Carnaval: A luta em defesa do povo palestino ecoou nos blocos país afora
Defesa dos povos originários e quilombolas e a denúncia da violência policial também ganharam espaço
Não teve Carnaval na Palestina. Enquanto brincávamos atrás dos trios elétricos, nos bloquinhos, nos grupos de frevo ou nos desfiles das escolas de samba, o Estado racista e genocida de Israel seguia bombardeando Gaza.
Mas o povo brasileiro não deixou de expressar apoio e solidariedade aos palestinos em meio a maior festa popular do país. Dezenas de blocos carnavalescos assinaram um manifesto em apoio à causa palestina, outros tomaram esse tema como central em seus desfiles, como foi o caso do tradicional bloco ‘Acorda Peão’, formado por sindicatos e movimentos sociais da cidade de São José dos Campos (SP), onde cerca de 800 pessoas se reuniram para curtir o Carnaval e protestar.
Na capital paulista, cerca de 30 blocos de rua assinaram o manifesto “Carnaval é diversão e resistência: Palestina livre”. A bandeira da Palestina esteve presente no desfile de vários blocos, como a “Banda do Trem Elétrico”, o “Sô Fia da Vida”, os “Unidos da Madrugada”, “Agora Vai” e “Unidos da Ursal”.
Belo Horizonte
“Carnaval de BH é resistência e solidariedade! Palestina livre do rio até o mar!”, dizia um cartaz no trio elétrico do bloco “Então, Brilha!”. A ação fez parte da campanha “Carnaval da Resistência e da Solidariedade” organizada pelo Comitê de Solidariedade à Palestina, também integrado pelo PSTU.
Ações foram realizadas durante toda a folia momesca na capital mineira em outros blocos, a exemplo do “Orisamba”, do “Pena de Pavão”, da “Maria Baderna” e do “Pisa na Fulô”.
Olinda
Na cidade histórica pernambucana, o bloco “Cabelo de Fogo” realizou seu 10º desfile. O cortejo, que foi acompanhado pela “Orquestra 100% Camará”, teve como tema a luta contra as opressões do Brasil até a Palestina. O bloco organizado pelo PSTU é uma homenagem à companheira Sandra Fernandes e seu filho Icauã, vítimas da violência machista, que nos deixaram no Carnaval de 2014.
Abre alas para o protesto
Defesa dos povos originários e quilombolas e a denúncia da violência policial ganharam espaço
Com o enredo “Hutukara”, que na língua yanomami significa “o céu original a partir do qual se formou a terra”, a Escola de Samba Salgueiro exaltou a mitologia Yanomami e levantou a bandeira em defesa da Amazônia no Carnaval do Rio de Janeiro.
“Napê, nossa luta é sobreviver! / Napê, não vamos nos render!”, diz a letra do samba-enredo da Salgueiro, em momento que o garimpo ilegal voltou a ocupar, com força, as terras yanomami no Norte do Brasil.
Salvador
Na tradicional “Mudança do Garcia”, que acontece na capital baiana, os militantes do PSTU e ativistas da CSP-Conlutas desfilaram com uma faixa cobrando do governador Jerônimo Rodrigues (PT) o fim dos assassinatos dos povos negro, indígena e quilombola. A Bahia tem sido palco de um forte conflito agrário contra indígenas na região Sul do estado e contra quilombolas da região do Recôncavo, com assassinatos de lideranças como Mãe Bernadete, do Quilombo Pitanga dos Palmares.
São Paulo
Com um enredo em homenagem ao Quilombo Quingoma, localizado na cidade de Lauro de Freitas, na Bahia, a Escola de Samba Penha Grupos foi campeã do grupo de Acesso dos Bairros de São Paulo.
O Quilombo Quingoma resiste contra a ofensiva do setor imobiliário, que juntamente com o governador do PT, Jerônimo Rodrigues, tenta roubar as terras da comunidade quilombola. A Escola de Samba da Penha ajudou a ecoar a luta do Quingoma. A militância do PSTU da Zona Leste e do Quilombo das Rosas participaram do desfile.
Já no desfile das principais escolas de samba da capital paulista, a Vai-Vai levou à avenida o enredo “Capítulo 4, Versículo 3, da rua e do povo, o Hip Hop: um manifesto paulistano”, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que, por anos, tentou excluir manifestações culturais como o hip hop.
O desfile, que ofereceu alguns recortes históricos, mencionando a Semana de Arte Moderna de 1922 e o lançamento do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MCs, de 1997, além de resgatar figuras importantes na história da música negra paulistana, como Nelson Triunfo e Sabotage, teve uma ala com pessoas fantasiadas de policiais, usando capacetes com chifres e asas vermelho-alaranjadas, fazendo alusão a demônios.
A escola de samba recebeu críticas do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas e do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp). A Vai-Vai fez um desfile certeiro, pois para a população da periferia, negra e indígena em sua maioria, muitas vezes as polícias atuam, sim, como verdadeiras hordas demoníacas.