Lutas

Vitória dos trabalhadores da Favela do Moinho

Luta da comunidade, em São Paulo, prova que, com luta e resistência, é possível derrotar os governos e conquistar direitos

PSTU-SP

23 de maio de 2025
star3 (4) visibility 50

Bruno Teixeira, de São Paulo (SP)

Desde 2024, cerca de 900 famílias da Favela do Moinho, no centro de São Paulo, enfrentam ameaças de despejo devido à Parceria Público-Privada (PPP) Campos Elíseos, um projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que visa transferir a sede do governo estadual para a região. O plano inclui transformar a área — atualmente de propriedade federal e cortada por trilhos de trem — em um parque. Por ser propriedade da União, Tarcísio, há um ano, tem negociado a cessão do terreno com o governo Lula.

A proposta inicial de Tarcísio era oferecer R$ 250 mil em cartas de crédito para aquisição de imóveis do CDHU (companhia habitacional do estado) em regiões periféricas. Isso implicaria endividamento para famílias em situação de vulnerabilidade e aqueles e aquelas sem renda suficiente ficariam desassistidos, correndo risco de ir morar na rua.

Ainda em 2024, o governo realizou uma grande operação policial na favela, com o pretexto de combater o tráfico de drogas. Moradores relataram abusos, invasões domiciliares, intimidações com cães farejadores e um clima constante de medo. Enfim, uma estratégia de assédio disfarçada de política de segurança.

Escalada do conflito e a resistência dos moradores

Em março de 2025, o governo intensificou a pressão sobre os moradores, ameaçando-os para que aceitassem o acordo, sob pena de perderem tudo. Em abril, tratores foram posicionados na região, para criar um clima de medo, e teve início a remoção das primeiras famílias. O governo Lula permaneceu conivente com o assédio aos moradores, uma vez que participa da negociação desde o início do processo.

No dia 12 de maio, o governo estadual iniciou a demolição das primeiras casas. Após três dias de intensa mobilização e confronto, com barricadas e enfrentamento da repressão policial, os governos estadual e federal foram forçados a negociar.

Em suma, os moradores conseguiram arrancar uma nova proposta dos governos, que garantiu cartas de crédito de R$ 250 mil, subsidiadas pelos governos, além de um auxílio aluguel de R$ 1.200 até a realocação. Dessa forma, famílias sem renda também foram contempladas, sem a necessidade de endividamento. Foi uma vitória fundamental, pois é parte de uma luta mais geral contra a especulação imobiliária e os lucros das construtoras bilionárias.

Os governos têm compromissos com as construtoras e bancos que lucram com a especulação. A unificação dos que lutam pelos interesses do povo trabalhador (como as várias ocupações e favelas), seguindo o exemplo da resistência do Moinho, é o caminho para derrotar esses projetos capitalistas.

“Guerra às drogas” e especulação imobiliária

A criminalização da pobreza, sob o discurso da “guerra às drogas”, tem sido usada pelo governo para justificar despejos no centro de São Paulo, como foi o caso do Moinho. Esse discurso racista e higienista atinge especialmente a população negra, sendo usada como instrumento de favorecimento ao setor imobiliário.

Imóveis em áreas pobres, consideradas degradadas, são comprados por valores baixos e ocupações são desalojadas, para permitir a valorização posterior, viabilizada por projetos de elitização do centro de São Paulo, sob o comando de Tarcísio e do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

“Gentrificação” do centro

A situação do Moinho é parte de um amplo processo de “gentrificação” no centro da capital paulista. Ou seja, a substituição de moradores de baixa renda por outros mais ricos. O objetivo é expulsar a população pobre e atrair investimentos imobiliários. O centro, com infraestrutura e acesso ao transporte, se tornou um dos alvos preferenciais dos especuladores e das construtoras.

Hoje, ao menos três projetos de Tarcísio e Nunes estão a serviço desse objetivo: a PPP de Regeneração Urbana, a PPP Campos Elísios e Projeto Requalifica Centro, que visam repassar para as construtoras mais de R$ 6 bilhões do dinheiro público, através de incentivos e investimento direto, para desapropriação de prédios antigos, expulsão dos moradores pobres e cortiços, construção da nova sede do governo, novos imóveis comerciais e habitação de classe média alta.

Combater a especulação e os despejos no centro de São Paulo

É falso que o centro de São Paulo esteja abandonado. Ele é habitado e utilizado por milhões de trabalhadores e trabalhadoras. O abandono é dos governos municipal e estadual, que não garantem condições dignas de vida. É necessário um plano dos trabalhadores, que enfrente a especulação e garanta o direito à cidade:

  • Despejo zero, já!
  • Expropriação de imóveis ociosos para habitação popular.
  • Unificar as lutas contra os despejos, numa grande luta conta a especulação imobiliária.
  • Fim das PPPs e repasses bilionários às construtoras.
  • Plano de obras públicas para reforma de prédios para moradia popular.
  • Reversão da privatização da regularização fundiária.
  • Novo Plano Diretor, construído pela classe trabalhadora.
  • Por um novo plano diretor de São Paulo, construído pelos trabalhadores, que organize a cidade em função das necessidades da classe trabalhadora e não do mercado imobiliário
  • Para isso é preciso um governo dos trabalhadores, que governem através de conselhos populares

 

WordPress Appliance - Powered by TurnKey Linux - Hosted & Maintained by PopSolutions Digtial Coop