Internacional

No aniversário da Nakba, o enfraquecimento dos inimigos da Palestina alimenta o sonho de libertação

Fábio Bosco, de São Paulo (SP)

16 de maio de 2024
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Ato contra o genocídio na Palestina nos 76 anos da Nakba, em SP Foto Maísa Mendes

Este 15 de maio marca o 76º aniversário da Nakba, a catástrofe palestina que se seguiu à formação do Estado racista de Israel, em 1948, e se estende até os dias de hoje. Foi naquele ano que cerca de 800 mil palestinos e palestinas foram expulsos de seus lares e cerca de 500 cidades e aldeias foram destruídas.

Este mês, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que, somente nos últimos dias, 500 mil palestinos foram expulsos da cidade de Rafah e do norte de Gaza, empurrados pela genocida ação militar do exército israelense. 

Os bombardeios seguem em toda a faixa de Gaza, onde mais de 70% das edificações foram destruídas, incluindo escolas e hospitais. O número de mortos palestinos em Gaza ultrapassa 35 mil; além de dez mil corpos que se encontram sob os escombros das casas e edifícios destruídos. Além desses, outros 1.500 palestinos e palestinas foram assassinados na Cisjordânia, por Israel e seus colonos fascistas.

O genocídio em Gaza provocou a maior onda de solidariedade internacional com a Palestina que se tem notícia. Devido à resistência palestina, liderada pelo Hamas, e à solidariedade internacional, os inimigos da causa palestina se enfraqueceram e estão apresentando divisões entre si, o que alimenta a esperança palestina por justiça e liberdade.

Repúdio ao genocídio alimenta crises no governo sionista

O primeiro-ministro genocida Benjamin Netanyahu é repudiado pela maioria da população judia israelense, que o vê como o principal responsável pela ação da resistência palestina, em 7 de outubro de 2023. 

Nesse ataque, 1.154 israelenses e estrangeiros foram mortos, parte deles pelos cerca de 1.200 combatentes da resistência palestina, outra parcela pelas próprias forças israelenses. Além desses, cerca de 200 palestinos perderam suas vidas. 253 israelenses foram presos e levados para Gaza para forçar a libertação dos cerca de 10 mil presos políticos palestinos. Desses, cerca de 136 israelenses continuam presos em Gaza.

O repúdio a Netanyahu pôde ser visto no dia sionista da memória, 13 de maio, quando ministros de seu governo foram vaiados e xingados em diferentes cidades israelenses. Cresce o apoio entre os judeus israelenses para as negociações com o Hamas para a libertação dos presos, o que implica em cessar-fogo. Temendo pela sua queda, Netanyahu se recusa a parar o genocídio, mesmo que isto leve à morte de todos os israelenses presos em Gaza. 

A divisão entre os assassinos sionistas se expressou na oposição do Ministro da Defesa, o criminoso genocida Yoav Gallant, a manter a ocupação militar de Gaza após o fim do genocídio. Os ministros da extrema-direita nazi-sionista exigiram a demissão de Gallant, o que alimenta a crise interna.

Mesmo em crise, imperialismo mantém seu apoio a Israel

Essa crise se estende ao imperialismo estadunidense. A onda de mobilizações estudantis nas universidades encurralou o governo Biden, que teme perder as eleições, particularmente no estado de Michigan, onde se concentra uma importante comunidade de origem árabe. 

Por isso, Biden aumentou a pressão sobre Netanyahu para um cessar-fogo temporário, que abra espaço para a formação de uma grande aliança, no Oriente Médio, entre Israel, a Arábia Saudita e outros países árabes, contra o Irã. 

Apesar das críticas, Biden mantém o envio de armas para Israel e continua protegendo o Estado sionista nos organismos internacionais, como no Conselho de Segurança da ONU, na Corte Internacional de Justiça e no Tribunal Penal Internacional, que há muito já deveriam ter anunciado medidas contra o Estado de Israel e seus representantes, por crimes de genocídio.

Os regimes árabes também estão sendo questionados por sua população; seja pela omissão no apoio concreto aos palestinos, seja pela normalização de relações com o Estado genocida de Israel.

Por fim, a Autoridade Palestina (AP) está totalmente desprestigiada perante os palestinos, que majoritariamente desejam a sua dissolução. Para além da cooperação em “serviços de segurança” com Israel, o responsável pelo Serviço de Inteligência da AP, Masjid Faraj, foi denunciado pelo jornalista David Hearst (da mídia pró-palestina “Middle East Eye”) por ter enviado informantes para Gaza, para coleta de informações no Hospital Al-Shifa e em Rafah, que seriam posteriormente enviadas para Israel.

Neste cenário, mais do que nunca, se necessário fortalecer as ações de solidariedade com o povo palestinos nas ruas, nas escolas e nos locais de trabalho em todo o mundo, rumo a uma Palestina livre, do rio ao mar.

