Nacional

Tarifaço de Trump ataca a soberania e aumenta a espoliação do Brasil 

Redação

7 de agosto de 2025
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Manifestação contra o tarifaço de Trump Foto Sindmetal/SJC

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se antecipou ao início do tarifaço, inicialmente programado (por ele próprio) para entrar em vigor no dia 1º de agosto, e anunciou uma lista de exceções à taxação de 50%, com 694 produtos, prorrogando, ainda, o início da cobrança para o dia 6 de agosto.

As “exceções” têm a ver, essencialmente, com produtos dos quais a economia e os monopólios norte-americanos dependem, como os produzidos pela Embraer (nada menos que 80% do tráfego interno dos EUA é garantido pela empresa brasileira) e o suco de laranja, além de derivados do aço.

Em suma, Trump atendeu aos lobbies dos monopólios norte-americanos. Mas isso não muda o caráter do ataque ao Brasil. Produtos como o café, o setor de plásticos e parte significativa de máquinas e equipamentos continuam com a taxação de 50%. Lembrando, ainda, que mesmo as tais exceções continuam taxadas em 10%.

Para se ter uma ideia, 30% do que é produzido de eletroeletrônicos no Brasil vai para o mercado norte-americano. Inúmeras empresas de pequeno e médio porte serão atingidas, como as que exportam madeiras e porcelanas, e das quais dependem vários municípios brasileiros. Ao final, quase 36% das exportações brasileiras continuam com o embargo de 50%, o que equivale, só em 2024, a US$ 14,5 bilhões de dólares (cerca de R$ 80 bilhões)

Dados levantados pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), calculam que o tarifaço pode atingir 10 mil empresas brasileiras e 3,2 milhões de trabalhadores no país. Ao mesmo tempo, no decorrer da próxima década, a política adotada por Trump representaria US$ 2 trilhões de dólares aos cofres da Casa Branca, que servirão para cobrir os gastos com os cortes de impostos aos mais ricos, enquanto os próprios trabalhadores e a população mais pobre dos EUA arcarão com parte das tarifas, repassadas aos consumidores.

O Brasil já é explorado pelas empresas dos EUA e Trump tem como objetivo aprofundar a exploração do país e pilhar os recursos naturais, para garantir os superlucros das suas multinacionais, à custa do sangue e do suor da classe trabalhadora brasileira.

Olho gordo

Big techs, fim do Pix e a questão das terras raras

Os interesses das big techs estão no centro do tarifaço de Trump. Além da chantagem em relação a Bolsonaro e os golpistas, Trump cresce o olho, mesmo, é no domínio das grandes empresas de tecnologia sobre o país.

Num momento em que se discute a regulamentação das redes, e a taxação dessas empresas, o imperialismo norte-americano quer assegurar que as “magníficas” – como a Alphabet (dona da Google), a Amazon, a Meta (do Facebook), além da Microsoft – continuem atuando livremente e lucrando, ignorando e passando por cima das leis do Brasil.

Os tentáculos das big techs se estendem para além das redes sociais. Elas querem, por exemplo, junto com os bancos, acabar com o Pix, para poderem lucrar com a movimentação do nosso próprio dinheiro.

Desde sua criação, o sistema elaborado pelo Banco Central movimentou R$ 60 trilhões, uma grana que passou por fora dos bancos norte-americanos. A iminência do “Pix parcelado” ameaça escantear mais ainda esse setor, que simplesmente não aceita lançar mão de parte do dinheiro que os brasileiros movimentam no dia-a-dia.

Além disso, as big techs querem, ainda, continuar atuando “livremente”, sem pagar qualquer imposto ou sem regulamentação, e espalhando, também livremente, “fake news”, para impulsionar seus políticos de extrema direita.

Da mesma forma, estão de olho nos “minerais críticos”, como o lítio e o nióbio, fundamentais para as baterias da Tesla, de Elon Musk, por exemplo. Assim como desejam o domínio da instalação de “data centers” no país, a infraestrutura física para o funcionamento da Internet.

A mineração no Brasil já é subordinada aos interesses dos imperialismos, o que Trump e as big techs querem é justamente aprofundar o caráter colonial do país, espoliando esses recursos naturais por meio da chantagem e do embargo econômico.

Imperialismo

Não à ingerência política dos EUA no Brasil

Se por um lado o tarifaço faz parte da política externa do imperialismo norte-americano (de taxar o mundo inteiro), o caso do Brasil mostrou uma evidente tentativa de interferir na política interna e no judiciário brasileiro, para livrar seu aliado Bolsonaro da cadeia e garantir a livre atuação das big techs norte-americanas, acima das leis do Brasil. A aplicação da chamada Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, escancara a chantagem imperialista contra o judiciário brasileiro, em favor dos golpistas.

Os bolsonaristas e a extrema direita, ao comemorarem a ingerência norte-americana, escancaram a hipocrisia de seu discurso “patriota”. São verdadeiros entreguistas, vassalos de Trump e de um país estrangeiro que nos explora.

