidades dos servidores do meio ambiente, o que pode ampliar a paralisação para todo o setor. A reunião também vai discutir a possibilidade de greve de toda a categoria.

No último dia 30, os trabalhadores do Ibama enviaram um documento para o presidente do instituto, Rodrigo Agostinho, informando sobre a paralisação das atividades. “É uma resposta direta à falta de ação e suporte efetivo aos servidores e às missões críticas que desempenhamos. A presente medida nada mais é do que a expressão da luta pela valorização e respeito do serviço e do servidor público da área ambiental”, afirma o documento.

“Esta suspensão de atividades externas certamente terá impactos significativos na preservação do meio ambiente e atribuímos isso aos dez anos de total abandono da carreira do serviço público que mais sofreu assédio e perseguição ao longo do governo anterior e que ainda não foi devidamente acolhida e valorizada pelo atual. O fato é que, sem as condições adequadas e o reconhecimento devido aos nossos servidores, tornou-se impraticável prosseguir com as atividades normalmente”, completa.

No comunicado, os servidores afirmam que manterão apenas atividades burocráticas e de escritório, sem viagens e ações de fiscalização em campo, enquanto durar o período de paralisação.

Reivindicações

Os trabalhadores dizem que o Ibama opera atualmente apenas com 52% do seu efetivo e pedem, além da reestruturação do plano de carreira, um concurso público para recomposição do quadro operacional.

“Os bons resultados no combate ao desmatamento obtidos no último ano foram alcançados em grande parte graças a esforço e sacrifício destes servidores, que se submetem a jornada de trabalho que excedem muito à regulamentar e com alta taxa de sobrecarga em virtude da falta de servidores”, ressalta o texto enviado pelos trabalhadores ao presidente do Ibama.

“[A paralisação] afetará as atividades de fiscalização ambiental, inclusive na Amazônia, vistorias de licenciamento ambiental, prevenção e combate a incêndios florestais, liberação de exportações e importações, entre outras, até que suas reivindicações sejam acolhidas”, conclui o documento.

Os trabalhadores resolveram suspender as atividades após as negociações com o Ministério da Gestão, por melhorias no plano de carreira da categoria, não avançarem. O texto emitido pelos trabalhadores classifica a conduta do governo como “descaso” e diz que a “falha em responder a esta demanda será vista como um desrespeito não apenas aos servidores que representamos, mas também ao compromisso do Brasil com as questões ambientais globais”.

Apoio aos trabalhadores do Ibama

Nos últimos dias do ano, o governo Lula e o Congresso Nacional passam uma série de ataques contra os trabalhadores, os povos originários, o patrimônio público e a soberania do país.

A famigerada tese do Marco Temporal foi retomada pelo Congresso Nacional, que derrubou o veto parcial de Lula ao projeto aprovado em setembro, e passou a boiada contra os povos indígenas. Um resultado fruto não só de um parlamento dominado pela bancada ruralista, mas de um governo de unidade com grandes fazendeiros cuja política é a de favorecer o agronegócio.

“Nós estamos ao lado dos povos originários contra a tese genocida do Marco Temporal e pela demarcação de todos territórios indígenas e quilombolas. Estamos ao lado dos trabalhadores rurais por reforma agrária. Assim como, apoiamos a luta dos trabalhadores do Ibama por melhores salários e melhores condições de trabalho, uma necessidade urgente para fortalecer a luta contra a grilagem de terra, o garimpo ilegal e o desmatamento”, afirma Vera, da direção nacional do PSTU.

A indígena Künã Yporã (Raquel Tremmbé), militante do PSTU, também emitiu seu apoio: “O Ibama, o ICMBio, a Funai e o Incra são fundamentais para a proteção ambiental e para a sobrevivência dos povos. Por isso devemos cercar de solidariedade os servidores do IBAMA em greve por melhores condições de trabalho”.

Waldemir Soares, militante do PSTU e membro do Setorial de Povos Originários e Camponeses da CSP-Conlutas, classificou a greve como legítima e necessária: “O Ibama está em greve. As atividades de fiscalização estão paralisadas. Preservar o ambiente também é garantir reajuste salarial. A greve é legítima e necessária”.

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