Nacional

G20: fora os imperialistas, genocidas e seus cúmplices

Esquerda “da ordem” abandona tradição da luta contra o imperialismo na América Latina

Herbert Claros, de São José dos Campos (SP)

14 de novembro de 2024
star5 (6 avaliações)

Herbert Claros e Rita Souza, do Rio de Janeiro (RJ)

A reunião do G20, que será realizada nos próximos dias 18 e 19, no Rio de Janeiro, com os chefes de Estado das maiores economias do mundo, está permeada por um contexto de profunda crise do capitalismo, com a classe trabalhadora cada vez mais prejudicada pelos planos neoliberais de austeridade. Um contexto também marcado pelo avanço da ultradireita em diversos países e por várias guerras, como na Ucrânia e o genocídio do Estado de Israel contra a Palestina, que, agora, também se estende ao Líbano.

Lula deveria ter rejeitado que o G20 acontecesse no Brasil. É um absurdo sediar uma cúpula como essa, que só serve aos interesses das grandes potências imperialistas, principalmente num momento em que Israel conta com países cúmplices no genocídio do povo palestino.

Governo Lula estende tapete vermelho a quem nos arranca o sangue

O governo brasileiro se torna cúmplice do imperialismo e do genocídio na Palestina ao estender “tapete vermelho” a chefes de Estado genocidas como Biden (Estados Unidos), Macron (França), Giorgia Meloni (Itália), Olaf Scholz (Alemanha) e Sergey Lavrov (que representará presidente russo Putin, que não virá ao Brasil). Esses líderes são patrocinadores diretos do Estado nazisionista de Israel e alimentam o lucro das empresas de armas à custa das vidas de palestinos e libaneses.

Além disso, é um absurdo que essa cúpula aconteça no Brasil, um país que sofre diretamente as consequências do domínio do imperialismo. Seja em função da crise ambiental, da precarização do trabalho, das privatizações a serviço do mercado ou do desmantelamento dos serviços públicos necessários à qualidade de vida, como Educação e Saúde, por exemplo.

Leia também

“Realização do G20 no Brasil é uma vergonha”

Repressão e cooptação

Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Mas, PT e Lula foram além no que diz respeito à conciliação com o imperialismo. Tentando justificar o controle da violência no Rio, num momento de visibilidade internacional, o governo escolheu impor um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que dá poder de polícia aos militares.

A GLO, prevista na Constituição Federal, confere ao Presidente da República o poder de mobilizar as Forças Armadas em situações extraordinárias de perturbação da ordem pública. A questão é simples: Qual “perturbação da ordem pública” o governo está esperando?

Fazer o uso abusivo e arbitrário da violência, com grave risco de adoção de medidas típicas de um regime de exceção, são incompatíveis com os preceitos democráticos brasileiros e do Direito Internacional.

O governo usa essa ferramenta de repressão estatal para garantir a segurança dos líderes genocidas e suas equipes. Alertamos os movimentos sociais de que, inclusive, eles podem usar essa medida para tentar intimidar e impor a não-realização de qualquer ato de protesto no Rio de Janeiro.

“G 20 Social”: uma farsa a serviço da contenção dos movimentos

Mas, o governo também está atuando para tentar controlar os movimentos sociais. Para tal, Lula criou um engodo chamado “G20 Social”, no qual estão importantes organizações sociais do país. Dizendo ser um espaço para debater temas sociais para o G20, o evento se reunirá de 14 a 16 de novembro e busca controlar os movimentos sociais, a fim de evitar protestos na cidade. Não existe um “G20 Social” e nunca existiu, em nenhuma das edições do G20.

No “G20 Social” serão realizadas oficinas e os movimentos sociais irão enviar uma carta com “recomendações” aos governos reunidos no verdadeiro G20. Não precisa ser nenhum militante com muita formação para saber que Biden (EUA), Macron (França) ou Olaf Scholz (Alemanha) nem sequer vão olhar essa carta.

O imperialismo está pouco se lixando pros movimentos sociais. Não existe “imperialismo social”. Imperialismo é sinônimo de exploração, pilhagem e guerras. Portanto, Lula, quando cria o “G20 Social”, está na verdade tentando cooptar os movimentos sociais para uma armadilha imperialista de pacificação das lutas sociais no mundo.

O mais vergonhoso, contudo, é como a maioria das organizações sindicais e sociais se incorporaram a esse engodo. O tal “G20 Social” contará com a participação de todas as centrais sindicais, com exceção da CSP-Conlutas, e grande parte das organizações dos movimentos sociais que são atrelados ao governo, política ou economicamente, através de verbas públicas destinadas às ONGs ou aos projetos sociais.

 

View this post on Instagram

 

A post shared by PSTU Rio de Janeiro (@psturj)

PSTU estará presente

Esquerda rompe com Cúpula dos Povos para proteger governo e os imperialistas do G20

O destaque nessa polêmica é para a postura da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento Sem-Terra (MST), que estavam na construção da Cúpula dos Povos Frente ao G20 e romperam com este processo quando o governo sinalizou que não queria qualquer tipo de protesto contra o G20.

