Lutas

Trabalhadores na Toyota de Indaiatuba suspendem temporariamente a greve, mas seguem em luta

Medida foi uma resposta à manobra feita pela empresa no último final de semana. Greve pode ser retomada nos próximos dias

Frodo, de Indaiatuba-SP

27 de abril de 2024
star5 (5 avaliações)
Planta da Toyota em Indaiatuba Foto Divulgação

Após o início da greve na Toyota de Indaiatuba no último dia 10 de abril, quarta-feira, a empresa seguiu fazendo ataques. Seu principal objetivo era o de gerar divisão entre os grevistas e desgaste deles com o sindicato.

O primeiro foi o cancelamento de reunião que estava marcada com o sindicato para o domingo, dia 14. Em comunicado enviado às operárias e aos operários da fábrica na sexta-feira, dia 12, o RH buscou culpar o sindicato por isso, como se a deflagração da greve fosse uma atitude unilateral da entidade, e não uma aprovação em assembleia.

O segundo ataque foi que, no final de semana, a empresa conseguiu remover equipamentos da fábrica de Indaiatuba e levar para Sorocaba. Esses equipamentos são utilizados para a fabricação de peças para as duas plantas, o que faria com que a de Sorocaba tivesse a produção interrompida devido à paralisação em Indaiatuba.

O estudo para essa remoção já estava em andamento e o prazo para fazê-la era contado em alguns dias. Porém, o início da greve motivou a empresa a acelerar a movimentação, realizada em menos de 40 horas. Já na segunda-feira, dia 15, ela enviou novo comunicado às trabalhadoras e aos trabalhadores informando do feito, mais uma vez no intuito de desmoralizar a greve.

Só que não conseguiram. A greve, que vinha com 100% de adesão sem a necessidade de piquete para bloquear a entrada da fábrica, não se abalou. Pelo contrário: o sentimento de raiva diante de tantos ataques apenas aumenta.

A suspensão da greve

A produção das peças em Sorocaba por um lado diminui a pressão sobre a empresa, mas enquanto esses equipamentos não são montados, a fabricação dos carros fica parada também em Indaiatuba. Com isso foi aprovada em assembleia na terça-feira, dia 16, a suspensão da greve.

Ao entrar para trabalhar, as metalúrgicas e os metalúrgicos receberam novo comunicado da empresa, concedendo licença remunerada até o final da semana, uma vez que faltariam peças. Licença que depois foi renovada por mais uma semana.

Assim, as linhas de Indaiatuba e Sorocaba (e também na cidade de Porto Feliz, onde a Toyota possui sua fábrica de motores) seguem paradas, mas agora por conta da empresa.

Toyota admite sua prática antissindical

No mesmo comunicado, a empresa afirmou que o cancelamento da reunião de domingo, bem como a remoção dos equipamentos, foi devido à greve. Disse explicitamente que não negocia com greve!

As leis em geral estão a serviço da manutenção do capitalismo, mas há aquelas que garantem alguns direitos para a classe trabalhadora, e por isso devem ser defendidas.

Neste caso a multinacional japonesa desrespeita o direito à greve, mostrando que os patrões são capazes de qualquer coisa para tentar derrotar as lutas da classe trabalhadora.

Audiência e negociação

Não satisfeita com essas medidas, a Toyota acionou a justiça do trabalho para tentar determinar a ilegalidade da greve e o julgamento da mesma. O juiz não acatou o pedido de ilegalidade e marcou uma primeira audiência de conciliação, ocorrida na quinta-feira, dia 18.

Fruto da audiência foi a retomada das negociações, as quais haviam sido encerradas unilateralmente pela empresa. Foi determinado que se marcasse um calendário de reuniões entre sindicato e empresa, no mínimo semanal, com a primeira data sendo esta sexta-feira, dia 19.

Nesta primeira reunião apenas se organizou o debate em torno dos itens da pauta de reivindicações. Foi visto quais deles ainda não tinham contraproposta da empresa, quais já tinha acordo e quais os que ainda não tinha.

Liminar e continuidade da luta

A prática antissindical da Toyota motivou o sindicato a buscar uma liminar na justiça para evitar a retirada de outros equipamentos. A liminar foi concedida, houve a visita de oficiais de justiça na planta, acompanhados por representantes do sindicato e da empresa.

Apesar de alguma resistência da multinacional, a visita comprovou a retirada dos equipamentos e fez um levantamento dos ainda presentes na fábrica. Caso a empresa repita essa movimentação estará sujeita a multa de R$ 500mil. É uma importante medida, mas que, para eles, é financeiramente irrisório: 10 minutos de produção pagam este valor. Literalmente.

Logo após a visita houve a segunda reunião de negociação, na qual a Toyota seguiu com a linha de praticamente não ceder. Como em toda greve, não se trata apenas de uma disputa econômica. Greves colocam diretamente a questão do poder: quem é que manda?

Dois dias depois se conseguiu grande repercussão para a situação, inclusive na grande imprensa. A exposição pública do nome da montadora é algo que a incomoda, dando mais confiança às operárias e aos operários e pode dar força para a luta.

Nesta segunda feira, dia 29, é o retorno da licença remunerada. O sindicato estará presente na entrada dos turnos para fazer assembleias, conversando com todas e todos sobre as duas últimas semanas e a continuidade da luta.

A unidade entre as trabalhadoras e os trabalhadores segue forte e a disposição de luta também. Esse é o segredo para conseguir uma vitória ao final desse processo e nós do PSTU estamos juntos na batalha!

Todo apoio à luta! Toyota: atenda às reivindicações!