Opinião Socialista

PSTU 30 anos: A dura prova durante os governos Lula e Dilma

Diego Cruz

20 de junho de 2024
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Manifestação na Av Paulista em defesa de um campo independente da classe trabalhadora Foto Romerito Pontes

Ao longo de seus 30 anos, o PSTU manteve sua coerência, nunca abandonando o princípio da independência de classe e a defesa de um projeto revolucionário e socialista. Se isso já é desafiador nos marcos de governos burgueses e da direita tradicional, o é ainda mais durante os governos de conciliação de classes; ou seja, sob governos que unem a burguesia e as direções e lideranças dos movimentos de massas e são vistos, por grande parte da classe trabalhadora, como um governo seu.

Nesse tipo de governo, as organizações revolucionárias podem incorrer em dois grandes erros: o sectarismo, que é menosprezar a ilusão que esses governos despertam nas massas, ou, principalmente, o oportunismo, ou seja, deixar de combater um governo capitalista, atuando para que a classe trabalhadora supere suas ilusões, mas, pelo contrário, reforçando tais ilusões, deixando-se cooptar pelo governo e se transformando, quando muito, em sua ala esquerda.

As pressões oportunistas, que já ocorrem nos governos de direita, se exacerbam nesse tipo de governos, e, ao longo da História, as organizações revolucionárias têm se adaptado a eles.

E foi justamente isso o que aconteceu nos governos Lula e Dilma. Ao longo de seus 13 anos, as poucas organizações que ainda defendiam alguma perspectiva socialista abandonaram esse critério por completo e passaram, com malas e bagagens, ao campo supostamente progressista do PT. Foi o caso do PSOL, por exemplo, que, no início do primeiro mandato de Lula, começou como uma ruptura e, na campanha eleitoral para o terceiro mandato do petista, terminou como um braço à esquerda desse partido

Resistindo às pressões oportunistas

A crise capitalista iniciada em 2008 expôs o real caráter do governo de colaboração de classes de Dilma, que respondeu às mobilizações de 2013 com repressão e impôs, logo depois, o maior ajuste fiscal da História do Brasil.

Com o “ministro do mercado” Joaquim Levy à frente da Economia, o governo Dilma, entre 2014 e 2016, jogou o país em sua mais profunda recessão. Além disso, logo no início de segundo mandato, Dilma desferiu ataques contra direitos, como o seguro-desemprego e o PIS-PASEP, o que transformou a base social do PT em pó.

Foi só quando o governo Dilma se mostrou inviável para continuar aplicando sua política de ataques que parte majoritária da burguesia e seus partidos se decidiram pelo impeachment. Diante da polarização entre dois campos burgueses, o PSTU, ao contrário da quase totalidade da esquerda socialista, defendeu uma saída de independência de classe, sem capitular ao governo nem a Temer, Eduardo Cunha e outros setores que saíram da base de apoio do governo e promoveram o impeachment.

A defesa de uma via dos trabalhadores

O PSTU não defendeu o impeachment, como acusou boa parte da esquerda. Apesar de o impeachment não ter significado um “golpe”, a medida transferia o poder ao vice-presidente Michel Temer, que, por sua vez, levaria adiante a mesma política do governo e dos banqueiros, aprofundando a Reforma Trabalhista e demais ataques.

Por isso, o PSTU defendia que os trabalhadores deveriam tirar todos do Planalto e, na medida em que não contávamos com organização e mobilização para formarmos conselhos populares, chamávamos “Eleições Gerais, já!”.

Ou seja, a necessidade, naquele momento, não era defender Dilma, muito menos seu vice; mas, sim, apostar na construção e no fortalecimento de um campo e de um programa da classe trabalhadora para a crise.

A maioria da esquerda, porém, priorizou a defesa de um governo que era rechaçado pela grande maioria da população. A falta de uma alternativa da classe trabalhadora deixou uma via aberta para o crescimento da ultradireita, que, pouco depois, chegaria ao governo com Bolsonaro.

Entre erros e acertos, pode-se dizer, sem medo, que o PSTU passou por essa dura prova mantendo firme a bandeira da independência de classe e da revolução socialista.

Enfrentamentos

Na linha de frente contra o governo Temer

Durante o governo Michel Temer (MDB), o PSTU esteve na linha de frente do combate ao aprofundamento dos ataques que a burguesia impunha, como resposta à crise.

Foi assim, por exemplo, na greve geral de 28 de abril de 2017, contra as reformas Trabalhista e Previdenciária; simplesmente a maior greve nacional em mais de duas décadas, contrariando a tese, defendida pelo conjunto da esquerda, de que o movimento estava na defensiva.

Enfrentando a repressão contra a Reforma Trabalhista

A realidade é que o Brasil passava pela maior onda de greves e mobilizações desde os anos 1980. O movimento “Ocupa Brasília”, em maio daquele ano, contou com o PSTU na linha de frente do enfrentamento à dura repressão policial que, durante quase um dia inteiro, transformou a Esplanada dos Ministérios num enorme campo de batalha.

