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SP: Marta como vice de Boulos revela opção do PSOL por uma gestão de colaboração com a burguesia

A candidatura Boulos com Marta de vice representa uma aceleração da incorporação do PSOL à democracia burguesa

PSTU-SP

3 de fevereiro de 2024
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Boulos quer reeditar em São Paulo a chamada Frente Ampla de Lula nas eleições de 2022 | Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

PSTU São Paulo

Nessa sexta-feira (02/02) aconteceu o ato de filiação de Marta Suplicy ao PT para que seja vice na candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo.  O ato contou com a presença do próprio presidente Lula que articulou a indicação de Marta como vice. Segundo Boulos, o objetivo é reeditar a chamada Frente Ampla de Lula nas eleições de 2022, nesse caso Marta seria o seu novo “Alckmin”.

A indicação de Marta como vice é sintomática: o psolista pretende fazer um governo que, assim como o de Lula, concilia com a burguesia e inclusive com os setores ultrareacionários da institucionalidade burguesa brasileira.

Marta ocupou vários cargos públicos em sua carreira política, entre eles o de prefeita da cidade de São Paulo, entre 2001 e 2004, pelo PT. Durante seu mandato, a então petista, atacou duramente os servidores públicos com uma reforma administrativa que reduzia salários e instituiu a taxa de lixo e de iluminação pública, transferindo ainda mais para os pobres os custos da sustentação do Estado.

Após deixar o barco petista, que naufragava em 2015 fruto do desgaste produzido por 13 anos de governos de colaboração com a burguesia e pelas gigantescas mobilizações de 2013 que colocaram o PT e a Nova República de conjunto numa crise Marta durante o processo de impeachment de Dilma, em 2016, chegou a fazer coro com figuras da ultradireita, como Janaína Paschoal. Em seguida votou a favor da Reforma Trabalhista e do Teto dos Gastos do governo Temer, que atacaram duramente a vida dos trabalhadores brasileiros.

Para ser vice na candidatura de Boulos, Marta teve que se demitir do cargo que ocupava como secretária no governo do principal opositor de Boulos, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem o apoio do governador Tarcísio e de Bolsonaro.

É essa a trajetória da escolhida pelo PT e pelo PSOL para ser vice na candidatura de Boulos.

Mas a escolha da vice é apenas um sintoma de uma mudança de postura de Boulos e do próprio PSOL que miram na administração da maior e mais rica cidade do país em conciliação com a burguesia.

As alianças de Boulos não param no PT e em Marta Suplicy. Até agora, além da Rede Sustentabilidade (partido burguês que faz parte de uma federação com o PSOL), também o PCdoB e outros partidos burgueses como o PV e PDT farão parte da frente eleitoral encabeçada pelo PSOL. A brincadeira de Boulos durante o ato de filiação de Marta de que “se bobear, o Lula trás até o Tarcísio pra essa frente”, ainda que em um tom de provocação, tem um fundo de verdade. Afinal a Frente Ampla de Lula no Congresso abarca inclusive ex-bolsonaristas como Lira e partidos da base do governo Tarcísio, como o PSD de Kassab.

Boulos tem buscado se afastar da imagem de radical e para isso, além de uma vice que sinaliza para os empresários que podem confiar na sua boa intenção diante dos super-ricos, o ex-ativista de luta por moradia, tem visitado empresários e buscado estabelecer uma relação amistosa com a Faria Lima.

Boulos busca se afastar também do apoio direto às lutas dos trabalhadores. Diante das greves e mobilizações dos trabalhadores e do povo paulista contra as privatizações promovidas pelo governo Tarcísio à Sabesp, Metrô e CPTM, o psolista mantém uma postura de distância. Tampouco o deputado federal se põe a serviço das lutas de professores contra os recorrentes ataques à educação ou das greves dos estudantes das universidades estaduais paulistas (USP e Unicamp) contra o desmonte da educação universitária. É um crime que Boulos não utilize toda a força e relações que conquistou ao serviço das lutas dos trabalhadores contra os ataques do governo estadual e da prefeitura de São Paulo.

Em relação ao governo federal de Lula, Boulos e o PSOL são na prática base de apoio e tem servido como fiéis apoiadores que atuam para que Lula vá bem. Foi o que disse Boulos por ocasião da aprovação do famigerado Arcabouço Fiscal:

O PSOL apoia e trabalha para que o governo Lula dê certo. Por isso, temos fortes preocupações com o texto.