Durante algumas reuniões de preparação da Cúpula dos Povos Frente ao G20, já foi percebido o interesse dessas organizações, e de algumas outras que apoiam o governo, em sempre tentar transformar a Cúpula dos Povos, que tradicionalmente é um espaço de crítica e oposição ao imperialismo, em um espaço de “colaboração” com a pauta que o governo apresenta ao G20: combate à fome, desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental) e a reforma da governança global.

“Marcha dos povos” levará luta contra o anti-imperialismo para as ruas

Mesmo com alguns boicotes e a ruptura destas organizações, a Cúpula dos Povos Frente ao G20 terá uma agenda de debates na quinta-feira, a partir das 14h, no Plenário da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio, e a manifestação, às 8h, em Copacabana, no Posto 6, com chamado “Marcha dos Povos: Palestina Livre, do Rio ao Mar: Fora Imperialismo!”.

A luta anti-imperialista não é um fenômeno do passado, mas um desafio constante e atual para a esquerda latino-americana e brasileira, que deve continuar a buscar caminhos para garantir a verdadeira autonomia e soberania da classe trabalhadora frente às pressões do imperialismo.

Por isso mesmo, a militância do PSTU estará presente na Cúpula dos Povos e nas ruas do Rio de Janeiro, para protestar contra o G20 e a presença dos genocidas e seus cúmplices em nosso território!

A história da luta anti-imperialista na América Latina

A luta anti-imperialista tem suas raízes em uma história de colonização, escravidão, genocídio de povos originários e exploração, que remonta ao período colonial, contra os colonizadores espanhóis e portugueses.

No entanto, a resistência, especialmente no século 19 e nas primeiras décadas do século 20, se consolidou como uma força política central, com o surgimento de movimentos nacionalistas, socialistas e anti-imperialistas, em resposta à dominação das potências europeias e, posteriormente, aos Estados Unidos.

As décadas de 1960 e 1970, com a repressão das ditaduras militares nos países latino americanos, que contaram com o apoio e patrocínio dos Estados Unidos, mostraram a intensidade da resistência, mas também o custo humano da luta contra os interesses imperialistas na região.

Desde a chegada de Cristóvão Colombo até os dias de hoje, a luta anti-imperialista no nosso continente é marcada por sangue e bravura dos povos originários, de africanos escravizados, de pobres imigrantes e da classe operária. Na América Latina é impossível ser socialista sem ser anti-imperialista!

Adaptação

Esquerda lulista abandonou a luta anti-imperialista

Nos últimos anos, a esquerda brasileira tem vivido um forte processo de adaptação, a partir do atrelamento da sua política à lógica eleitoral e governamental. A chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder significou um abandono da histórica bandeira da luta contra o imperialismo. Hoje, a luta anti-imperialista continua a ser um pilar central somente para uma parte da esquerda.

Durante os governos Lula e Dilma, se aprofundaram ainda mais as alianças com países como os Estados Unidos e o estreitamento das relações com o mercado financeiro internacional. Ao mesmo tempo, questões internas, como o fortalecimento da indústria nacional e a defesa da soberania energética, passaram a ser tratadas de maneira subordinada aos interesses do grande capital internacional, especialmente com a implementação de projetos que envolviam a exploração de recursos naturais em parceria com multinacionais.

Em síntese, os governos do PT são responsáveis pelo aprofundamento da alocação do Brasil, transformado em um mero exportador de “commodities”, não só de produtos agropecuários como também de petróleo.

É preciso romper com a conciliação de classe e consequente subordinação ao imperialismo

Protesto contra o G20 na Alemanha

Na prática, o governo petista, e, por extensão, a esquerda brasileira que o apoia, adotam uma estratégia de conciliação de classes que dilui as tensões anti-imperialistas em nome de um desenvolvimento pautado pelo mercado globalizado.

Em vez de avançar para uma real desconexão dos mecanismos de dependência imperialista, o governo Lula e parte da esquerda apostaram na integração ao sistema financeiro internacional, mantendo o Brasil como um mero exportador para as grandes potências econômicas.

Em um cenário global onde o imperialismo continua a ser uma força hegemônica, que pressiona e molda os rumos das nações periféricas, é inaceitável o alinhamento da esquerda com um governo que, embora tente passar ares de progressista em muitos aspectos sociais, se coloca como parte do sistema global de dominância econômica.

O PT, ao se aproximar de potências econômicas e financiar grandes projetos globais, não questionou de forma incisiva as estruturas de poder que garantem a exploração dos países mais pobres, incluindo o Brasil.

O apoio irrestrito ao governo Lula por parte da esquerda brasileira contribuiu para o afastamento de uma crítica contundente ao imperialismo. Com a priorização das questões internas e sociais, a esquerda foi absorvida por uma política de conciliação de classes que se subordina aos interesses do capital internacional.

A reconquista de uma agenda verdadeiramente anti-imperialista, que inclua tanto o avanço das pautas e lutas sociais quanto a afirmação da soberania nacional, é essencial para reorientar a esquerda no Brasil e dar novo sentido à sua luta no século 21.