Foto: Lula marques/ AGPT

O conjunto da esquerda e as direções do movimento, porém, recusaram-se a levar adiante aquele movimento, que poderia muito bem ter derrubado o fraco governo Temer, e preferiram, mais uma vez, apostar nas eleições.

Diante dessa política, que não pode ser definida de outra forma que não uma traição, a Reforma Trabalhista foi aprovada, assim como o Teto de Gastos, enquanto a classe trabalhadora continuava órfã de uma alternativa a um sistema que aprofundava a crise, a precarização e a degradação de suas condições de vida.

Coerência

Enfrentando Bolsonaro e a extrema direita

Durante o governo Bolsonaro, a classe trabalhadora ainda protagonizou importantes lutas, apesar de um certo refluxo, explicado, dentre outras coisas, pelas traições e, em parte, porque foi ganha para um projeto de ultradireita falsamente apresentado como antissistema,

O “Tsunami da Educação”, em 2019, varreu o país com uma onda de mobilizações. Já na pandemia, os panelaços precederam as manifestações de rua e duros embates contra o governo de ultradireita. A Reforma da Previdência, de Guedes e Bolsonaro, foi um duro ataque, e, sim, uma derrota imposta à classe. Contudo, havia espaço e disposição para que levássemos adiante uma forte mobilização pelo “Fora Bolsonaro”, que havia se tornado “de massas”.

Via eleitoral

Repetindo a História, as direções dos movimentos e da esquerda parlamentar, como PT, PSOL e PCdoB, preferiram frear o movimento, priorizar a “luta de gabinete”, e esperar por um “Feliz 2022”. Ao invés das greves e da ação direta, priorizaram a CPI da Covid, que, obviamente, deu em nada, mas possibilitou que os parlamentares ficassem em evidência, para capitalizar nas eleições.

O PSTU, ao contrário, nunca abandonou as trincheiras, apostando nas mobilizações e exigindo dessas direções a generalização das lutas; apresentando um programa emergencial para a pandemia, que atacasse os bilionários, e apontando para a derrubada do governo de extrema direita, em unidade de ação com todos os setores que se colocassem contra o projeto de ditadura do bolsonarismo.

Nas eleições: uma estratégia socialista e revolucionária

Nas eleições, o PSTU apresentou as candidaturas de Vera e Raquel Tremembé, à presidência e à vice, confrontando a ideia, disseminada pelos setores majoritários da esquerda, de que a saída, diante dos avanços da extrema direita, seria a recauchutada conciliação com a burguesia.

Ao contrário, se na ação direta contra o bolsonarismo e a extrema direita era necessária toda a unidade possível, para apresentar uma alternativa política à classe trabalhadora era preciso uma candidatura que expressasse o rechaço ao sistema capitalista e a unidade dos trabalhadores com os setores oprimidos, com uma estratégia socialista e revolucionária.

No segundo turno, o PSTU chamou o voto crítico em Lula para derrotar, nas eleições, o projeto golpista de Bolsonaro. Mas, alertávamos, desde aquele dia, que nenhuma mudança significativa viria de um governo aliado com a burguesia e a direita e que, depois, se juntou até a setores da extrema direita. Pelo contrário, já dizíamos que o processo de rebaixamento e degradação do Brasil continuaria, ajudando a fermentar o caldo de cultura que deu origem ao ascenso à ultradireita.

Governo Lula/Alckmin

Novos desafios em meio à velha acomodação da esquerda ao sistema capitalista

Chegamos, finalmente, ao governo Lula-Alckmin. Um governo que, desde a sua formação, apontou para uma coalizão ainda mais à direita e que, além de Alckmin, abarca até setores oriundos do próprio bolsonarismo golpista.

Como nos 13 anos de governos de conciliação, a grande maioria das organizações de esquerda está no governo, tendo cargos em ministérios, como é o caso do PSOL, ou não, como a Unidade Popular (UP), que, embora possa parecer à esquerda, recusa-se a enfrentá-lo e a construir uma alternativa de fato.

Mas, a situação, hoje, é bastante diferente. O governo já não conta com a margem de manobra que possibilitou uma série de concessões, que seguraram a popularidade de Lula no passado, enquanto governava com e para a burguesia e o imperialismo. Agora, o governo já impõe um duro ajuste fiscal, através do Arcabouço Fiscal, enquanto a burguesia exige cada vez mais.

No meio disso, também há, agora, uma extrema direita mais organizada, que se apoia no crescimento e no fortalecimento da ultradireita internacional, sedenta por voltar ao poder. A barbárie capitalista, por sua vez, se aprofunda, como expressa a tragédia no Rio Grande do Sul, ou as chacinas policiais e o extermínio indígena.

Nessa encruzilhada, o PSTU reforça a necessidade da construção, junto à classe trabalhadora e aos setores mais oprimidos da classe, de uma oposição de esquerda, revolucionária e socialista, como uma alternativa para a classe trabalhadora. Só assim poderemos enfrentar, de forma consequente, a barbárie capitalista, a entrega do país e os ataques aos direitos. E, também, derrotar, de vez, a ultradireita.

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