História

Setenta e seis anos de contínua Nakba, a catástrofe palestina

Soraya Misleh, de São Paulo (SP)

O dia 15 de maio marca a Nakba, a catástrofe palestina, cuja pedra fundamental é a formação, nesta data, em 1948, do Estado racista e colonial de Israel. Em sua nova fase, Israel está executando um genocídio em Gaza, que já se estende por mais de sete meses, e tem avançado na limpeza étnica na Cisjordânia e nos territórios palestinos ocupados militarmente, em 1967. 

Em síntese, o sionismo está em busca de sua “solução final”, contando com a cumplicidade internacional histórica e com bilhões de dólares e armas fornecidos pelo imperialismo estadunidense, para manter seu enclave na região, com o apoio dos imperialismos europeus.

Nos 76 anos da Nakba, são milhares e milhares de vidas palestinas perdidas. Somente no genocídio em Gaza, em seu sétimo mês, mais de 35 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças, já foram martirizados pelas forças de ocupação israelenses. 

Além disso, na Cisjordânia, já são cerca de 1.500 assassinados. O número de presos políticos nos odiosos cárceres sionistas mais que dobrou. E neles, como desde sempre, as torturas são inomináveis, incluindo estupros de meninas e mulheres.

Décadas de apartheid, limpeza étnica e fragmentação

Na Nakba de 1948, em apenas seis meses, as gangues paramilitares sionistas, fortemente armadas pela União Soviética, na época sob o domínio de Stalin, expulsaram violentamente 800 mil palestinos de suas terras e destruíram mais de 500 aldeias. Algo como 20 mil pessoas foram assassinadas em genocídios praticados em dezenas de vilarejos que serviram como “veículos de propaganda” para a limpeza étnica.

Na contínua Nakba, a sociedade palestina segue fragmentada. Hoje, são 13 milhões de palestinos, metade em campos de refugiados ou em diásporas forçadas, impedidos do legítimo direito de retorno. A outra metade – em áreas ocupadas em 1948 ou em 1967 – enfrenta racismo institucionalizado, apartheid, contínua colonização, limpeza étnica e, agora, o genocídio em Gaza.

Resistir não é uma escolha para o povo palestino. É existir. E, mesmo assim, sob a constante ameaça de apagamento. A morte segue à espreita desde o nascimento. E Israel tem assassinado de diversas formas: de fome, de sede, pelas balas e bombas genocidas ou por falta de tratamento médico. 

Intensificar a solidariedade e exigir que Lula rompa relações com Israel

Lamentavelmente essa lista (que já não parava de crescer) deu um salto nos últimos sete meses que derrubaram a máscara do regime sionista perante o mundo, apesar de toda a propaganda e da criação de “narrativas” mentirosas. E, agora, a crise interna se espraia para o coração do imperialismo, os Estados Unidos.

A pedra fundamental da Nakba – em 15 de maio de 1948 – está na raiz da questão. Por isso, não podemos parar de fazer ecoar as vozes palestinas, denunciando os crimes contra a humanidade ao qual palestinos e palestinas seguem submetidos há 76 anos. 

E, para além disto, desde o Brasil, é preciso exigir de Lula a ruptura imediata de relações econômicas, militares e diplomáticas com o Estado genocida de Israel. Isso está na pauta deste 15 de maio, ao lado da exigência do imediato cessar-fogo já e do fim do genocídio em Gaza, rumo à Palestina livre, do rio ao mar!

Essa é uma tarefa para todos e todas nós. Abraçar a resistência palestina e cercar seu povo de solidariedade internacional efetiva e concreta é questão de vida ou morte.

Acampamento na USP

Brasil se integra à onda estudantil de internacional de solidariedade

Estudantes e ativistas palestinos acampam na USP contra genocídio

No dia 7 de maio, estudantes da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram um acampamento em solidariedade à Palestina, no edifício dos departamentos de História e Geografia, exigindo a ruptura do convênio entre a USP e a Universidade de Haifa, que seria discutido na reunião da congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), no dia 9 de maio.

Frente ao protesto, as autoridades universitárias adiaram a discussão do convênio para o dia 23 de maio. Além da ruptura de convênio, o protesto cobrou o presidente Lula pela ruptura de relações econômicas e diplomáticas com o Estado genocida de Israel.

O acampamento foi noticiado pela mídia nacional e internacional e impulsionou o debate dentre estudantes de outras universidades sobre a necessidade de solidariedade com a Palestina. Em meio ao acampamento, participantes também expressaram sua solidariedade com as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

Agora, os estudantes discutem como ampliar a solidariedade com a Palestina e a pressão pela ruptura do convênio com os sionistas.

“Já fizemos um abaixo-assinado que conta com duas mil assinaturas na universidade, e a próxima ação vai ser a promoção de um plebiscito em todas as unidades da universidade, somado a ações locais, como faremos na FFLCH onde defenderemos o fim dos convênios com a Universidade de Haifa, na próxima reunião da Comissão de Técnicos Administrativos da instituição”, explica João Vitor, estudante de letras da USP e do coletivo Rebeldia.