Enquanto Lula ataca os direitos dos trabalhadores, concilia com militares e empresários que patrocinaram a tentativa golpista de 8 de janeiro e financia projetos de privatização de governos estaduais (como o projeto de construção do trem privado que vai ligar São Paulo a Campinas e de 33 escolas estaduais com administração privada que o governo Tarcísio pretende construir no estado, além da construção de presídios privados no Rio Grande do Sul, todos financiados com verbas federais através do BNDES), Boulos e o PSOL no máximo apresentam emendas em projetos que atacam os trabalhadores, como foi o caso da Reforma Tributária.

Em relação a temas internacionais, Boulos também dá um giro à direita buscando viabilizar sua candidatura. Ao mesmo tempo que visita grandes cidades de países imperialistas, conhecidas pela segregação de pobres e imigrantes e repressão aos movimentos sociais, segue em silêncio absoluto sobre o genocídio promovido pelo Estado de Israel contra o povo palestino. Por ocasião de sua candidatura à presidência, em 2018, Boulos havia visitado o território palestino e defendido uma resolução do PSOL que na época apontava a necessidade de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) contra Israel. Agora, para não desagradar a burguesia, fez como máximo condenar os ataques do Hamas e não  emitiu nenhuma opinião de apoio ao povo palestino em sua resistência.

A escolha política do PSOL, de se integrar a passos largos à institucionalidade burguesa, de defender como horizonte estratégico essa democracia dos bilionários sem apontar uma saída para sua superação e de, inclusive,  buscar fazer parte de governos com partidos burgueses e com empresários, não só não serve aos interesses dos trabalhadores e do povo pobre, como inclusive não combate a fundo a ultradireita, justificativa que a esquerda do PSOL utiliza para defender sua estratégia de alianças com setores burgueses.

As correntes do PSOL

Tratando das correntes do PSOL, é vergonhoso o papel que cumpre a Resistência com um apoio acrítico, até ao silêncio conivente, como é o caso do MES, da dita esquerda do PSOL.

Nós damos importância à derrota da ultradireita bolsonarista e dos ataques que realizam Nunes na prefeitura de São Paulo e Tarcísio no governo do estado. Mas não será em aliança com a burguesia que os interesses dos trabalhadores e do povo pobre serão atendidos.

O exemplo do governo do PT é emblemático. Milhões de trabalhadores e jovens se mobilizaram para derrotar Bolsonaro, ainda que eleitoralmente. O governo petista que surgiu dessa eleição foi uma derrota ao bolsonarismo. Mas em seu governo, pelos compromissos que tem com banqueiros e grandes empresários, já aprovou em seu primeiro ano um Arcabouço Fiscal que mantem a lógica de estancamento dos gastos públicos para pagar a dívida aos banqueiros, uma Reforma Tributária que mantém um modelo de tributação que penaliza os mais pobres, uma lei das PMs que mantém uma série de resquícios da ditadura, uma série de cortes nos orçamentos da educação e saúde e tem promovido privatizações e financiado as promovidas pelos governos estaduais da ultradireita. Além disso, a conivência com os golpistas do 8 de janeiro e com militares e empresários que participaram de sua articulação demonstra que a adaptação à institucionalidade burguesa e as relações com a burguesia impedem um combate consequente à ultradireita.

Construir uma alternativa independente

Para o PT a filiação de Marta é parte da lógica de que vale tudo para garantir a governabilidade que já se tornou comum em sua ação há decadas. Para o PSOL, a candidatura Boulos com Marta de vice, em aliança com partidos burgueses e com um programa cada vez mais “palatável”, representa uma aceleração da incorporação desse partido a democracia burguesa e de um papel de gerir o capitalismo.

É preciso construir uma alternativa independente dos trabalhadores e socialista para São Paulo. Uma alternativa que não seja parte da Frente Ampla do PT com a maioria dos burgueses, banqueiros, latifundiários e ex-bolsonaristas como Arthur Lira. O PSOL e Boulos escolheram fazer parte desse campo. Ao mesmo tempo uma alternativa que mantenha um combate implacável contra Ricardo Nunes, Tarcísio, Bolsonaro e o projeto da ultradireita de ataques contra os trabalhadores.

O governo que o povo trabalhador paulistano precisa não será construída junto com a burguesia, como propõem Boulos, o PSOL e o PT. Ao contrário, será construída em oposição e enfrentando os grandes bilionários que lucram com a pobreza, as privatizações e o caos nos serviços públicos. Essa alternativa precisa ser socialista e revolucionária pra valer. Sem burgueses e seus partidos.