Meio ambiente

PA: Ribeirinhos denunciam extração ilegal do seixo em Moju e sofrem ameaças de morte

Assunto foi destaque no portal 'Intercept Brasil' e a CSP-Conlutas Pará está acompanhando o caso

Roberto Aguiar, da redação

25 de maio de 2024
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Fiscalização no rio Moju apreende draga e embarcação | Foto: Agência Pará

Seixo é o nome dado para pedras encontradas na natureza, que estão, frequentemente, dentro dos rios. Elas são características pelo formato arredondado, superfície lisa e de cores que variam entre branco, acinzentado e amarronzado. São usadas em obras da construção civil e em decoração. As embarcações extraem do fundo do Rio toneladas, uma balsa chega a extrair 450 toneladas que é vendida a R$300,00, percebendo R$135 mil reais por embarcação.

Na cidade do Moju, no Nordeste Paraense, o seixo vem sendo extraído de forma ilegal e criminosa há 30 anos. Essa ação vem destruindo os rios e deixando as comunidades sem acesso à agua potável. Os ribeirinhos começaram a lutar e denunciar esse crime, mas órgãos competentes não deram atenção e a imprensa local, como a TV Liberal (afiliada Rede Globo), Record, RBA ficaram em silêncio, já que a ação ilegal e criminosa envolve os políticos da região, que integram o MDB, partido do atual governador Hélder Barbalho.

A violência contra os ribeirinhos aumentou no último período, principalmente com a chegada de um pistoleiro conhecido como John da Soledade, cujo nome verdadeiro é um mistério.

Os ribeirinhos denunciam que quem levou John da Soledade à região foi a prefeita de Moju, Nilma Lima (MDB). O contato teria sido intermediado pelo prefeito do município vizinho de Tailândia, Paulo Liberte Jasper, o Macarrão, também do MDB e amigo de Soledade, conforme apontaram testemunhas à reportagem do Intercept Brasil.

Soledade chegou ao território, conhecido como Limoeiro, contratado para fazer um trabalho de milícia para resolver casos de furtos e agressões que vinham acontecendo em casas ribeirinhas. Mas depois de um tempo os políticos perderam o controle do homem, relataram o morador.

“Soledade passou a invadir as casas da comunidade, aparecendo sem ser convidado e andando sempre com um rifle no ombro, de grosso calibre, e alguns revólveres em uma mochila”, diz a reportagem. As testemunhas dizem que John Soledade garantiu que a extração de seixo não irá parar.

Milícia oferece R$20 mil pela cabeça do ribeirinho Claudileno Castro

R$20 mil pela cabeça do ribeirinho Claudileno da Costa Castro

Claudileno da Costa Castro, 36 anos, após o assassinato do presidente da associação local que denunciou a extração ilegal e até então não foi esclarecido, se tornou um dos principais denunciantes da extração ilegal de seixo no rio Moju, que corta sua cidade. Ele nasceu e cresceu às margens do rio. Trabalha desde cedo com a pesca e a agricultura familiar, plantando açaí, mandioca.

Hoje Claudileno está longe da sua casa, da sua comunidade e de seus familiares. Está escondido, com a cabeça a prêmio. Ele pediu ajuda à CSP-Conlutas Pará, que tem acompanhado essa situação de perto.

Claudileno e outros ribeirinhos estão ameaçado de morte pelo pistoleiro John da Soledade. R$20 mil é o valor estipulado para a milícia local matar Claudileno.

“Venho fazendo essas denúncias há seis ou setes anos. Venho lutando contra isso. Ele pagaram R$20 mil para me eliminar”, disse Claudileno em áudio enviado ao Opinião Socialista.

Claudileno comentou sobre a repercussão da matéria do Intercept Brasil: “Depois que a matéria foi publicada, tivemos uma mudança grande na ação dos órgãos do Estado. Já tínhamos feito várias denúncias nas secretarias do Meio Ambiente do município e do Estado, no Ibama, no Ministério Público e ninguém toma providência. Agora a polícia tá no município fazendo apreensões de barcos e máquinas”.

E, completou: “A comunidade está feliz e ao mesmo tempo com receio pois o pistoleiro segue solto, agindo na reunião e já disse que custe o que custar vai pegar as pessoas que são linha de frente, no caso seria eu e mais três pessoas. Ele diz que estamos na lista dele”.

Ele disse que vai seguir com as cobranças até acabar com a extração ilegal do seixo, que impede o acesso da comunidade à água, que fica turva, barrenta e contaminada com diesel. Pois o rio é fonte de abastecimento e de produção e reprodução de suas vidas, pois são pescadores e a extração está acabando com a pesca.

CSP-Conlutas Pará

A CSP-Conlutas Pará tem acompanhado de perto essa luta e prestado apoio aos ribeiros. “Sou muito agradecido ao suporte que temos recebido da CSP-Conlutas. Até agora só a CSP-Conlutas mostrou compromisso e apoio à nossa luta”, ressaltou Claudileno.

Rosi Pantoja, da executiva estadual da CSP-Conlutas Pará e militante do PSTU, informou que a Central esteve presente na comunidade. “A CSP-Conlutas apoia à luta dos ribeirinhos do Moju. Estamos ao lado deles nessa luta. Já reunimos com alguns membros da comunidade, muitos estão com medo da violência e com a atuação das milícias, mas sabem da importância e da necessidade de resistir e defender a comunidade”, disse Rosi.

“Vamos seguir dando apoio e seguir ao lado deles nessa luta. Esse processo apenas começou, mas foi preciso que a imprensa de fora do Pará desse atenção e voz aos ribeirinhos, porque todos aqui têm rabo preso com os comandantes dessas ações. Depois da reportagem do Intercept Brasil a imprensa local começou a noticiar, os órgãos governamentais começaram a tomar ações para combater a extração ilegal. Mas isso não pode parar, tem que continuar. Vamos seguir acompanhando essa luta”, finalizou a representante da CSP-Conlutas Pará.

O Opinião Socialista também estará acompanhando de perto e apoiando a luta dos ribeirinhos de Moju.

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