Toda a solidariedade a Illan Pappé, detido e intimidado nos EUA por suas denúncias ao Estado de Israel
Na última segunda-feira, o historiador israelense Ilan Pappé (atualmente radicado na Grã-Bretanha) foi detido pelo Departamento de Segurança dos EUA no aeroporto de Detroit. Os agentes o interrogaram e confiscaram seu celular por duas horas, e depois o liberaram
Publicado originalmente no Portal da LIT-QI
Pappé nasceu em Haifa (atual Estado de Israel), em 1954, em uma família de imigrantes judeus alemães. Depois de concluir seus estudos, foi nomeado Professor de Ciências Políticas na Universidade de Haifa. Lá, começou um intenso trabalho de historiador, sobre a história do território palestino, do povo judeu, do sionismo e da criação do Estado de Israel.
Ele expôs o resultado de suas pesquisas em numerosos livros como The Ethnic Cleansing of Palestine, The Modern Middle East, A History of Modern Palestine: One Land, Two Peoples e Ten Myths about Israel, que alcançaram difusão internacional.
As conclusões de Pappé eram muito incômodas para o sionismo. Por um lado, refutavam seus mitos sobre a história do povo judeu, por outro lado, essencialmente, porque ele dizia com total nitidez que Israel era um Estado criado artificialmente com base na violenta expulsão de uma parte significativa do povo palestino de seu território histórico (através da Nakba), e da perseguição e repressão daqueles que permaneceram lá.
Assim, concluiu que os palestinos expulsos de suas terras tinham o direito de retornar à sua pátria, unir-se aos que permaneceram lá e que não haveria nenhuma solução possível enquanto subsistisse o atual Estado sionista de Israel. Ele desenvolveu sua proposta para um futuro Estado palestino em um livro recente que escreveu junto com o professor e historiador palestino Ramzy Baroud.
Coerente com suas ideias e convicções, Pappé começou a desenvolver uma luta no campo das ideias contra o sionismo e a expressar sua solidariedade com a luta do povo palestino. Transformou-se, assim, no principal expoente de uma pequena minoria de judeus israelenses antissionistas.
Como punição, em 2007 foi destituído de seu cargo de professor na Universidade de Haifa e, de fato, obrigado a abandonar Israel. Emigrou para a Grã-Bretanha e, desde 2008, é Professor de História na Universidade de Exeter. De lá, continuou a difusão de seus trabalhos e realizou viagens a vários países para dar conferências, inclusive nos EUA.
Em 2017, viajou ao Brasil para a apresentação da edição em português de seu livro A Limpeza Étnica da Palestina, realizado pela Editora Sundermann. No marco das várias atividades que se realizaram em São Paulo, militantes da LIT-QI e do PSTU brasileiro (como a ativista palestino-brasileira Sorayah Misleh) tivemos a oportunidade de compartilhar algumas conversas com ele. Nelas, além dos muitos acordos que temos com suas posições, conhecemos um ser humano muito amável e de profundas convicções.
Ao difundir e denunciar por várias redes sua detenção, Pappé disse que era uma “reação de puro pânico e desespero ante o fato de que Israel se torne muito em breve um Estado pária, com todas as implicações de tal status”.
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A ocupação com métodos genocidas da Faixa de Gaza por parte do exército israelense mostrou ao mundo, de modo bastante evidente, a essência do Estado de Israel e a continuidade da Nakba palestina. Esta nova agressão gerou uma forte onda de grandes mobilizações em todo o mundo, repudiando o sionismo e em solidariedade e apoio ao povo palestino.
Como parte desse processo, milhares de jovens estudantes de países imperialistas que apoiam “incondicionalmente” Israel (como EUA, França e Grã-Bretanha) tomaram vários centros universitários e estabeleceram acampamentos em repúdio à política de seus governos.
Diante disso, o governo “democrata” de Joe Biden deu uma resposta repressiva. Por um lado, reprimiu os estudantes (tal como ocorria com o governo de Nixon na época dos protestos contra a guerra do Vietnã). Por outro, apresentou no Congresso uma lei que estabelece que todo repúdio público a Israel será considerado “antissemitismo” e, portanto, um delito. O governo de Biden adota assim a falácia dos sionistas de que toda e qualquer crítica a Israel e suas ações é igual ao antissemitismo de quando o povo judeu era perseguido na Europa.
A detenção de Ilan Pappé em Detroit (leia seu relato aqui) é parte desse giro repressivo do governo Biden. Desde a LIT-QI, repudiamos este fato e expressamos nossa mais profunda solidariedade com ele.
Editora Sundermann
Você pode adquirir a obra “A limpeza étnica da Palestina”, de Pappé, no site da Editora Sundermann