Editorial: Tomar as ruas contra Bolsonaro e as ameaças golpistas
O teatro protagonizado por Bolsonaro, na presença de embaixadores de todo o mundo, tentava desviar a atenção do dramático quadro social em que o país se afunda e reforçar suas ameaças de golpe.
Em meio à fome que atinge mais de 33 milhões de brasileiros, e à carestia que fustiga milhões de famílias, Bolsonaro avança em sua tentativa de imitar aqui o que Trump fez nos EUA. Praticamente anuncia que não vai reconhecer o resultado das eleições, caso perca, para justificar qualquer tentativa de autogolpe. No mínimo, ensaia alguma presepada, como foi o Capitólio, para posar de vítima e manter sua base coesa para o futuro.
A classe trabalhadora, a juventude e o povo pobre precisam lutar contra a fome, o desemprego, a carestia e a inflação, mas também contra as ameaças de Bolsonaro às liberdades democráticas. Não podemos assistir novamente, de forma passiva, a mais um desfile de tanques esfumacentos como foi o 7 de setembro do ano passado. A cada ato de intimidação e ameaça sem uma resposta à altura, Bolsonaro vai se sentindo mais à vontade em seu projeto de ditadura, o que significaria também o agravamento da miséria e da desigualdade social.
As organizações da classe trabalhadora, incluindo aí os partidos, deveriam chamar para já mobilizações contra as ameaças golpistas de Bolsonaro. O problema é que a resposta, principalmente do PT, às investidas autoritárias de Bolsonaro é o voto nas eleições. Não é de hoje isso, essa tática do PT foi o que, inclusive, permitiu que chegássemos aonde estamos. O partido freou as mobilizações pelo Fora Bolsonaro para apostar no desgaste eleitoral, e permitiu que ele continuasse lá fazendo as maiores barbaridades.
O PT não só desviou as lutas para a via eleitoral, como também garantiu a governabilidade de Bolsonaro nesse tempo. Votou a favor da PEC dos Precatórios no ano passado, votou a favor da recondução de Augusto Aras à Procuradoria Geral da República (PGR), o mesmo que agora se finge de surdo à sucessão de crimes praticadas no Planalto. Mais recentemente, votou a favor da PEC do Desespero, não defendendo uma medida que realmente ponha fim à fome e à miséria.
O papel dos partidos de oposição, principalmente os que se dizem de esquerda, na votação da PEC é uma vergonha. Nem cumpriram o papel de denunciar a perversidade eleitoreira da medida, tampouco lutaram por uma proposta alternativa, não só melhor que arrancasse mais para o povo, mas que desmascarasse esse sistema.
E agora, enquanto Bolsonaro diz para quem quiser ouvir que não vai aceitar sair derrotado em outubro, Lula e Alckmin preferem se mostrar confiáveis à Faria Lima e ao grande empresariado. Ou seja, chegamos até aqui porque a direção majoritária da classe trabalhadora preferiu canalizar tudo para as eleições e, diante do acirramento da crise, o que fazem é oferecer mais eleições, e ainda com um programa de conciliação com a burguesia.
Confiar na burguesia e nas instituições desse regime para proteger as liberdades democráticas diante da ameaça bolsonarista é a receita para o fracasso. Se hoje parte majoritária da burguesia é contra o golpe, nada garante que vão se colocar contra um. Ou até que não defendam uma ditadura amanhã, já que para eles tanto faz, desde que continuem ganhando dinheiro.
Para lutar contra a ameaça golpista é preciso a unidade, na luta, de todos que são contra o projeto autoritário do bolsonarismo. Mas, para ser vitorioso um movimento desses, é fundamental que esteja capitaneado pela classe trabalhadora, mobilizada e organizada de forma independente. Só a classe trabalhadora pode impedir ou derrotar um golpe, e uma vez mobilizada, só ela pode reivindicar emprego, salário e direitos.
Da mesma forma, só a classe trabalhadora pode dar um basta à crescente violência política insuflada pelo bolsonarismo. Não podemos naturalizar os atentados da ultradireita, é preciso responder com organização da classe e autodefesa.
Vera e Kunã Yporã
Voto útil é numa alternativa revolucionária e socialista
A organização independente da classe é fundamental para derrotar as investidas golpistas de Bolsonaro. Mas não só. Até mesmo para arrancar as reivindicações mais básicas e urgentes, como um auxílio de verdade, o fim do desemprego, da carestia, e a reversão da entrega do país, só se faz com os trabalhadores nas ruas.
A chapa Lula-Alckmin, por outro lado, defende que a saída é o voto. E mais do que isso, se colocam como alternativa ao bolsonarismo, com um programa de conciliação que pretende gerenciar essa crise do capitalismo. O grande problema disso é que não vai derrotar de fato o bolsonarismo, e muito menos resolver os problemas do povo.
Bolsonaro é fruto da crise social de um país que, há décadas, passa por um processo de rebaixamento cada vez maior no sistema internacional de Estados. Uma crise que se aprofundou no último período, e que exige um grau de superexploração cada vez maior da classe trabalhadora e do povo pobre. Ato contínuo, um grau de repressão cada vez maior. Isso se expressa no genocídio do povo preto, no encarceramento em massa da juventude negra, no assassinato de ativistas etc.
Para derrotar de fato o golpismo, o bolsonarismo e a ultradireita, é preciso da mobilização e organização independente dos trabalhadores, inclusive em relação à autodefesa. E para isso é preciso avançar na consciência de classe. Mas isso não se faz defendendo governar junto com a burguesia como faz a chapa Lula-Alckmin. É condição fundamental fortalecer uma alternativa independente, revolucionária e socialista.
Hoje, a pré-candidatura de Vera e Kunã Yporã (Raquel Tremembé) à Presidência, do Polo Socialista e Revolucionário e do PSTU, é expressão de uma alternativa independente, revolucionária e socialista.