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Editorial: Tirar dinheiro e o poder dos bilionários capitalistas

Redação

4 de abril de 2024
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Jorge Paulo Lemann ( dono de R$ 82 bilhões), Marcel Hermann (R$54,2 bi) e Carlos Sicupira (R$ 44,5 bi)

A revista “Forbes” divulgou a lista dos brasileiros mais ricos do país, aqueles com patrimônio mínimo de 1 bilhão de dólares (aproximadamente R$ 5 bilhões). São apenas 69 pessoas, cujas fortunas combinadas somam R$ 596 bilhões. Só para se ter uma ideia do que isso significa, se esses bilionários resolvessem gastar um salário mínimo por hora, demorariam 698 anos para torrar toda essa fortuna. É um dinheiro equivalente a três vezes e meio dos gastos com o Bolsa Família, que alcança 21 milhões de famílias.

Os defensores desse sistema tentam justificar essa concentração por uma questão de “mérito”. Dizem que esses burgueses “trabalharam” muito para construir suas fortunas. Mas, será assim mesmo?

Dinheiro acumulado por parasitas através da exploração e falcatruas

A pessoa mais jovem da lista é brasileira, Lívia Voigt, de 19 anos. Origem do seu patrimônio? Herdeira dos donos da WEG, indústria de motores e peças. Destruindo o mito da meritocracia e da justiça social promovida pelo capitalismo, é como se, em média, ela tivesse ganhado R$ 763 mil por dia, sem fazer nada desde que nasceu. Enquanto um operário da fábrica da WEG, trabalhando pesado, ganha, em média, entre R$ 1.900 e R$ 2.500.

Mas seria uma exceção? Vejamos o primeiro da lista, Eduardo Saverin, com R$ 140 bilhões, um dos criadores do Facebook. Filho e herdeiro de ricos empresários, ele estudava em Harvard, cuja mensalidade custa 50 mil dólares (cerca de R$ 254 mil), e investiu do próprio bolso na empresa, que, hoje, lucra vendendo dados pessoais. Ou seja, no capitalismo, não basta ter uma ideia e trabalhar duro. Para “vencer”, você precisa ter uma carteira bem recheada, além de indicações e privilégios.

Mais abaixo na lista, estão os “três porquinhos” da espoliação e exploração capitalista: Jorge Paulo Lemann (R$ 82 bilhões), Marcel Hermann (R$54,2 bi) e Carlos Sicupira (R$ 44,5 bi). Os golpistas que ficaram mais ricos dilapidando as Lojas Americanas. Mas, não só. São donos de várias marcas e indústrias, como Burger King e a Kraft Heinz, e participaram da privatização da Eletrobras. Mas seu principal negócio é a Ambev, que, além de destruir a cerveja brasileira, aumentou o preço e pagam míseros salários, de R$ 2 a R$ 3 mil, a seus operários.

Para ter um retrato ainda mais fiel da burguesia brasileira, basta percorrer a lista da Forbes até o final. Lá estão os setores da mineração, de energia e da agropecuária, além do varejo, da saúde e todos os demais. Mas, esses exemplos já fazem saltar aos olhos o real problema do Brasil que é o domínio desses bilionários capitalistas sobre a economia, a sociedade e a política brasileira.

Lula governa com e para os bilionários

Longe de enfrentar estes setores, o governo Lula, na verdade, vem fazendo tudo o que eles querem. Além de garantir os lucros desses burgueses brasileiros, ainda escancara o país para o domínio das multinacionais imperialistas. Inclusive, os bilionários capitalistas brasileiros são associados à burguesia imperialista, que lidera a lista dos bilionários no mundo, com fortunas que beiram um trilhão de reais, como Elon Musk, Jeff Bezos e Zuckerberg.

É vergonhoso, por exemplo, que, diante da incapacidade da Enel em garantir o serviço de eletricidade em São Paulo, o governo, ao invés de avançar para a reestatização do setor, proponha apenas “fiscalizar” melhor os serviços privados ou, no máximo, trocar de concessionária. Um detalhe importante: quem controla a Enel é uma multinacional italiana que tem como principal acionista o governo italiano, além de outros burgueses dos países imperialistas.

Um outro escândalo é a venda da Avibras para a Austrália. Uma empresa estratégica, de defesa e tecnologia, financiada pelo Estado por muitos anos e que, diante da crise pela qual passa sob administração privada, está sendo desnacionalizada. O sindicato exige a estatização da Avibras, mas o governo sequer cogita essa possibilidade. Em qualquer país do mundo, setores estratégicos não são desnacionalizados. Aqui, no Brasil, é o contrário. Todo o parque elétrico está na mão de multinacionais europeias, dos Estados Unidos ou da China.

Enfrentar os bilionários para mudar o país

A situação de violência e caos urbano nas cidades; a falta de emprego ou salários miseráveis; a Saúde caindo aos pedaços e a Educação sem verbas, com os professores sem piso ou salários; a falta de saneamento básico na maior parte do país são exemplos de questões que não são resolvidas pela falta de recursos públicos.

Dizem que não há dinheiro porque seguem uma política de ajuste fiscal que significa a manutenção da transferência de recursos públicos para a dívida pública. Esses mesmos bilionários não só não investem no país, como também preferem seguir lucrando, parasitando a economia nacional, num capitalismo explorador e sem riscos, baseado na remuneração exorbitante dos juros, através de títulos da dívida pública.

É preciso, ao mesmo tempo, tirar o dinheiro e poder desses bilionários capitalistas brasileiros e internacionais. Estatizar essas grandes empresas. Colocar essas empresas e riquezas sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras, para gerar um verdadeiro desenvolvimento social e econômico que possibilite a resolução dos problemas sociais que afligem nosso povo.

Sem tirar dinheiro dos bilionários isso não é possível. Sem enfrentá-los, isso é ilusão. O governo Lula, há muito tempo, já escolheu seu lado. Estão governando com e para este setor. A ultradireita bolsonarista mente quando diz que os problemas econômicos são por conta de um suposto “socialismo” do PT. Como fica evidente nesse governo atual e todos os outros do PT, seus governos operam em defesa do capitalismo e dos bilionários.

Apoiar as lutas e greves que estão ocorrendo na Educação federal, dentre os servidores públicos e em algumas fábricas é fundamental. Precisamos ampliar as lutas, unificá-las, convocar novos setores e fazer crescer a mobilização, para exigirmos nossas reivindicações e que, para satisfazê-las, o governo tire dos bilionários.

Mas, além da luta, precisamos de organização, de um programa e de uma alternativa política dos trabalhadores. Isso significa não apoiar o governo Lula, que é burguês e capitalista; mas, sim, construir uma alternativa socialista e revolucionária, que seja oposição de esquerda ao governo e que, também, enfrente a ultradireita.

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