Sabemos que o regime político brasileiro serve aos ricos e, inclusive, a cúpula do judiciário e do STF também servem à manutenção do capitalismo. Não há o porquê ter, por isso, confiança alguma em Alexandre de Moraes ou no STF. Assim como não depositamos confiança alguma no próprio governo Lula, do qual o PSTU é oposição de esquerda desde o seu primeiro dia, e que é garantidor dos interesses dos bilionários capitalistas.

O que se trata aqui, porém, é defender a soberania do país contra a ingerência estrangeira por parte de um país imperialista, assim como garantir punição a Bolsonaro e todos os golpistas. Prisão domiciliar é pouco para Bolsonaro. Ele e sua corja devem apodrecer na cadeia.

É preciso repudiar e ser linha de frente contra qualquer tipo de ingerência dos EUA na política, na economia, no regime ou no judiciário brasileiro. E, desde aí, temos que exigir uma ampla unidade de ação na luta contra os EUA. Junto com isso, é preciso denunciar o papel vergonhoso de todos os setores que capitulam diante de uma agressão política e econômica estrangeira.

Soberania não se negocia

Lula, negociação é entrega do país! É preciso enfrentar Trump!

Brasília (DF) 03/06/2025 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O tarifaço de Trump tem como objetivo colocar o Brasil de joelhos, aprofundando ainda mais a subordinação do país ao imperialismo norte-americano. Seja através da taxação, que recairá em última instância sobre os salários e empregos da classe trabalhadora brasileira; seja na espoliação direta dos recursos naturais do país.

Na lista de ambições de Trump em sua cruzada pelo mundo, por exemplo, está a busca pelas chamadas terras raras, recursos naturais fundamentais para baterias e outros produtos de alta tecnologia.

Diante disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, representando o governo Lula, afirmou à imprensa que esses recursos minerais estavam na mesa para negociar com Trump. “Temos minerais críticos e terras-raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais, podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes”, declarou à BandNews.

Esta é uma demonstração de que, apesar de toda a retórica de Lula, supostamente contra os EUA, a sua política é buscar a negociação e a conciliação com o imperialismo. Não é à toa que, até agora, não tenha havido qualquer retaliação e nem mesmo foi aplicada a Lei da Reciprocidade.

Pelo contrário, atendendo aos apelos dos setores patronais da indústria e do agro, o governo vem se rendendo ao governo Trump, oferecendo as cobiçadas terras raras como parte dessa negociação.

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Burguesia quer aproveitar para jogar a crise nas costas dos trabalhadores

Presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Alban Foto CNI

Tão logo foi anunciado o tarifaço de Trump, a burguesia brasileira se mobilizou, não para defender o país e a sua soberania, mas para pressionar o governo e, junto com ele, negociar com o imperialismo e não retaliar, nem mesmo utilizando a prerrogativa da reciprocidade (aprovada com os votos da Bancada Ruralista, do Centrão e os lobbies dos monopólios no Congresso Nacional).

O presidente da Embraer, por exemplo, prometeu construir uma unidade (prevista para ser feita no Brasil) no país de Trump. Já a fabricante de armas Taurus, do Rio Grande do Sul, que exporta para os EUA, prometeu transferir sua produção para lá.

Ou seja, a burguesia brasileira, sócia menor dos imperialismos, ainda que tenha certos interesses que, de alguma forma, batam de frente com a política de Trump, não hesita em rifar os empregos e a renda de milhares de trabalhadores, ou baixar a cabeça para a ingerência dos EUA no Brasil, para manter seus lucros e garantir seus negócios.

Salários e direitos na mira

O governo tem uma divisão de tarefas. Enquanto Lula fala em enfrentar os EUA, seus ministros Haddad e Alckimin (que também é ministro da Indústria e Comércio) se reúnem com os empresários e trabalham como verdadeiros porta-vozes dos interesses do empresariado entreguista brasileiro, que busca acordos e conciliação com o imperialismo dos EUA.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) levou a Alckmin a reivindicação de um pacote para abrandar os efeitos do tarifaço nos setores afetados. E, adivinhe, a receita dos empresários é a mesma de todas as crises, como a recessão de 2015-2016 e a pandemia: garantir seus lucros à custa dos salários, direitos e empregos.

O pacote inclui linhas de crédito via o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), adiamento e parcelamento de impostos e a reativação do Programa Seguro-Emprego, que permite a redução dos salários, ou até a suspensão dos contratos de trabalho.

As propostas aventadas para jogar a crise, mais uma vez, sobre as costas dos trabalhadores, porém, vão além do pacote defendido pela CNI. Reportagem da “Folha de S. Paulo” elenca uma série de medidas, utilizando dispositivos da Reforma Trabalhista e da decisão do STF, que submete a legislação à negociação com os patrões.

Já o presidente da CUT, Sérgio Nobre, por exemplo, defende medidas como a antecipação de feriados e banco de horas, sem descartar a redução dos salários e da jornada.

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