Só a luta independente pode acabar com a escala 6×1
Atos de ruas realizados no dia 23 mostram o caminho a ser traçado, com autonomia e independência de classe frente aos governos e patrões
Os atos do dia 23 de novembro recolocaram a luta pelo fim da escala 6×1 nas ruas e deixaram um recado direto: se de pender da classe trabalhadora, essa pauta não será enterrada pelos governantes.
Ao mesmo tempo, abriram um debate necessário: qual é o nosso campo real nessa batalha?
Depois de meses apostando na pressão institucional, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) segue travada, e o governo tenta empurrar a responsabilidade para o Congresso Nacional, fingindo não ter nenhuma responsabilidade.
Voltar às ruas mostra que nenhum direito virá de cima. Será nas greves, paralisações e ações diretas que abriremos o caminho para derrotar essa escala desumana.
Hugo Motta trava a PEC 8/2025, mas não está sozinho
Enquanto a classe trabalhadora se mobiliza, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) mantém a PEC 8/2025 congelada. Ele não age isolado: o Congresso é um balcão de negócios dos patrões, no qual qualquer pauta trabalhista é bloqueada, enquanto as reformas neoliberais avançam sem pudor.
Não é de se espantar que os deputados que trabalham 3×4 atuem como linha auxiliar dos grandes empresários que financiam suas campanhas – muitos dos que mais lucram com jornadas longas, exaustivas, inclusive com a imposição de até dez dias trabalhados sem folga.
A narrativa de que “o Congresso é conservador” serve para esconder que esse travamento é funcional ao governo Lula e ao empresariado que ele próprio se comprometeu a “não assustar”.
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Enrolação
Lula prometeu, mas nem se mexeu
No 1º de Maio, Lula afirmou que era hora de “aprofundar o debate” sobre o fim da escala 6×1 e prometeu que seria sua prioridade.
Da fala à prática, nada: nem um projeto do Executivo, nem uma articulação para destravar a PEC, nem uma medida concreta para impedir jornadas abusivas. Quanto mais o tempo passa, mais evidente fica a tática: o governo empurra a responsabilidade ao Congresso enquanto controla os movimentos sociais e governa para os de cima.
É o mesmo método aplicado por Boulos, recém-empossado ministro, que diante da pressão indígena na COP30 defendeu uma “consulta prévia” que era uma farsa, pois não revogava o decreto que abre caminho para privatizar os rios amazônicos.
Com a escala 6×1, o roteiro é idêntico: prometer, criar fóruns, deixar a PEC rodar pelas comissões e no final não entregar nada.
Nem ouvir, nem negociar
É preciso enfrentar aqueles que nos exploram
Hugo Motta tenta justificar o engavetamento dizendo que precisa “ouvir quem emprega”. Lula, por sua vez, propõe “convocar empresários e trabalhadores para uma mesa de negociação”.
Não há dúvida de que o Congresso dominado pela extrema direita é inimigo do povo. Mas Lula, ao apostar na conciliação, termina defendendo os interesses patronais numa
conjuntura em que os capitalistas buscam ampliar a exploração, intensificar o ritmo de trabalho e alongar jornadas.
A reforma Trabalhista e a Lei das Terceirizações precarizaram tudo, obrigando milhões a dobrar a jornada em dois empregos ou fazer bicos para complementar a renda. No mesmo sentido, vai a “pejotização” legalizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Projeto de Lei (PL) dos Aplicativos, que permite jornadas de até 12 horas.
No mundo não é diferente: a Grécia aprovou jornadas de até 13 horas; nos Estados Unidos, avança a escala 996 importada da China; mesmo países que testaram a semana de quatro dias o fizeram apenas onde era funcional ao capital, enquanto milhões vivem
sob contratos precários, intermitentes e por peça, sem garantia mínima de salário. A lógica é a mesma em todos os lugares: a conciliação não funciona porque o objetivo das empresas é sempre explorar mais.
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Às ruas
Um programa para mobilizar os trabalhadores e enfrentar os capitalistas
O enorme apoio popular ao fim da escala 6×1 mostra uma explosão silenciosa: trabalhadores exaustos, adoecidos, sem tempo para viver.
A escala é símbolo máximo desse esgotamento. Para abolir de vez as jornadas abusivas e reduzir a carga semanal para 30 horas, é preciso atacar os lucros dos capitalistas. Isso exige um programa classista que comece pela revogação de todas as reformas neoliberais – trabalhista, previdenciária, terceirizações e o modelo de “autônomos” por aplicativo – e impeça a pejotização irrestrita.
É preciso defender o fim do arcabouço fiscal e a taxação progressiva das 250 maiores empresas para financiar a redução da jornada nos pequenos negócios, com ameaça real de expropriação dos conglomerados que descumpram a lei ou sabotem o processo.
Após a retomada das ruas no 23N, precisamos reunir movimentos e organizações de classe para construir essa plataforma e preparar um calendário de ação nos locais de trabalho. É dessa força que surgirá o caminho para derrotar a escala 6×1, não das promessas vazias de quem governa para os de cima.